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Portuguese, Political, 1 season, 101 episodes, 19 hours, 17 minutes
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Nú Barreto no CNAD em Cabo Verde com "DES-OBRA" no Centenário de Amílcar Cabral

O artista plástico guineense, Nú Barreto, radicado em França, realiza pela primeira vez uma exposição individual em Cabo Verde. Intitulada “Des-Obra” a exposição, que se encontra patente na Galeria Bela Duarte, no Centro Nacional de Arte, Artesanato e Design (CNAD), na ilha de São Vicente celebra o legado de Amílcar Cabral, reflecte sobre o seu pensamento e acção revolucionária disse à RFI, na cidade do Mindelo, Nú Barreto. “É uma exposição que é virada para questionar o que nós fizemos com o legado de Cabral. É como se fosse Cabral a interrogar-nos sobre o legado que ele deixou. Talvez Cabral tivesse muita dificuldade, pela sua humildade, em questionar as pessoas sobre o seu legado. Eu achei que deveria pegar no legado de Cabral e questionar a sociedade, o que nós fizemos com o legado de Cabral. Há partes da obra de Amílcar Cabral, ou por boa vontade ou má vontade, em que houve más explicações. E achei que há uma desconstrução da obra de Cabral. Daí é que eu fui, pura e simplesmente, em vez da obra, pela ‘Des-Obra’ de desconstrução. De algo que teremos que lutar para lá chegar, para já temos que perceber quem é Cabral, o que é Cabral em si, para lá chegar. Então, foi por causa desta corrida atrás de desconstrução da obra de Cabral que eu dei o título da minha exposição, "Des-Obra". É verdade que no meu percurso nunca tinha abordado nada sobre o Cabral. Não porque não houve convites, houve convites. Nunca quis relatar Cabral só por um simples desenho, uma simples pintura de retrato de Cabral, porque achei que já são coisas que foram feitas. E desta feita eu acho que não tinha nada a acrescentar nesse sentido. E eu teria que abordar Cabral num outro sentido, numa outra forma. Forma que é muito mais especial, muito mais virada à minha própria linha. Que eu achava que talvez assim, interrogável, seria muito mais interessante. Pelo menos na minha parte”, disse Nú Barreto.O artista guineense afirmou que as suas exposições não precisam de códigos, “entrar nessa exposição ‘Des-Obra’ não exige nenhuma preparação, foi trabalhada para facilitar muito a compreensão. E é muito fácil de perceber. A as pessoas vão compreender dando volta à exposição. E é muitíssimo fácil porque abordei questões que são conhecidas. Questão que o próprio povo, é comum entre os dois povos. Por exemplo quando se diz aqui em Cabo Verde, Cabral Ka Morri (Cabral não Morreu), sabemos do que se trata. Na Guiné, quando dizemos também Cabral Ka Morra, sabemos do que é que falamos. Então, eu fui buscar temáticas. São assim, à volta da sociedade, aquilo que é conhecido. Mas também fui além disso, jogando com esse aspecto que o Cabral defendeu da cor preta e branca. Vê-se ao longo da exposição. Porque trabalhei à volta de duas fotografias só, essa exposição toda. Então, é muito fácil as pessoas encontrarem algo para discutirem. E encontrarem facilmente um instante de repouso, um instante de questionamento. Que eu acho que é muito mais importante, a meu ver, dentro dessa exposição”.Nú Barreto disse que Amílcar Cabral nunca extraiu a cultura na sua própria ideologia. “A cultura sempre teve um lugar bastante importante. E que é mesmo de destaque que ele fez questão. Porque soube perfeitamente que era este o caminho para começar a construir uma nova sociedade com uma outra mentalidade. E aquilo partia-se de cedo, muito cedo. E pronto. Então, sendo assim, Cabral é uma pessoa que navegou com o poético. Dentro desse percurso da minha exposição, há pontos que criam essa lembrança. Só o facto de pegar nesta ideia de Cabral de que a luta é um acto cultural. Entrar dentro de uma exposição no qual abordamos o legado. Eu acho que, de uma ponta à outra, o percurso poético encontra-se também dentro desta leitura. Ou, pelo menos, desta escrita”.De acordo com Nú Barreto, a exposição “Des-Obra” que decorre no âmbito do primeiro centenário de Amílcar Cabral seria também para acontecer na Guiné-Bissau, mas devido a situação política vivida naquele país optou-se somente por Cabo Verde.“Lamento imenso, o nosso percurso não permitiu que esse sonho fosse possível. Fiz tudo o que foi possível para mim.Mas as condições actuais não me permitem apresentar esse trabalho na Guiné. Só sabe o destino, como é que aquele país precisa de voltar a questionar o legado de Cabral para se integrar dentro daquilo. Não havendo capacidades, não há condições para acolher esse projecto na Guiné. Por isso, simplesmente, acabei por decidir que a exposição ficasse aqui em São Vicente. Realmente, estamos numa situação bastante complicada a nível político. E isso, efectivamente, não permitiu que eu me arriscasse a apresentar essa exposição na minha terra. Lamento bastante, mas pronto, vou fazer com as pessoas que estão à altura de perceber. Ou, pelo menos, faço a proposta para que as pessoas que estão interessadas em perceber aquilo que o Cabral ofereceu à sua vida, porque ele ofereceu à sua vida. Foi o sonho dele, conseguiu. E pronto, porque não, também nós tentamos lutar para conseguir os nossos sonhos através de uma ideologia, de uma coisa que já foi feita. O homem fez, agora era só nós seguirmos aquilo”, afirmou o artista plástico guineense.Nú Barreto, que regressa agora a São Vicente, 26 anos depois de ter participado de uma bienal de jovens artistas disse que a “Des-Obra” está ligada a uma segunda exposição colectiva sobre a ideologia de Amílcar Cabral a ser organizada pela arquitecta Paula Nascimento e da historiadora Ângela Coutinho, que é a curadora científica da exposição “Des-Obra”.“O projecto tem duas partes, no qual, quando o Artur Marçal, que é o diretor do CNAD, falou-me sobre a ideia de conciliação desses dois projectos que faziam inteiramente sentido juntarmos para podermos fazer um trabalho sobre o Cabral, porque os dois projectos falam sobre o Cabral. Aceitei logo porque, pronto, fazia sentido integrar o meu projecto no projecto da Ángela Coutinho e da Paula Nascimento. Como dizia também que elas já tinham começado esse projecto há muitos anos. Pronto, assim é que nasceu essa ideia de exposição que começava no dia 12 de setembro, que era a data de aniversário do Cabral, com uma exposição individual minha e depois seguia uma outra exposição colectiva com artistas convidados de Angola, de Cabo Verde, de Guiné, de Moçambique, e que esse projecto teria uma itinerância que nós estamos a trabalhar actualmente, arduamente, que é para ver se alargamos mais a itinerância desse projecto a palcos que merecem ver realmente as abordagens dos artistas sobre a ideologia de Cabral, sobre o pensamento do homem”, disse Nú Barreto.Em entrevista à RFI, a historiadora Ângela Coutinho falou sobre a exposição colectiva sobre a ideologia de Amílcar Cabral que vai acontecer numa das galerias do CNAD e segue depois outros espaços a nível mundial, dizendo que esta junção nasceu de um encontro feliz com o Nú Barreto.“Houve um encontro feliz entre todas as nossas ideias e projectos. Claramente no Barreto, penso que da nossa região aqui da África Ocidental, talvez entre os lusófonos africanos, é o artista plástico mais reconhecido internacionalmente, daí o facto de ele ter-se dedicado a um projeto de exposição individual para assinalar, comemorar o centenário de Amílcar Cabral, foi para nós uma grande alegria e mais valia saber que ele tinha feito esse investimento, e desde logo, como ele explicou, conversámos, acertámos, houve um grande entendimento com as direções do CNAD, anterior e esta, relativamente à filosofia da nossa abordagem, a nossa preocupação, como diz o Nú, é interpelar a sociedade. A interrogação que eu e a Paula Nascimento nós fizemos foi, porque é que ele importa? Para que é que interessa, afinal, Cabral? Hoje, se pensarmos nos jovens cabo-verdianos, por exemplo, eu assumo-me como cabo-verdiana, pedi a nacionalidade, o meu pai é de São Vicente. Vim para cá há 20 anos, estive a trabalhar no ensino superior, na área de História, e pude observar que, de facto, o Estado de Cabo Verde não tem agarrado com todas as mãos a História de Cabo Verde, não é só a de Cabral, ou da luta de libertação, a História. E, por outro lado, há uma grande procura, uma grande reivindicação, por parte dos jovens, em relação a Cabral, porque fala-se de Cabral todos os anos a 20 de Janeiro, e se virmos a televisão, as pessoas dizem sempre o mesmo. Mas, afinal, o que é que ele fez? Falta enquadrar, contextualizar. E, então, este projeto com a Paula Nascimento, que é, neste momento, a curadora de Arte, eu acho, também da África Lusófona, ela é angolana, com a maior projeção.Está encarregue de Bienais de Arte pelo mundo fora, tem prémios nos Estados Unidos, organiza exposições na África do Sul, em França, é responsável pela parte africana da Feira Internacional de Arte Contemporânea ARCOlisboa. É conselheira da Fundação Gulbenkian, quer dizer. Então, eu fui ter com esta pessoa e fui pedir que fizéssemos um projecto ambicioso, que estivesse à altura de Cabral, do prestígio de Cabral, e que pudesse, de facto, sair de Cabo Verde, e com essa ajuda dela, dos contactos que ela tem e do nível de conhecimentos, que pudesse sair daqui, produzindo aqui, para os melhores museus do mundo. Este é o nosso desafio. O facto de termos conseguido, digamos assim, cruzar, combinar o nosso trabalho com o do Nú Barreto, só veio a engrandecer este trabalho. Então, temos uma segunda fase, que será uma exposição colectiva, com artistas convidados, que reflectem estes temas. Em Cabo Verde será César Schofield, Ângelo Lopes, Sónia Vaz Borges, que é da diáspora, temos também artistas de Portugal, Filipa César, Diogo Bento, temos de Angola, Mónica de Miranda, e mais outros artistas da Guiné. Esta será a segunda fase", disse a curadora científica e historiadora, Ângela Coutinho que avançou que a equipa que inclui o artista, Nú Barreto, está a negociar com galerias de vários países que podem receber a exposição colectiva sobre Amílcar Cabral de artistas de alguns países da  CPLP.Por ora encontra-se patente ao público na Galeria Bela Duarte, no Centro Nacional de Arte, Artesanato e Design, no Mindelo, na ilha de São Vicente a exposição “Des-Obra” de Nú Barreto, uma atividade que marca também as comemorações do primeiro centenário de Amílcar Cabral.
9/13/202411 minutes, 42 seconds
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"Não deve haver distinção entre Jogos Olímpicos e Paralímpicos", defende Comité Paralímpico de Macau

Macau participou nos Jogos Paralímpicos com uma atleta no salto em comprimento, Hao Lei Chio. Para esta jovem tem sido uma alegria misturada com nervosismo estar em Paris, com o Comité Paralímpico de Macau a  Na sexta-feira à noite, Hao Lei Chio, uma macaense de 17 anos, abrilhantou a final feminina do salto em comprimento nos Jogos Paralímpicos de Paris 2024, conseguindo a sua melhor marca da temporada saltando 4,17 metros. Hao Lei compete na categotia T20 para ateltas com dificuldades intelectuais.A participação desta jovem, a única atleta que Macau trouxe a estes Jogos Olímpicos é um feito, já que devido à pandemia de covid-19, os treinos pararam e esta região não pode participar de todo nos Jogos de Tóquio.Hao Lei começou a dar nas vistas em termos desportivos desde a escola primária, tendo passado por vários desportos até se dedicar plenamente ao salta em comprimento. A RFI esteve com esta atleta e a sua intérprete ajudou-nos a perceber qual o seu sentimento ao pisar no Stade de France e competir pela primeira vez numa final olímpica."Ela está muito contente de estar aqui, ainda por cima é a primeira participação dela nos Jogos Paralímpicos. Foi muito impactante ver milhares de pessoas no estádio para a ver competir. Claro que ficou um pouco nervosa, mas mais contente do que nervosa. A partir do segundo salto ela já estava muito mais à vontade", explicou-nos a sua intérprete.Para Hao Lei tem sido uma experiência única participar nestes Jogos, tendo já feito amigos de outras nacionalidades e pensa já na sua participação em Los Angeles 2028."Ela tenta ajudar os outros atletas sempre que pode, ajuda-los a resolver problemas. E esta experiência faz com que ela esteja ainda mais motivada para continuar a dar o seu melhor e participar nos próximos Jogos", descreveu.Outra das motivações de Hao Lei é saber que a sua participação pode inspirar outras pessoas com deficiencia a praticarem desporto. Macau, que é internacionalmente denominada como uma Região Administrativa Especial, não participa nos Jogos Olímpicos, mas tem um Comité Paralímpico Internacional e participa há várias décadas nos Jogos Paralímpicos. Por isso, esta região que actualmente é administrada pela China após vários anos de pertença a Portugal, está muito empenhada nesta participação nos Jogos de Paris 2024 como nos explicou o Secretário-Geral do Comité Paralímpico de Macau, Kuai Hong Cheong, em declarações à RFI."Temos muito empenho em participar neste jogos. Por sermos uma região pequena, não temos muitas pessoas com deficiencia, mas trabalhamos em conjunto com o Governo, as escolas e outras entidades para identificarmos potenciais atletas e motiva-los a praticarem desporto. E, assim, ajuda-los a alcançar o sonho paralímpico", disse o responsável pela equipa de Macau.Os anos da pandemia não ajudaram os atletas macaenses já que muitos não poderam participar em competições internacionais durante um longo período, o que os impediu de acumularem pontos e de classificarem para vir até Paris como Hao Lei.Quanto a esta participação em Paris, a equipa macaense diz estar agradavemente surpreendida pelas condições e acolhimento da França."Desde logo Paris é uma cidade muito bonita e muito romântica, portanto estamos muito impressionados por estar aqui. Há algumas diferenças em relação a outros Jogos no passado, como o transporte ou a Aldeia Olímpica. Sabemos que antes de aqui chegarmos houve algumas polémicas com o facto de não haver ar condicionado por ser mais ecológico, mas sinceramente, acho que nem precisamos de ar condicionado aqui em Paris. Quanto à competição em si, tudo tem corrido bem e é similar a outros Jogos", explicou O Comité espera agora poder levar mais atletas até Los Angeles, em 2028, e que os Jogos Paralímpicos sejam cada vez mais reconhecidos em pé de igualdades noutros países, como já acontece em Macau."Não deve haver qualquer distinção entre Jogos Olímpicos e Jogos Paralímpicos. Esperamos que o grande foco seja sempre ter a melhor organização possível, ter a maior igualdade possível entre atletas e, claro, encorajar cada vez mais pessoas com deficiencia a praticarem desporto e a chegarem aos Jogos Paralímpicos", concluiu o secretário-geral.Macau tem agora encontro marcado com os Jogos Paralímpicos em 2028!
9/7/20245 minutes, 32 seconds
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Teófilo Freitas: "O que os atletas olímpicos fazem, os paralímpicos também fazem"

Teófilo Freitas é o único atleta timorense a participar nos Jogos Paralímpicos de Paris 2024. É recordista asiático na distância de 400 metros e corre também nos 1.500 metros. Defende que nestes jogos, os atletas paralímpicos estão pé de igualdade com os olímpicos a nível desportivo, mas acrescem ao seu desempenho as dificuldades e desafios do quotidiano. Teófilo Freitas tem 31 anos e é recordista asiático na distância de 400 metros e corre também nos 1500 metros. Na capital francesa já correu os 400 metros, classificando-se no sétimo lugar na final da categoria S38. Esta é uma categoria para atletas que têm problemas de coordenação.Virou-se para o desporto para conseguir acabar os seus estudos superiores em Díli, mas o desporto, especificamente o atletismo, acabou por se tornar a sua vida. Não conseguiu concluir o curso de Engenharia de Geologia e Petróleo na Universidade de Díli, mas teve acesso a uma casa ao tornar-se atleta paralímpico. Rapidamente o perfil de Teófilo Freitas deu nas vistas e em 2018 foi duplamente medalhado de ouro nos Jogos da ASEAN que se realizaram na Malásia, com Timor-Leste a ter a melhor prestação de sempre nessa edição.O orgulho de dar a conhecer o seu país, um dos mais jovens do Mundo, tem alimentado o sonho paralímpico de Teófilo Freitas. Este sonho está a realizar-se em Paris, já que em Tóquio, devido à pandemia, o timorense acabou por não participar no evento.Pela primeira vez na Europa e após 18 horas de voo para chegar à capital francesa, este especialista da corrida está impressionado com a acessibilidade da cidade e destes Jogos, algo que não acontece na sua cidade natal, a capital de Timor-Leste, Díli. Mais do que isso, durante este Jogos, Teófilo Freitas considera que os atletas paralímpicos estão em pé de igualdade com os olímpicos a nível desportivo, lembrando que os paralímpicos lidam com muito mais dificuldades no dia a dia."Na minha terra não há grandes facilidades e aqui é tudo mais acessível, em Timor-Leste temos mais dificuldades, temos muitos atletas só que não há grandes facilidades para continuar a treinar e apostar no desporto paralímpico. Aqui os atletas paralímpicos estão em pé de igualdade com os atletas olímpicos. O que os olímpicos fazem, os paralímpicos também fazem, mas com mais dificuldades materiais e menos facilidade o que muitas vezes os impede de praticarem desporto", declarou Teófilo Freitas aos microfones da RFI.A estreia nos Jogos Paralímpicos aconteceu esta semana, no Stade de France, e foi uma experiência inesquecível para este timorense.Com 75 mil espectadores este é o maior recinto desportivo de França e, durante os Jogos Olímpicos, o palco por excelência de todas as nações do Mundo.Em Díli, Teófilo Freitas trabalha na inclusão de outras pessoas portadoras de deficiência no desporto e diz que o seu país tem a ambição de trazer mais atletas para mais desportos nos Jogos de Los Angeles em 2028. No entanto, falta formação e apoio do Governo. Para este atleta, resta o sonho de chegar aos Estados Unidos da América daqui a quatro anos. 
9/5/20247 minutes, 27 seconds
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CPLP: São Tomé e Príncipe faz balanço positivo de primeiro ano de Presidência

Há um ano, São Tomé e Príncipe assumiu a presidência da CPLP. “Juventude e Sustentabilidade" foi o lema escolhido por São Tomé e Príncipe para sua presidência. Sendo um tema transversal, São Tomé e Príncipe pretende que até ao fim do seu mandato, haja compromisso na assunção de maior responsabilidade com a juventude.  A RFI entrevistou Gareth Guadalupe, ministro dos Negócios Estrangeiros, Cooperação e Comunidade de São Tomé e Príncipe, que preside actualmente o Conselho de Ministros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa. RFI: São Tomé e Príncipe está a meio do seu mandato. Qual o balanço que faz? Gareth Guadalupe, ministro dos Negócios Estrangeiros, Cooperação e Comunidade de São Tomé e Príncipe: Eu creio que estamos precisamente a meio do nosso mandato. Não sei se não estaria a ser precipitado dizer que é positivo. Não sei se não estaria a ser muito optimista em dizer que é positivo. Podemos dizer que é positivo, mas o que importa é que cheguemos no final da nossa presidência, de facto, com um resultado positivo. Não gostaria de antecipar, mas o que gostaria aqui de dizer é que nós, dentro daquilo que são as nossas possibilidades e naturalmente, em concertação com todos os outros Estados-membros, vamos tudo fazer para que deixemos alguma marca durante a nossa presidência para o tempo da CPLP. Por isso, desde já, dizer que almejamos que seja positivo. Mas creio que agora, no meio do mandato, ainda poderá ser um bocadinho cedo para dizermos, porque há variáveis que não estão sob o nosso controle e nós temos que ter noção que em 2025, em termos daquilo que é a geopolítica internacional, poderá haver muitas variáveis que não estão sob controlo da comunidade da CPLP.O país assumiu a presidência da CPLP num contexto geopolítico mundial assaz difícil. A persistência da guerra na Ucrânia, com todos os seus contornos, o conflito do Médio Oriente, tensões políticas, militares, sociais em África, para além de outros cenários em outras partes do globo onde se inserem geograficamente alguns dos seus membros. Este facto tem alguma influência nos mecanismos de concertação político-diplomática da CPLP?Sim, naturalmente. Por isso é que esta reunião informal de chefes de Estado e de Governo que nós gostaríamos que acontecesse agora à margem da Assembleia Geral das Nações Unidas, também é uma oportunidade para os chefes de Estado e de Governo possam concertar. Não só favorece a concertação político-diplomática, não só sobre aquilo que tem a ver com a nossa própria comunidade, como também além-fronteiras da nossa comunidade. Naturalmente que pode ter algum impacto, porque nós somos uma comunidade em que temos países em quatro continentes e isso faz com que, muitas vezes, a agenda doméstica de cada país possa, de certa forma, influenciar naquilo que é hoje um sim e amanhã pode ser um não, dependendo de como houvera a evolução. Temos países ao nível do continente americano, ao nível do continente africano, do continente europeu, do continente asiático e naturalmente, em cada continente tem os seus problemas, tem as suas vicissitudes, tem as suas especificidades. É importante que essa concertação político-diplomática seja permanente, precisamente para mitigar e evitar os impactos que o que pode acontecer num continente e impactar aquilo que são as decisões ou aquilo que seria o óptimo do consenso que nós gostaríamos de alcançar ao nível da nossa comunidade CPLP. Qual é o seu comentário, na qualidade de presidente do Conselho de Ministros da CPLP, relativamente à situação política na Guiné-Bissau? Uma vez mais, aqui estamos a falar de uma questão da não ingerência nos assuntos internos de cada Estado-membro da CPLP. Isso faz parte de uma das principais premissas da nossa organização CPLP. Isto foi uma decisão tomada ao nível da Cimeira de Chefes de Estado e do Governo, que teve lugar a 27 de Agosto de 2023, em São Tomé e Príncipe, e qualquer decisão que justifique esta alteração ela terá que ser tomada a este nível: a nível da Cimeira de Chefes de Estados e do Governo da CPLP. Não estou a dizer que isso seja um assunto da agenda ao nível da próxima reunião, mas posso adiantar que São Tomé e Príncipe, tendo a Presidência, nós vamos fazer circular um convite a todos os chefes de Estado e de Governo da CPLP que estarão na Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque, e teremos oportunidade ali de ter todos os chefes de Estados e do Governo da CPLP e teremos uma reunião informal, porque a reunião formal só poderá ter lugar quando São Tomé e Príncipe entregar a Presidência ao próximo país. Que até agora, a decisão que existe, é que seja entregue à Guiné-Bissau, porque uma das premissas da CPLP é não ingerência nos assuntos internos de cada Estado-membro. Nesta reunião informal, os chefes Estados são soberanos, se alguém quiser levantar esta questão e aproveitar esta reunião informal, porque é uma reunião que nós estamos a promover para que haja concertação político-diplomática entre os Estados-membros da CPLP e não só sobre os assuntos ligados à própria comunidade como tal, mas também concertação política-diplomática em relação às agendas internacionais, um posicionamento que a CPLP deve ter relativamente a várias matérias da agenda internacional que fogem à própria comunidade, mas que a comunidade tem uma palavra a dizer neste sentido. Alguns países da CPLP vão este ano realizar eleições. É o caso de Moçambique, cuja eleição está prevista para Outubro. A CPLP, obviamente, está a acompanhar este processo, embora tenha o seu princípio de não ingerência em assuntos internos dos seus Estados-membros. Desde logo, nós temos, como uma das premissas a nível da CPLP, a não ingerência nos assuntos internos de cada país. Ao nível dessas eleições é da prática da CPLP, enviar uma missão de observadores.Nesses dois Estados-Membros [Moçambique e Guiné-Bissau] não será diferente. Por isso, nós teremos lá a missão de observadores, precisamente para garantir que o processo seja transparente. Qual é a marca deste primeiro ano de mandato de São Tomé e Príncipe na presidência da CPLP? À margem da COP 28, que teve lugar no ano passado, Portugal e São Tomé e Príncipe assinaram um memorando que permite a conversão da dívida que os países têm com Portugal em financiamento climático. Portanto, nós entendemos que isto é algo que podemos também estender este exemplo aos outros Estados-membros da CPLP e Cabo Verde também o fez no mesmo dia em que São Tomé fez a assinatura do memorando.Este memorando permite que todas aquelas dívidas que já foram contraídas no passado, nós podemos utilizar para mitigar, para financiar projectos que mitigam os impactos ambientais. A questão da mobilidade coloca-se actualmente com maior acuidade devido à enorme emigração de jovens para a Europa, mormente Portugal. Como é que a presidência santomense tem estado a lidar com este fenómeno? Falando de São Tomé e Príncipe, no concreto, que tem agora a presidência, a política que nós queremos implementar e que também foi vista ao nível da última reunião dos ministros da CPLP, é apostar muito na formação profissional. Muitas vezes damos muita importância à formação superior e não apostamos tanto na formação profissional.
8/27/20248 minutes, 23 seconds
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"O amor é uma coisa nova no nosso contexto," Venâncio Calisto

"O Casal Palavrakis - Os leprosos" é a peça que marca a estreia em Moçambique do Movimento de Teatro Experimentação dos Sentidos.O colectivo de artistas oriundos de diferentes países dos PALOP surgiu em Portugal no auge da pandemia de COVID-19.O actor, encenador e autor moçambicano Venâncio Calisto é um dos membros fundadores do "Movimento". No espectáculo que agora apresenta no Teatro Avenida, em Maputo, conta com os actores Adelium Castelo e Lizha Fox para dar corpo ao "diálogo" que estabelece entre um drama da espanhola Angélica Liddell e o texto "Os leprosos" da autoria do próprio Venâncio Calisto.Amor, violência, paternidade, família, traumas de infância, doença, cura, o Teatro em Moçambique e nos países da CPLP, são alguns dos temas abordados durante a entrevista de Venâncio Calisto à RFI.Depois das apresentações em Moçambique, em Maputo e na Beira, a peça "O Casal Palavrakis - Os leprosos" vai estar em Cabo Verde no festival de teatro Mindelact
8/22/202414 minutes
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Cabo Verde: 40 anos do Festival Internacional de Música da Baía das Gatas

Este sábado é o terceiro de quatro dias do Festival Internacional de Música da Baía das Gatas, que este ano celebra quarenta anos. Um dos festivais de música mais antigo do mundo e o maior de Cabo Verde teve na abertura a cantora brasileira Ivete Sangalo que em duas horas e 20 minutos de atuação mostrou-se apaixonada por São Vicente e pelas gentes de Cabo Verde. Ivete Sangalo, homenageou a maior embaixadora de Cabo Verde no mundo e uma das maiores cantoras do país – Cesária Évora, que  no dia 18 de Agosto de 1984 cantou no primeiro Festival da Baía das Gatas.Quarenta anos depois, a brasileira Ivete Sangalo fez um tributo à Diva dos Pés de Calços através da projecção da imagem de Cesária Évora num ecrã gigante e interpretando a música "Sodade", acompanhada de milhares de pessoas na praia da Baía das Gatas.Após a homenagem a Cesária Évora, Ivete Sangalo disse no palco que quer voltar mais vezes a Cabo Verde, visto que teve muitas informações boas sobre a terra de Cesária Évora, São Vicente, mas viver pessoalmente a cultura na ilha tem outro sabor. “Sentir de perto é outra história. Esse lugar é lindo, esse país é lindo, forte, mas o que se tem de melhor nesse lugar é o povo. Meu Deus! Eu me senti muito amada aqui, podem ter certeza que é recíproco. Esse vai ser o primeiro de muitos encontros. Estou dando a minha palavra a vocês. Obrigada por quererem o meu show aqui” declarou no palco a cantora Ivete Sangalo para depois descatar que estava vestida das cores da bandeira de Cabo Verde e disse que queria que o seu espetáculo ficasse na história porque ser “uma ‘gata’ na Baía das Gatas”.Depois em declarações à imprensa Ivete Sangalo reafirmou a vontade de voltar à ilha de São Vicente.“Os outros artistas que vieram aqui me fazem ciúme, inveja, porque eu ainda não tinha vindo. Agora eu vou voltar, me exibindo muito. Lugar lindo, mais lindo ainda esse povo, carinho, respeito. Sou muito grata pelo convite de estar aqui. Espero estar aqui o quanto antes pra viver de novo essa emoção” disse a cantora brasileira agradecendo o convite.Em entrevista à RFI, o director da empresa produtora do Festival Internacional de Música da Baía das Gatas, a Staff Promo, Nuno Sérgio disse que montar um festival da envergadura da Baía das Gatas não é fácil, ainda mais o evento de celebração dos quarenta da sua criação.“Para nós montar o elenco dos 40 anos da Baía das Gatas é um desafio. É um desafio porque todos os artistas nacionais e internacionais, aqueles que têm mais aproximação a Cabo Verde, sentem-se convidados automaticamente. Então é gerir esta questão. Temos artistas que se ofereceram para vir para o festival. Artistas que nós convidamos, que são artistas novos, como a Ivete Sangalo, por exemplo, o TAYC, que é da França, o T-Rex, que são artistas novos no nosso certame, Mas acaba por ser um desafio. Tentamos equilibrar, trazendo lembranças antigas, como Vlu, que vai apresentar um concerto diferente, como os Kings, que foram a primeira banda a tocar no primeiro festival. Então, para nós foi uma pesquisa. Ficaram alguns representantes fora porque são 3 dias, este ano 4, mas não conseguimos pôr toda a gente. Mas ficou também o compromisso de que o festival continua. São os 40 anos, mas o festival continua. Cada ano que passa nós aumentamos mais um pouco a qualidade, seja a qualidade musical, a qualidade dos artistas que vêm. E uma coisa que eu posso garantir é que cada artista que estiver em palco vai ser show” disse Nuno Sérgio da Staff Promo.E, quem já passou pelo palco de celebração dos quadragésimo aniversário do Festival Internacional de Música da Baía das Gatas foi Gelson Patrick de Oliveira, o artista MC Acondize, de  28 anos de idade, considerado uma das maiores referências a nível de entretenimento em Cabo Verde e na diáspora. MC Acondize que levantou do chão o público (na maioria adolescentes e jovens) na praia da Baía das Gatas.Aos microfones da RFI, o artista MC Acondize disse ser grato por estar no Festival Internacional de Música da Baía das Gatas pelo segundo ano consecutivo.“Gratidão, gratidão, gratidão é sentir-se satisfeito. Estou mesmo feliz, estou mesmo feliz em voltar. No segundo ano consecutivo, ano passado eu fechei o festival. Este ano, na comemoração de 40 anos, estou bem feliz” disse MC Acondize afirmando que no seu trabalho pocura sempre partilhar um pouco da sua história, o seu percurso difícil e “apelar os  jovens a não consumirem álcool e outras drogas. Como eu não fumo e não bebo, então tento transmitir isso para eles também”.Para além dos espectáculos musicais, o Festival de música de Baía das Gatas tem outras actividades paralelas que acontecem na praia do mesmo nome como prova de hipismo com a participação de cavalos de todas as ilhas. E onde são atribuídos os maiores prémios da competição no país em valores monetários que variam dos mil aos três mil euros, nas outras competições em festas de romaria, os prémios monetários nunca ultrapassaram os mil euros.Também, um outro aspecto que marca o Festival da Baía das Gatas é a convivência entre familiares e amigos. São centenas de pessoas que acampam na praia. Artur Rodrigues e a sua família são os resistentes que desde os primeiros festivais ficam por mais de uma semana na Baía à procura de momentos de convívio.“Estamos aqui desde 1985, somos no total uns 10. E ficamos pelo menos uma semana antes do festival e depois do festival para montar tendas e ajudar outras pessoas a montar as tendas também. É um bom momento de convivência” disse o professor, Artur Rodrigues. Por sua vez, o presidente da Câmara Municipal de São Vicente, Augusto Neves disse que é com grande esforço que autarquia local e os seus parceiros realizam o Festival da Baía das Gatas.“Com muito esforço, muito trabalho, muita gente colaborou e está colaborando nisso. E só assim era possível, porque sozinhos não conseguiríamos. Há muita gente envolvida nisso, trabalhando e ajudando para que fosse possível realmente arrancar a esse nível. Estou muito satisfeito. Aliás, esperava isso. Esperava esse comportamento da população. Nós não temos dúvidas da artistas, sabemos o nível de artista, sabemos que ia acontecer tudo isso” disse o presidente da Câmara Municipal de São Vicente, Augusto Neves numa referência ao primeiro espectáculo do festival que aconteceu na quinta-feira passada. E ainda concluiu que “o povo de São Vicente merece, a nossa cultura merece e a ilha e o país muito mais”.A edição de celebração dos quarenta anos do Festival Internacional de Música da Baía das Gatas na ilha de São Vicente continua na noite deste sábado e tarde/noite de domingo com mais 26 artistas e bandas. Entre os quais Nhone Lima, o autor da música considerada o hino do festival da Baía das Gatas.Página Câmara Municipal sobre Baía das Gatas https://www.facebook.com/cmsaovicente   Página Baía das Gatas 1984https://www.facebook.com/baiadasgatas1984
8/16/202410 minutes, 42 seconds
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"Já se pode falar de uma epidemia de fome no Sul de Angola", Sedrick de Carvalho

A existência de "censura", de uma "epidemia de fome" e de um "Estado ditatorial" em Angola, são algumas das denúncias feitas pelo jurista, autor, editor, jornalista e activista Sedrick de Carvalho.A entrevista à RFI surgiu a propósito da apresentação do livro "Autores e Escritores de Angola 1642-2022", uma publicação que funciona como um guia de autores e escritores de Angola espalhados pelo mundo, que tem como co-autores Sedrick de Carvalho e Tomás Lima Coelho. Sedrick de Carvalho,que aos microfones da RFI afirma que em Angola "as coisas estão continuamente a degradar-se, apesar de existirem iniciativas cívicas muito boas", começa por explicar como surgiu a terceira edição do livro "Autores e Escritores de Angola 1642- 2022" lançado pelas editoras Elivulu e Perfil Criativo.link editora Perfil Criativo: https://shop.autores.club/pt/inicio/384-autores-e-escritores-de-angola-1642-2022.htmllink editora Elivulu: https://sites.google.com/view/elivulu-editora?fbclid=IwAR1-d8JthBc477TXMLibRTeM9VKmxjXLLg1B2gc4MRZjYDrZoM5favLAlZw
8/16/202421 minutes, 52 seconds
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Portugal é campeão olímpico no ciclismo de pista

O décimo sexto e último dia dos Jogos Olímpicos de Paris 2024, 11 de Agosto, fica marcado pela maratona feminina e pela final de basquetebol feminino entre França e Estados Unidos da América. Marco Martins estiveste a acompanhar a final de ciclismo de pista e, contrariamente ao que se previa, Portugal é campeão olímpico na especialidade madison. Como é que se viveu a prova no velódromo?Marco Martins: Foi um fim de tarde excepcional para Portugal porque antes da corrida, por exemplo, ouvi alguns jornalistas espanhóis que estavam a fazer a lista dos favoritos e posso dizer que nos cinco ou seis favoritos não estava a equipa portuguesa nesta prova do Maddison, ou como alguns chamam a prova americana. Foi uma prova que foi criada nos Estados Unidos, no Madison Square Garden, no ginásio onde jogam várias equipas de basquetebol e foi aí que foi criada esta prova, uma prova de 200 voltas.Durante essas 200 voltas, a cada dez voltas marcam-se pontos para uma classificação final. A equipa portuguesa composta por Iuri Leitão, que já tinha vencido uma medalha de prata na prova de omnium, e por Rui Oliveira, que substituiu o irmão gémeo Ivo Oliveira, que se tinha lesionado há poucas semanas. No início, os portugueses foram discretos e por volta das 150 voltas do fim começaram a aparecer, fizeram dois ou três sprints, conseguiram ganhar um dos sprints, passaram para a frente com oito pontos.  Até às últimas 50 voltas não se viu a equipa portuguesa. Quando chegou o momento das últimas 50 voltas, Portugal apareceu em grande. Visto que nos últimos cinco sprints, Portugal venceu quatro, inclusive o último, que conta a dobrar. Conclusão e para surpresa do público foi Portugal que terminou no primeiro lugar: Iuri Leitão e Rui Oliveira, com 55 pontos, à frente dos italianos e dos dinamarqueses. Esta foi a medalha de ouro, a primeira medalha de ouro para Portugal nestes Jogos Olímpicos em Paris.Os Estados Unidos da América conquistaram o quinto ouro consecutivo frente à França, por 98 a 87, na final do basquete olímpico masculino de Paris-2024, na Bercy Arena. Nos últimos minutos, os franceses aproximaram-se do marcador para igualar com os norte-americanos, mas não foi suficiente?É verdade que os franceses acreditaram até ao fim que conseguiam dar a volta ao resultado e vencer os Estados Unidos. Quando se olha realmente para o jogo, vê-se que cada vez que os Estados Unidos aceleraram, cada vez que estiveram em perigo, souberam sempre marcar mais pontos para alargar a vantagem, o que mostra também o poder desta equipa dos Estados Unidos, composta unicamente por atletas da NBA. O campeonato norte-americano, que é visto como o melhor campeonato do mundo mesmo se os franceses lutaram bem nesta final. Parecia ser algo impensável ver os Estados Unidos com jogadores como LeBron James, como Stephen Curry perderem o ouro olímpico. O jogo foi acompanhado por estrelas norte-americanas, entre elas Snoop Dogg, que esteve em todos os jogos.Pela primeira vez na história dos Jogos Olimpicos são as mulheres que sobem aos pódios no último dias?Desde o início que os Jogos Olímpicos de Paris tentaram passar a mensagem de que seriam os jogos da igualdade, da paridade entre os sexos e foi o que aconteceu. No fundo, viu-se muitas vezes as provas femininas encerrarem as próprias modalidades, não somente hoje no dia de encerramento dos Jogos Olímpicos, mas também em certas modalidades, como o futebol, o voleibol. Por que motivo deveriam ser sempre os homens a encerrar a modalidade ou encerrar os Jogos Olímpicos? Os Jogos Olímpicos são para todos, sempre foram para todos, para os homens e para as mulheres. Paris decidiu ser o primeiro país a decidir que, por uma vez, seriam as mulheres a encerrar os Jogos Olímpicos. Veremos se isto continua, porque em 2028 será em Los Angeles, nos Estados Unidos. Em 2032 será em Brisbane, na Austrália
8/11/20248 minutes, 39 seconds
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"O desporto é a única ferramenta que une toda a nação", diz presidente do Comité Olímpico de Cabo Verde

Filomena Fortes, presidente do Comité Olímpico de Cabo Verde, já está de olhos postos em Los Angeles 2028 e quer uma maior presença de atletas cabo-verdianos, esperando que as autoridades do país se apercebam da importância do desporto para a união nacional. Quanto à fuga de atletas, Fortes, que preside a organização de todos os comités lusófonos, diz que se deve assinar um memorando de entendimento para que os países africanos não saiam prejudicados quando Portugal oferece melhores condições. Cabo Verde leva de Paris a sua primeira medalha olímpica, mas também a responsabilidade de continuar a manter o nível de excelência que permitiu a David de Pina ser terceiro classificado na sua categoria de peso no boxe.Filomena Fortes, presidente do Comité Olímpico de Cabo Verde, ainda está em Paris, mas já pensa nos Jogos Olímpicos de los Angeles de 2028, uns jogos onde Cabo Verde trará mais atletas, mais modalidades e, se as autoridades cabo-verdianas permitirem, onde os atletas serão mais apoiados evitando o perigo de fuga para outros países ou mesmo o abandono do desporto."O que eu gostaria que mudasse realmente é que começássemos a ver o desporto com mais seriedade e a fazer planos a longo prazo. Para mim os jogos já acabaram e neste momento nós já estamos a pensar em Los Angeles. Então é isso que nós queremos que mude essa forma de ver o desporto, essa filosofia de perceber que o desporto é a única ferramenta que une uma nação. Esta medalha do David uniu toda uma nação, não só Cabo-Verde, mas os cabo verdianos na diáspora. [...] O Comité Olímpico sozinho não pode fazer o trabalho. É preciso perceber que o David, desde Tóquio, é bolseiro olímpico. Obviamente que a bolsa não dá. São só 750 euros. Nós gostaríamos de trabalhar de mãos dadas com o próprio governo de Cabo Verde para criar condições aos atletas. Há vários Davids em Cabo Verde, espalhados por todo o Mundo também", indicou Filomena FortesCom os olhos postos no futuro, a presidente do Comité Olímpico de Cabo Verde, que é também presidente de todos os comités da lusofonia e integra ainda o Comité Olímpico Internacional, está a saborear o momento e considera que a preparação dos atletas foi a chave para o bronze olímpico."Eu acho que o essencial foi toda a preparação, todo o trabalho feito desde Tóquio. Nós queríamos entrar neste novo ciclo, que agora termina de uma forma diferente, dando oportunidade aos nossos atletas de terem as melhores condições. Penso que foi a dedicação também dos atletas [que permitiu a medalha] e todas as condições que nós criámos. O Comité Olímpico não só deu a bolsa aos atletas, mas teve uma equipa multidisciplinar atrás deles, com psicólogo, com médico, como preparador físico, com nutricionista durante o tempo que eles tiveram bolsa. E eu penso, principalmente para o David, foi fundamental também a ajuda da nossa psicóloga. Aquilo que ele falou de ter que regressar às obras e deixar de treinar. Claro que o treinador também teve uma importância muito grande na vida dele, mas, como eu lhe disse de forma geral, foi a planificação destes jogos para os atletas que teve um grande impacto", explicou.Para esta dirigente desportivo, com repsonsabilidades acrescidas na lusofonia, os países que integram a CPLP devem assinar um memorando de entendimento de forma a evitar a fuga de atletas dos países africanos para Portugal, já que este país lhes oferece melhores condições, mas também apoiar mais os atletas nos seus países de origem."É claro que os países africanos da lusofonia são os mais prejudicados, certo? E então nós já pensámos em criar um código de ética que seja assinado entre todos os países da lusofonia. E eu sei que São Tomé, nós já conversámos sobre isso e já discutimos isso numa atleta que acho que até ficou em 15.º lugar, não é [Agate De Sousa]? Mas temos que pensar também porque é que os atletas fogem para os outros países? Porque lhes dão melhores condições. Então nós temos que começar a dar essas condições aos nossos atletas, nos nossos países, não é? Se eles tiverem boas condições, eles não fogem. Se falarmos do David de Pina. O David já ganhou uma medalha, agora espera que lhe possam dar essas condições para poder ir para Los Angeles. E se o Governo de Cabo Verde não lhe der essas condições, obviamente que ele terá que pensar ou desistir, ou ir para um país que lhe dê essas condições", concluiu Filomena Fortes.
8/9/202414 minutes, 32 seconds
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Pedro Pichardo procura uma medalha na final do triplo salto

Ao décimo terceiro dia dos Jogos Olímpicos de Paris, o atleta português, Pedro Pichardo, procura uma medalha depois de ter saltado uma só vez para chegar à final do triplo salto, com o melhor salto da qualificação, 17,44 metros.  Esta quarta-feira, 7 de Agosto, o que se passou no Stade de France foi incrível: Pedro Pichardo apresentou-se no concurso do triplo salto, na fase de qualificação para chegar à final. No mínimo, os atletas tinham que fazer 17 metros e dez centímetros ou estar entre os 12 melhores para seguir para a final. O português precisou apenas de um salto, apresentou-se com um boné virado ao contrário - é preciso lembrar que o boné trava no ar a dinâmica do salto - e conseguiu 17 metros de 44 centímetros. Foi o melhor salto de todos os atletas presentes.Pedro Pablo Pichardo é um antigo cubano naturalizado português. O segundo melhor resultado de ontem foi do espanhol Jordan Diaz, que representa a Espanha, o antigo cubano saltou 17 metros de 24 centímetros. Há ainda outro cubano, agora italiano Andy Díaz, nesta que é uma verdadeira guerra, no bom sentido, para ir tentar alcançar essa medalha de ouro.A vantagem para Pedro Pichardo é que o português já venceu o ouro olímpico em 2021, em Tóquio, no Japão. Quanto a Tiago Pereira, o outro português na prova, não conseguiu ultrapassar os 16 metros e 36 centímetros, acabando por ser afastado da final.Esta quinta-feira, 8 de Agosto, começa o ciclismo de pista e a prova conta com o actual campeão do mundo português Iuri Leitão que também pode conquistar uma medalha. Iuri Leitão conseguiu o feito de ser campeão do mundo e o primeiro campeão do mundo português em ciclismo de pista na prova de omnium. A prova conta com quatro corridas que são realizadas em diferentes tempos. A prova começa esta quinta-feira a partir das 17h00 hora local, mas a última será às 19h30. Quer dizer, em duas horas e meia a quatro corridas. Os pontos são conquistados durante essas corridas e fazem com que haja uma classificação, nessa classificação veremos que pontos terá Iuri Leitão, e se existe a possibilidade de conquistar mais uma medalha para Portugal.
8/8/20243 minutes, 47 seconds
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Portugal perde batalha com Brasil no ténis de mesa

Portugal foi eliminado pelo Brasil na primeira ronda de ténis de mesa por 1-3, à melhor de cinco, no acesso aos quartos-de-final do torneio de equipas nos Jogos Olímpicos de Paris. O trio português do ténis de mesa foi formado por Marcos Freitas, Tiago Apolónia e João Geraldo. No primeiro encontro de pares, Marcos Freitas e Tiago Apolónia perderam frente aos brasileiros Vítor Ishiy e Guilherme Teodoro por 3-2, com os parciais de 12-10, 11-9, 7-11, 8-11 e 12-10.Hugo Calderano venceu João Geraldo por 3-0 (12-10, 11-5 e 11-7) e aumentou a vantagem do Brasil. No terceiro encontro, o português Marcos Freitas reduziu o marcador, ao triunfar sobre Guilherme Teodoro, por 3-0 (11-7, 12-10 e 11-4).No quarto encontro, João Geraldo foi batido por Ishiy, por 3-2, pelos parciais de 14-12, 8-11, 8-11, 11-9 e 14-12.No futebol, a França enfrenta o Egipto e Marrocos joga contra a Espanha. Estas são as duas meias-finais do torneio de futebol masculino dos Jogos Olímpicos Paris-2024.Na fase de grupos, Marrocos conseguiu vencer por 2 1 a Argentina. Depois conseguiu perder frente à Ucrânia por 2-1 e finalmente, foi uma vitória por 3 -0 frente ao Iraque que ditou o apuramento para os quartos-de-final. Do lado do Egipto, na fase de grupos, a equipa egípcia empatou a zero frente à República Dominicana, venceu por 1-0 o Paquistão e por 2-1 a Espanha. As duas equipas seguiram para os quartos-de-final, onde o Egipto acabou por vencer por 5-4 na marcação das grandes penalidades, após um empate a uma bola frente ao Paraguai. Quanto a Marrocos, acabou por esmagar por 4-0 os Estados Unidos. 
8/5/20243 minutes, 19 seconds
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Casa de Cabo Verde é "ponto de encontro" da comunidade durante Jogos Olímpicos de Paris

... A Casa de Cabo Verde abriu há uma semana em Epinay sur Seine, junto a Paris. Este espaço quer ser a casa de todos os cabo-verdianos instalados em França durante os Jogos Olímpicos de Paris. Aqui vai discutir-se o futuro do desporto em Cabo Verde, com interações directas com o Comité Olímpico e com os atletas cabo-verdianos presentes em França.Dina Mendes, empresária cabo-verdiana em França, foi desafiada por Filomena Fortes, presidente do Comité Olímpico de Cabo Verde a organizar este evento e espera que toda a comunidade passe por este espaço vindos de Saint-Denis, nos arredores de Paris, e de outras partes de França."Este lugar vai estar mesmo cheio, porque é a Casa de Cabo Verde oficial aqui nos Jogos Olímpicos. E claro, iniciámos com um jantar com o Presidente. É por aqui que os atletas vão passar, junto com os patrocinadores que os apoiaram e é claro que faz sentido toda a comunidade vir até cá", disse Dina Mendes.A Casa de Cabo Verde contou na sua abertura com um jantar de inauguração onde esteve presente o Presidente de Cabo Verde, José Maria Neves. Outras figuras da comunidade, como Pedro Delgado, dirigente associativo, estiveram presentes e considera que a comunidade está a viver um momento único de união à volta dos sete atletas olímpicos presentes nos Jogos de Paris."A comunidade cabo verdiana em França está a viver este momento como um momento inesquecível, um momento único, um momento de união, um momento de fraternidade, um momento realmente um momento em que por muita gente vai ser uma única vez na sua vida", declarou Pedro Delgado.Também Fernanda Cabral Semedo, presidente da Federação das Associações de Cabo-verdianas em França, marcou presença neste jantar de abertura, esperando que esta Casa seja um ponto de encontro para todos os cabo-verdianos, mas também para todos que queiram conhecer mais sobre Cabo Verde, que tenham interesse em investir e estar mais perto dos atletas olímpicos."A Casa de Cabo Verde é uma esperança para quem não conseguiu bilhetes porque estamos há um programa oficial para as pessoas que não têm possibilidade de lá ir ver os jogos, os atletas, podem vir até cá para se encontrar com esses mesmo atletas. Quer sejam franceses, cabo-verdiano ou todas as pessoa que têm um interesse sobre Cabo Verde e têm interesse também em descobrir os nossos atletas, Cabo Verde porque é um ponto de encontro, de intercâmbio, de negócios", indicou Fernanda Cabral Semedo.A Casa de Cabo Verde vai estar aberta até dia 10 de Agosto, em Epinay sur Seine, num barco sobre o rio Sena, com espectáculos, produtos tradicionais e mesas redondas.
8/4/202414 minutes, 22 seconds
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JO 2024: Adeptos angolanos entusiasmados com desempenho da selecção de andebol

A selecção angolana de andebol feminino está a entusiasmar os adeptos que têm assistido aos jogos da fase de grupos do torneio olímpico. Após três jornadas, Angola ocupa o terceiro lugar no Grupo B com três pontos, atrás dos Países Baixos com quatro e da França com seis. Aliás as francesas venceram os três jogos que realizaram até agora.Angola será o próximo adversário da França.A selecção angolana arrecadou até agora um triunfo, por 26-21 frente à Espanha, um empate, 31-31 perante a Hungria, e uma derrota diante dos Países Baixos por 31-34.De referir que as quatro primeiras nações de cada grupo, A e B, alcançam o apuramento para os quartos-de-final.  Por enquanto as angolanas estão apuradas para a próxima fase, o que tem entusiasmado os adeptos angolanos como Jacob Júnior, presente em Paris para seguir, sobretudo a prova de andebol feminino.Em entrevista à RFI, Jacob Júnior, adepto angolano e amante do andebol feminino, estava feliz com a participação até agora de Angola e espera ainda mais da equipa.Os adeptos angolanos têm estado presentes no recinto, no pavilhão Arena 6 no Sul de Paris.A RFI também teve a oportunidade de falar com Teresa João Ulundo, antiga jogadora da selecção angolana, que tem estado a apoiar as andebolistas.Para Teresa João Ulundo, as outras equipas têm que temer Angola, admitindo estar surpreendida com este início de prova e o triunfo perante a selecção espanhola.Angola volta a jogar a 1 de Agosto frente à França. Um triunfo pode garantir desde já um lugar nos quartos-de-final.Na última jornada haverá um duelo 100% lusófono com o Brasil.De referir que até agora nenhum país da África Lusófona arrecadou uma medalha nestes Jogos Olímpicos que prosseguem em Paris.
7/31/202412 minutes, 19 seconds
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Deizy Nhaquile: "Os Jogos Olímpicos são para todos e sou a prova disso"

A faltarem três dias para a abertura oficial dos Jogos Olímpicos de Paris, os atletas continuam a chegar à aldeia olímpica, na região parisiense. "Faço destas Olimpíadas como se fossem minhas primeiras, onde posso viver tudo, desde a aldeia à abertura, desde a experiência maravilhosa de estar no maior evento do mundo. Quero aproveitar e representar o meu país da melhor forma possível", afirmou a velejadora moçambicana, Deizy Nhaquile. Moçambique vai participar nas modalidades de boxe, natação, vela, atletismo e judo dos Jogos Olímpicos de Paris que arrancam oficialmente na sexta-feira, 26 de Julho. A delegação moçambicana é composta por sete atletas: uma delas é Deizy Nhaquile, velejadora moçambicana, 23 anos, que participa na prova de Vela destes Jogos Olímpicos de Paris, em Marselha. A atleta olímpica está na classe Laser Radial, agora chamada de ILCA 6, e contou-nos a sua luta para integrar os JO de Paris.RFI: Qual é a sensação de estar a representar Moçambique nestes Jogos Olímpicos? Deizy Nhaquile: É muito gratificante estar aqui a representar Moçambique nos Jogos Olímpicos. São minhas as segundas Olimpíadas e eu quero dar de tudo nestas. Infelizmente, nas primeiras em Tóquio 2020 tive Covid e o meu desempenho não foi muito bom. Eu faço destas Olimpíadas como se fossem minhas primeiras, onde eu posso viver tudo, desde a aldeia à abertura, desde a experiência maravilhosa de estar no maior evento do mundo e quero aproveitar e representar o meu país da melhor forma possível.É um momento inédito estar aqui em Paris, nos Jogos Olímpicos de 2024?É inédito. Primeiro porque não é fácil qualificar-se para os Jogos Olímpicos. Todos os outros países se esforçam. Então, a felicidade também vem das condições que não foram assim tão boas para me qualificar. Infelizmente a vela é uma modalidade muito cara. Eu não consigo fazer todos os campeonatos e mesmo sem recursos, o meu treinador sul-africano chama-me para treinar porque ele diz que sou uma atleta talentosa. Ele diz-me que infelizmente vivo num país com escassez de vários recursos e chama-me para puxar por mim e para me tentar qualificar. Chego aos Jogos Olímpicos depois de muito esforço. Há atletas que conseguem fazer vários campeonatos e eu só consegui fazer um estágio depois de vencer num Mundial. Conheço um atleta da Tunísia que treina aqui em França e eu não tenho as mesmas condições, mas esforcei-me e consegui qualificar-me. Não participou em muitas competições por falta de meios e conseguiu apurar-se para estar aqui. O que conta mais: a sua força de vontade, o talento, a sorte? Primeiro Deus. Eu sou cristã, então acredito que é Deus. São planos de Deus para minha vida e também o meu trabalho, não só meu, mas também de todos os outros que tentam ajudar a Deizy, que é o meu clube. O Clube Marítimo de Desportos tem a Federação Moçambicana de Vela de Canoagem e também tem um comité Olímpico. Tenho a bolsa da solidariedade olímpica, que é uma mais valia para os países que não não têm várias condições. Os Jogos Olímpicos são para todos e eu sou a prova viva disso.Houve muito trabalho para estar aqui hoje?Para além de ser um privilégio, existe muita luta para estar aqui. Este é o maior evento do mundo. Quando tu estás no refeitório, começas a ter essa noção. Quando tu estás na aldeia olímpica começas a imaginar quanto tudo isto é inédito. É uma festa. Passei os últimos quatro anos a lutar para cá estar.Os atletas moçambicanos chegaram a França no início deste mês de Julho para treinar durante duas semanas na cidade de Saint-Paul-les-Dax?Fomos todos fazer um estágio para estarmos concentrados num lugar e para começar a entrar no espírito dos Jogos Olímpicos. Infelizmente tive de treinar num lago, mas foi de mais valia para entrar na concentração, porque no estágio em Moçambique não estávamos 100% concentrados em treinar e aqui temos a distância de casa. A minha casa para o treino é muito distante e tem várias coisas. Às vezes não conseguir fazer as refeições adequadamente então foi de mais valia, porque lá estávamos completamente concentrados. Infelizmente era um lago. Isso faz diferença?Faz uma diferença, sim porque em Marselha temos ondas. As condições do vento são completamente diferentes e temos um vento muito forte, temos ondas bem grandes e as condições são completamente diferentes.Sente que está pronta para as competições?É difícil responder, mas sinto-me pronta para aproveitar este evento. Preparei-me quatro anos e chega aquele momento em que parece que não estás pronta. Parece que precisas mais de um ano de preparação, mas já estamos aqui, então vamos aproveitar.Qual é a energia da delegação moçambicana?A energia é boa, estamos muito felizes por estar aqui. Infelizmente não poder ficar em Paris com os outros atletas porque as minhas provas são em Marselha e somos só três pessoas; eu, o meu treinador e o presidente da Federação.O objectivo é a medalha?Eu estou bem centrada nos meus objectivos. Não que eu não goste de sonhar alto, mas acho que qualquer atleta tem de ter de colocar os pés no chão e saber qual é o trabalho que é feito para chegar a uma medalha. Ainda precisamos de muito investimento. O meu país precisa investir muito e uma medalha não vem por sorte, vem por muito trabalho. Todos os países colocam muito dinheiro, muito investimento e às vezes é um investimento a longo prazo. Nós não podemos só querer trabalhar quatro anos ou um ano antes para ter uma medalha.Podemos muito bem pensar em começar a investir para ter uma medalha em 2032. Se não começarmos a investir agora em 2032, não vamos ter nada. Mas se começarmos a investir agora, podemos ter uma medalha em 2032. Até agora, Moçambique só tem uma medalha olímpica conseguida pela atleta Lurdes Mutola. Acho que está na hora de começar a investir. Não somente preocupar-se em qualificar, mas começar a pensar numa medalha olímpica.Qual é que vai ser o seu programa nos próximos dias, até às primeiras provas?Chegando a Marselha vamos conhecer o mar, conhecer as condições. Dia 1 de Agosto começam as regatas, começa a minha competição e termina dia 5. No dia seguinte, 6 de Agosto, decorre a corrida da medalha para as dez melhores.Deizy Nhaquile está a ser acompanhada pelo treinador e pelo presidente da federação moçambicana de Vela e canoagem, Hélio da Rosa, que nos descreveu o trabalho da atleta para estar presente neste que é o maior evento desportivo do mundo.Estar em Paris a representar Moçambique é um motivo de orgulho?Hélio da Rosa: Realmente é uma honra representar Moçambique nos Jogos Olímpicos. Nós temos um leque de modalidades olímpicas muito grande em Moçambique, mas nem todas estão cá e as que cá estão posso considerar que são as melhores das melhores. Estar em Paris nos Jogos Olímpicos qualificado é uma honra, significa que a Federação tem estado a fazer um trabalho muito bom e é para continuar. Já estivemos em duas edições passadas dos Jogos Olímpicos: estivemos com a canoagem no Rio, estivemos com vela e canoagem em Tóquio e agora estamos com a vela em Paris. Isso significa que durante esse período que estivemos a trabalhar, eu e os meus colegas conseguimos fazer aquilo que poucas federações conseguem fazer.É também a concretização de muito trabalho...É realmente muito trabalho porque não é fácil qualificar-se para os Jogos Olímpicos. No caso da Deizy são três anos de trabalho árduo e muitas lesões. Em alguns momentos ela quis desistir, mas temos sempre que estar ali e temos de ser pais, mães, psicólogos, muita coisa. No final de tudo sentimo-nos orgulhosos porque foi um trabalho que valeu a pena.Pode explicar-nos qual é o processo de preparação dos atletas para estar aqui?Normalmente, a qualificação do atleta está a cargo da Federação. O Comité Olímpico apoia-nos e o governo moçambicano também nos tem apoiado, mas é tudo a cargo da Federação e temos que ser nós, como federação, a criar condições para que o atleta possa representar o país em tudo aquilo que é competição, tanto as qualitativas como as não qualitativas. Quando digo não qualificativa, são aquelas em que temos de participar mesmo, as chamadas de rodagem para que o atleta possa competir para ter uma rodagem para quando for às competições de qualificação estar preparado para poder alcançar o seu verdadeiro objectivo.Estamos a falar de quantas competições?A Deizy teve que participar em quatro Mundiais e dois africanos.Ela é, aliás, vice-campeã africana?Sim, vice-campeã africana, perdeu o título com a vice-campeã de Tóquio porque a adversária directa é egípcia e esteve a correr no seu próprio país. Quando estás nas tuas águas és tu quem manda. É por isso que digo que ela é uma guerreira porque esteve em águas egípcias e conseguiu alcançar o segundo lugar. Ela tem estado a mostrar que a Vala em África é para se investir porque é uma modalidade que normalmente as pessoas conotam como uma modalidade de pessoas com posses porque alugar um barco a vela e o material todo não é nada barato.A vela é uma modalidade recente em Moçambique?Não é bem recente porque se não me falha a memória em 75 ou 78 organizámos o Campeonato Mundial, então já é uma modalidade antiga. Só depois tivemos uma pequena queda de número de participantes com a organização dos Jogos Africanos. Em 2011, a vela reentrou para o mundo das competições das grandes competições, porque nos Jogos Africanos tínhamos a vela e a canoagem como duas modalidades que podiam participar nos jogos. Foram também as duas modalidades que conseguiram trazer medalhas para o país, a par do judo.Imagino que ao acompanhar cada prova de Deizy, sente um nervosismo?Claro. Porque também já fui atleta. Aquele frio na barriga aparece, mas não o podemos transmitir para os atletas porque temos que dar a perceber que estamos cientes e confiantes neles. Mas o frio na barriga é algo que sempre aparece, principalmente quando já estiveste daquele lado. Independentemente de seres ou não o melhor, o frio sempre aparece porque nunca sabes o que é que o teu adversário tem preparado para ti. 
7/23/202413 minutes, 21 seconds
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O elefante da esperança: do Niassa a Maputo, a arte denuncia a caça furtiva

"Madala Vaku Niassa, o elefante da esperança" é o titulo da instalação aberta ao público no Centro Cultural Franco-Moçambicano, em Maputo.É uma obra de arte contra a caça furtiva e serve para sensibilizar a sociedade para a protecção dos grandes animais selvagens, a partir da Reserva Especial do Niassa. A história de Madala, um elefante que nasceu na reserva especial de Niassa, a maior área protegida de Moçambique, é contada pela bióloga Paula Ferro e por Derek Littleton -director da fundação Lugendá e da concessão Luwire-, ambos,  comprometidos com a protecção da reserva, diz emocionado, o embaixador da França em Moçambique, Yann Pradeau."Eles decidiram colocar os seus talentos ao serviço de um projecto tão ambicioso quanto significativo, a construção de uma obra de arte monumental para testemunhar dos desafios de luta contra a caça furtiva ! E sensibilizar-nos para a importância de proteção dos ecossistemas e da grande fauna selvagem !"Uma obra sem igual, diz a bióloga Paula Ferro ! Para quem por detrás deste elefante, o Madala de Niassa como foi baptizado esconde-se toda uma tradição YAO, uma cultura do povo deste parcela do norte de Moçambique."O objectivo deste Madala é trazer o Niassa a Maputo. É trazer os povos do Yao, Macuas e Suahilis  que vivem na Reserva do Niassa, todo o trabalho de conservação que temos feito durante todos estes anos, 25 anos de reserva, na verdade 75 anos."Madala como foi baptizado o elefante levado de Niassa para a cidade de Maputo é uma atracção .... um símbolo de luta contra a caca furtiva diz Paula Ferro."Este elefante mede 5 metros por 7 metros. E para fazer um contraste desta estrutura metálica muito robusta, muito grande decidimos tricotar uma pele em croché que significa a fragilidade do meio ambiente, a resiliência dos povos de Niassa e também a esperança. Esta pele é cheia de cores, com diferentes quadradinhos que se podem ver que cada um é diferente um do outro , que são muito complexos , que significam também a complexidade da reserva de Niassa." Feita com base em crochê e ferro extraído de armadilhas em aço, cordas entre outros materiais confiscados a caçadores furtivos na reserva de Niassa deu lugar à obra de arte trabalhada pelo escultor francês Jules Plennel e mais de 50 membros da comunidade cuja mensagem é, realça o diplomata francês em Maputo, chamar atenção para a necessidade de preservação dos ecossistemas e dos animais selvagens."Uma obra de arte capaz de reconectar arte e protecção ambiental. Uma obra de arte que enfim, permite-nos olhar com outros olhos para estes territórios, talvez menos conhecidos do norte de Moçambique."Foram muitos os cidadãos , curiosos e havidos de ver de perto o elefante em tamanho real que se tornou uma atração no jardim do centro cultural franco-moçambicano em Maputo.A cantora Lenna Bahule animou a cerimónia: cantou e encantou com a sua música inspirada na cultura dos Yaos, não fosse ela, filha de mãe do Niassa.O escultor francês Jules Plennel, recordou momentos vividos desde o o inicio da construção do elefante.  "Treinei cinco pessoas da comunidade Yao a trabalhar o ferro , a soldar, a usar a rebarbadora, a usar ferramentas que usámos para trabalhar o ferro. No inicio eles não compreendiam, realmente bem qual era o projecto e quando eles começaram a soldar, a cortar , a usar as ferramentas, a compreender como funcionava , podias ver as sensações, os seus olhos. Não queriam parar de trabalhar às 12 horas, não queriam e, eu tinha que cortar o gerador."Cantos e brincadeiras em palco marcaram a inauguração da instalação que cuja ideia é levar numa viagem de carro por todas as províncias moçambicanas ... o objectivo é claro diz Paula Ferro - mentora da iniciativa e fundadora da Yao Crochê, responsável do projecto Madala Vaku Niassa."O Madala ficará em Maputo desde 4 de Julho até 3 de Outubro para dar a possibilidade para todas as pessoas aqui em Maputo possam vir visitar, mais que tudo as escolas públicas e privadas que têm a oportunidade de vir visitar o Madala."  O elefante faz nascer sonhos no seio das comunidades que vivem na reserva especial de Niassa."A nossa vida mudou com esse projecto. Esse elefante , eu estou a sonhar ..para termos a possibilidade de poder ser visto em todo mundo , para que saibam que em Manhuri fizeram um elefante como este !" Sonhos que alimentam outros sonhos, outras iniciativas a bem das comunidades."Queremos fazer este leilão para arrecadar fundos, para abrir uma pequena escolinha de Artes e Ofícios . Gostaríamos de abrir na Reserva do Niassa para dar oportunidades às crianças e também aos jovens da reserva para ter um ofício e acesso à criatividade."A instalação de que faz parte o elefante, Madala Vaku Niassa ou "O velho de Niassa", está aberta à visitação pelos próximos três meses, no jardim do Centro cultural franco-moçambicano em Maputo.
7/5/20247 minutes, 11 seconds
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A aposta na internacionalização dos clássicos da literatura cabo-verdiana

Manuel Lopes é um dos clássicos da literatura cabo-verdiana. O ficcionista, ensaísta, poeta e um dos fundadores da literatura moderna em Cabo Verde publicou, em 1959, o livro "O Galo Cantou na Baía".A obra, que durante muitos anos esteve esgotada, conheceu uma nova edição, em 2023, pelo Instituto da Biblioteca Nacional de Cabo Verde e foi recentemente lançada na Feira do Livro de Lisboa. Esta iniciativa insere-se num contexto onde a Biblioteca Nacional de Cabo Verde aposta na divulgação e promoção dos clássicos da literatura cabo-verdiana a nível nacional e internacional.A RFI aproveitou a ocasião do lançamento da obra na capital portuguesa para falar com a presidente do Instituto da Biblioteca Nacional de Cabo Verde, Matilde Santos, e com o investigador e autor do prefácio da nova edição de O Galo Cantou na Baía, Victor Barros.
7/5/202410 minutes, 37 seconds
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Cabo Verde: Universidade Técnica do Atlântico abre unidade orgânica na ilha do Sal

No próximo ano lectivo, a ilha do Sal, em Cabo Verde, vai ter ensino superior com a instalação do Instituto Superior de Aeronáutica e Turismo, uma unidade orgânica da Universidade Técnica do Atlântico, UTA. O Instituto Superior de Aeronáutica e Turismo vem juntar-se ao Instituto de Ciências e Tecnologias Agrárias, ICTA, em Santo Antão e ao Instituto de Engenharias e Ciências do Mar (ISECMAR), em São Vicente. Em entrevista à RFI o reitor da Universidade Técnica do Atlântico, João do Monte Duarte, disse que com a nova unidade orgânica, a UTA, quer trazer estudantes dos outros países da sub-região africana para Cabo Verde, isto tendo em conta a experiência da instituição.“Nós temos o nosso mestrado regional em Mudanças Climáticas e Ciências Marinhas que funciona em São Vicente, no Isecmar, e que recebe estudantes de 12 países diferentes da costa ocidental africana. A questão que se nos coloca é sempre a questão do financiamento. Havendo parcerias que permitam haver financiamentos para que os estudantes possam ter as condições, nomeadamente bolsas, para virem, nós não temos tido dificuldades de mobilizar os estudantes. Tanto que todos os anos, e já vamos na quarta edição do mestrado, todos os anos houve estudantes de todos esses países, dos 12 países aqui da costa ocidental africana, aqueles que fazem parte da rede da WASCAL. Nessa mesma linha de pensamento, nós achamos que cursos, nomeadamente na área da aviação civil, são cursos muito atractivos, nomeadamente o ramo de pilotos de linhas aéreas, pelo que perspectivamos também ter muito interesse de estudantes provenientes da nossa sub-região. Nós estaremos a trabalhar, nomeadamente linha de créditos e outras possibilidades a nível das instituições internacionais para criar as condições para mobilizar esses estudantes e termo-los aqui. Um dos principais objetivos da Airways Aviation, que é uma escola renomada, uma das maiores escolas privadas de formação a nível de aeronáutica, é de aqui em Cabo Verde aproveitar essa estabilidade do país para poder aceder a esse mercado de potenciais candidatos. A Airways Aviation tem feito alguns investimentos em outros países, mas que acabam por não tirar o proveito a 100% como gostariam por causa de alguma instabilidade, nomeadamente política. Então, eles estão a ver Cabo Verde, com um enorme potencial para que isso possa acontecer e possamos trazer os candidatos dos outros países para estudarem aqui” disse o reitor da Universidade Técnica do Atlântico, João do Monte Duarte.O  Instituto Superior de Aeronáutica e Turismo na ilha do Sal  arranca com dois cursos; um em Gestão e Fomento de Turismo e outro em Gestão e Planeamento de Aviação Civil e tem como principais parceiros a Universidade do Algarve, Portugal, e a empresa internacional de formação de pilotos e técnicos para a aviação - Airways Aviation.“No caso do curso de Gestão e Fomento de Turismo, a parceria estratégica será da Universidade do Algarve, de Portugal. E, para o curso de Licenciatura em Gestão e Planeamento de Aviação Civil, nós contamos com a parceria estratégica da Airways Aviation, que é uma escola internacional de formação a nível da aviação civil. Essas parcerias, em especial essa parceria com a Airways Aviation, vai nos permitir oferecer, em ambos os cursos, uma formação extra-curricular de pilotos de cabine para ambos os cursos de licenciatura. E, em especial, para o curso de Gestão e Planeamento de Aviação Civil, nós vamos ter o ramo de pilotos de linhas aéreas. Ou seja, a partir do terceiro ano da licenciatura, nós sabemos que as licenciaturas em Cabo Verde são de quatro anos.Portanto, a partir do terceiro ano, os estudantes que tenham as aptidões para tal, poderão seguir o ramo de pilotos de linhas aéreas, em que a parte teórica vai ser administrada aqui na UTA, mas toda a componente de voo e simulação, a parte prática, será feita nos vários centros que a Airways Aviation tem em vários países” explicou.E o curso de Licenciatura em Gestão e Fomento do Turismo, segundo o reitor “a ideia é inovar, com base naquilo que é o contexto de Cabo Verde, as mais-valias que temos nas diversas áreas do turismo, tirar proveito não só do turismo de sol e praia, que é uma grande mais-valia, nós temos que reiterar isso, é uma grande vantagem para o país, mas nós podemos diversificar porque nós temos condições, tem outras ilhas, nomeadamente o turismo de montanha, mas também o turismo científico, o turismo de eventos, vai estar focalizado em tentar ampliar aquilo que é a oferta formativa e formar quadros com conhecimentos específicos nessas áreas para que possamos dotar o país do capital humano necessário para o desenvolvimento deste sector.”Como atractivo para os cursos de Gestão e Fomento de Turismo e Gestão e Planeamento de Aviação Civil no Instituto Superior de Aeronáutica e Turismo na ilha do Sal, a Universidade Técnica do Atlântico oferece bolsas de estudo aos quarenta primeiros estudantes.As aulas que arrancam em Outubro próximo vão decorrer no Instituto de Formação e Emprego, na cidade dos Espargos, e depois passam para o edifício do Hotel Atlântico: espaço que o governo cedeu a UTA e vai servir também de alojamento para estudantes que vêm das outras ilhas e de outros países para estudar no Instituto Superior de Aeronáutica e Turismo no Sal.“Os alunos que agora têm uma bolsa de estudos, desde que consigam transitar, manterão a sua bolsa durante todos os quatro anos de licenciatura. O que não conseguimos garantir é que no ano lectivo 2025/2026 nós iremos oferecer bolsas aos novos, aos estudantes que venham.Mas para este ano, todos os estudantes, vão entrar com as suas bolsas e enquanto mantiverem a sua qualidade académica, vão manter as bolsas. Há semelhança que acontece nas outras unidades orgânicas da UTA. Nós estamos também a trabalhar a questão da nossa sede definitiva, que será no Hotel Atlântico, que já foi cedido oficialmente pelo governo à UTA. O Hotel Atlântico que é uma estrutura hoteleira, já dispõe de quartos, então nós, no processo de remodelação, vamos ter uma residência estudantil internamente no nosso campus para receber estudantes que necessitam de alojamento” avançou o reitor da UTA.Já o corpo docente do Instituto Superior de Aeronáutica e Turismo (ISAT) será misto, segundo João do Monte, composto pelo  pessoal interno da UTA, especialistas locais com elevada formação e capacitação nas áreas do turismo e aeronáutica, mas professores a serem cedidos pela Universidade do Algarve e pela Airways Aviation, que vão trabalhar na investigação também. A Universidade Técnica do Atlântico é a segunda universidade pública de Cabo Verde criada pelo governo no âmbito da Zona Económica Especial da Economia Marítima em  São Vicente.Tem como propósito potencializar os estudos marinhos e a sua contribuição no processo de desenvolvimento do país, no quadro do investimento na educação de excelência e em profissionais qualificados, na investigação, e na aposta em linhas de internacionalização da economia marítima para elevar a competitividade.Durante o período de instalação que vai até 2025, a UTA tem de ter quatro unidades orgânicas, estando já a funcionar o Instituto de Engenharias e Ciências do Mar (ISECMAR) na ilha de São Vicente, o Instituto de Ciências e Tecnologias Agrárias (ICTA) em Santo Antão e agora o Instituto Superior de Aeronáutica e Turismo (ISAT) no Sal e no ano lectivo 2025/2026 deverá arrancar o Instituto de Artes, Tecnologias e Cultura (IATC) na ilha de São Vicente.
6/30/20247 minutes, 36 seconds
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Ilha do Maio dá-se a conhecer em França como "a cereja no topo do bolo" de Cabo Verde

A ilha do Maio esteve em destaque no fim de semana na região parisiense. As suas praias e a sua população acolhedora são algumas das vantagens desta ilha para atrair turistas franceses e cabo-verdianos residentes em França. No entanto, os transportes e a desertificação dificultam o desenvolvimento económico da "cereja no topo do bolo" de Cabo Verde". Para dar visibilidade em França a Cabo Verde, as suas gentes e a sua história, a empresária franco-cabo-verdiana Dina Mendes, criou o evento Concept Store, Cap Verte en Scene, em Epinay sur Seine, nos arredores de Paris. A RFI esteve presente na última edição em que as ilhas do Sotavento estiveram em destaque. Dina Mendes começou por nos explicar a importância desta promoção."Queremos mostrar que há outros destinos de turismo em Cabo Verde. Não é só Sal e Boavista. A Boavista hoje é conhecida porque temos operadores turistícos que fazem voos com tudo incluído e directos. Cabo Verde tem dez ilhas e cada ilha tem uma história, tem um ecossistema. Cada ilha tem a sua diversidade. Então, a ideia é de promover essa diversidade cultural e ambiental, turística, de investimento e dar a conhece-las", disse Dina Mendes.Com pouco mais de 6.000 habitantes, a ilha do Maio, mesmo ficando ao lado da maior ilha de Cabo Verde, a ilha de Santiago, bate-se por maior visibilidade nos roteiros turísticos, embora seja a ilha deste arquipélago com mais praias e uma das que guarda com maior cuidado a autenticidade da morabeza que define este país. Assim, Emílio Ramos, vereador da Câmara Municipal do Maio com os pelouros da Educação, Comunicação e Sustentabilidade, entre outros, veio até Paris e explicou à RFI a importância desta presença em França."Há um número razoável de franceses que já recebemos, mas a nossa estratégia é aumentar o número de franceses, e de europeus, que vão ao Maio. O turismo é o nosso motor de desenvolvimento. Pelo menos é assim que Cabo Verde concebe essa matéria. E a nossa vinda a Paris vai no sentido de divulgar a Ilha do Maio para os franceses e cabo verdianos também residentes na França", explicou.Emílio Ramos explica que não é fácil chegar ao Maio, devido aos "problemas de transportes" que afectam todo o arquipélago, com o Governo a prometer para breve novas soluções marítimas e aéreas. E esta é uma dificuldade que impacta todos os maenses, cabo-verdianos e estrangeiros que querem chegar a esta pérola do Oceano Atlântico como explicou Leonor Queiroz e Mello, team leader do projecto Maio 2025 apoiado pela União Europeia, que também marcou presença neste evento em Paris."A principal dificuldade é os transportes. O vereador já disse, não é uma questão do Maio, é uma questão de Cabo Verde inteiro. Mas ainda agora estivemos praticamente três semanas sem abastecimento e pronto, isto impacta toda a gente", explicou.Para quem consegue chegar ao Maio, há algumas soluções de alojamento como pequenas residenciais ou ficar mesmo em casa de habitantes locais. Um ponto de partida para visitar as várias praias de areia cristalina da ilha."Há muitas coisas que o turista pode descobrir. Primeiro, as lindas praias. É a ilha de Cabo que tem mais praias de areia branca, água cristalina, um bom sol, sol quente. Também pode ter contacto com com a nossa cultura, que é muito diversificada a nível musical, artesanato e não só. Os povoados estão bem organizados a nível geográfico. E também há a conectividade. Nenhum povoado está isolado, todos são conectados por estradas. É uma ilha de morabeza. As pessoas são muito simpáticas, acolhedoras. Para além de haver também oportunidades de investimento na ilha", detalhou Emílio Ramos.Mas este crescimento que os habitantes esperam para a ilha não se deve fazer de forma desorganizada nem demasiado depressa, já que isso pode prejudicar o equilíbrio desta "cereja no topo do bolo de Cabo Verde"."Neste momento não estamos no top. Temos algum desenvolvimento turístico e não só, mas para lá caminhamos. Eu creio que dentro de poucos anos seremos a cereja no topo do bolo de Cabo Verde. Nós temos a responsabilidade de defender o equilíbrio, já que com a ilha do Fogo somos a única Reserva Mundial da Biosfera da UNESCO de Cabo Verde então temos que promover o crescimento económico da ilha para gerar rendimento de riqueza, melhorar a condição de vida da população, mas também respeitar os recursos que existem na ilha", defendeu o vereador.A União Europeia tem desde 2021 um projecto na ilha do Maio com o financiamento de 3 milhões de euros para acompanhar esta ilha num momento de transição, de forma a que mantenha e preserve o estatuto de Reserva Mundial da Biosfera da UNESCO, conquistado em 2020."Este projecto foi desenhado pela Câmara e pela União Europeia porque estava prevista a modernização do Porto e também estava a ser equacionada a perspectiva de haver um grande empreendimento turístico, a União Europeia sentiu a necessidade para preservar um bocadinho aquele investimento que já tem vindo a ser feito e também para o Maio não cair nos mesmos erros que outras ilhas. É um projecto para preparar o Maio para o turismo que se espera que venha a aumentar. Quando se fala do Maio, estamos a trabalhar com a Câmara Municipal, onde já fizemos, por exemplo, planos detalhados, cartografia, um plano de género, etc. Trabalhamos também com as delegações dos serviços descentralizados, trabalhamos com a sociedade civil, empreendedores, ambiente", indicou Leonor Queiroz e Mello.No entanto, este empreendimento turístico está a demorar a sair do papel. O empreendimento “Litlle Africa Maio”, com duas mil camas, já está previsto há alguns anos e visa resolver a situação da falta de hospedagem na ilha, mas também dar trabalho aos seus habitantes, permitindo a fixação da população na ilha."É um projecto de grande duração com investimento de 200 milhões de euros. Tudo indica que será o maior investimento privado alguma vez feito em Cabo Verde. Por isso houve uma série de negociações para acautelar que tudo esteja dentro da ordem e que finalmente o Maio não fique prejudicado. E faltava ainda o estudo de impacto ambiental. E este mês finaliza-se o período de produção de relatório e avaliação. E creio que em breve estaremos em condições de arrancar o empreendimento, que irá, portanto criar milhares de postos de trabalho. O Maio não tem tido o crescimento económico necessário para não só reter a população, mas tem estado a perder população a um ritmo galopante. Só para dar um exemplo, em 2010 éramos 8000 e tal, agora somos seis mil, perdemos cerca de 2000 pessoas em quase dez anos", contou Emílio Ramos.Sem oportunidade de trabalho no Maio e na procura de mais formação, muitos jovens maenses rumam a Portugal. De forma a apoiar estes jovens, no início dos anos 2000 foi criada a Associação Maense em Portugal, que apoia agora também jovens vindos de todos os países africanos de expressão portuguesa como explicou Marta Rodrigues dos Reis, membro desta associação."A ideia era ajudar os estudantes da Ilha do Maio para vir para Portugal estudar. Só que neste momento a associação cresceu de tal modo que agora estamos nos PALOP. Ou seja, qualquer pessoa dos PALOP pode fazer uma candidatura, porque nós fazemos a ponte entre o aluno e a escola. Um ou uma estudante sai da ilha do Maio, faz uma candidatura através de nós e nós temos várias parcerias com escolas em Portugal, de formação profissional, profissional superior, licenciatura e mestrado. Quem faz candidatura connosco tem uma redução de propina que varia de escola para escola. Há escolas que nos dão, por exemplo o alojamento e neste momento com um problema de alojamento em Portugal, é um vantagem enorme", concluiu Marta Rodrigues dos ReisOs encontros da Concept Store, Cap Verte en Scene, em Epinay sur Seine, vão continuar durante o Verão, trazendo aos arredores de Paris a morabeza cabo-verdiana.
6/14/202417 minutes, 3 seconds
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Arquivo de Amílcar Cabral regista interesse crescente de investigadores

Amílcar Cabral, o "pai da independência" da Guiné-Bissau e Cabo Verde, é uma figura de dimensão mundial e tem parte do legado num arquivo que, na Internet, disponibiliza mais de 10 mil documentos, entre os quais quase 1500 fotografias. Este arquivo, que está em Portugal há quase 25 anos, na Fundação Mário Soares e Maria Barroso, em Lisboa, é constituído por documentação produzida por Amílcar Cabral e representa vários aspectos da luta pela independência da Guiné-Bissau. Aqui estão reunidos textos emblemáticos para o conhecimento dos movimentos de libertação africanos, bem como documentação relacionada com o percurso pessoal de Amílcar Cabral.No ano em que se assinala o centenário de Amílcar Cabral, o interesse por uma das maiores figuras do nacionalismo africano não cessa de aumentar e o arquivo é um dos mais procurados por investigadores de todas as latitudes.A RFI visitou o espaço onde estão guardados os documentos produzidos por uma figura incontornável que tocou a vida de milhões de pessoas. Uma ocasião para uma conversa com o Director Executivo da Fundação Mário Soares e Maria Barroso, Filipe Silva, e com a arquivista Catarina Santos.Link para o Arquivo de Amilcar Cabral :http://casacomum.org/cc/arquivos?set=e_2617
6/2/202417 minutes, 24 seconds
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Roberto Chichorro apresenta a última exposição da carreira, "Entre Sonhos e Realidades"

O artista plástico moçambicano Roberto Chichorro apresenta "a última exposição" da carreira, intitulada "Entre Sonhos e Realidades" no Centro Cultural de Cabo Verde, em Lisboa. Os sonhos e o encanto pela vida, foram, e continuam a ser, a grande inspiração, a grande força criativa de Roberto Chichorro.O artista plástico moçambicano Roberto Chichorro, que em cada trabalho nos diz "gosto das pessoas, gosto do mundo, gosto da vida", apresenta a exposição "Entre Sonhos e Realidades" no Centro Cultural de Cabo Verde, em Lisboa.Naquela que Roberto Chichorro diz que será "a última exposição" da carreira, podemos fruir de um conjunto de obras que representa o trajecto criativo de um nome ímpar da arte contemporânea.Alguns dias antes da inauguração da exposição, que se pode visitar até 30 de Junho, Roberto Chichorro recebeu a RFI no ateliê, em Ourém. Um momento para uma conversa onde o artista plástico nos fala do fascínio pelos pássaros, pelas mulheres, e nos revela como a infância em Moçambique alimenta a capacidade de sonhar e pintar. Um momento para se desenhar um percurso de vida onde, apesar das "histórias amargas", Roberto Chichorro prefere pintar as "histórias bonitas".
5/13/202412 minutes, 49 seconds
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O Tremor que dá a conhecer música e arte através da descoberta dos Açores

"O cabeça de cartaz do Tremor é a ilha, o que nós fazemos é musicar as várias faces que esta ilha (São Miguel) tem", Márcio Laranjeiro, director do Festival Tremor. O Festival Tremor nasceu em 2014 para dar resposta ao desejo de "trazer vida até Ponta Delgada". Entretanto, a programação do festival que é concebido a pensar em quem vive nos Açores, mas que atrai muita gente de fora, ganhou grandeza. Actualmente o Tremor abrange mais dias, o número de projectos em cartaz aumentou e o espaço geográfico do festival dilatou-se, as iniciativas passaram a incorporar diferentes localidades da ilha de São Miguel.Este ano aconteceu a 11ª edição do Tremor, com uma programação que incluiu concertos, conversas, residências, exposições e laboratórios, onde se confirmou o cuidado na elaboração do cartaz assim como na relação com a natureza e população dos Açores.Durante cinco dias, a ilha de São Miguel foi o epicentro de um abalo de novas ideias que juntou mais de 40 projetos musicais, oriundos de todas as latitudes, num festival de música e arte pensado para inovar.Sinal do sucesso é o facto de muitos meses antes de se iniciar a mais recente edição, quando ainda faltava definir uma parte considerável do cartaz, já os bilhetes estavam completamente esgotados. Afinal, ir ao Tremor é uma experiência memorável que apela a todos os sentidos.A RFI falou com Márcio Laranjeiro, director do Tremor, que, entre outros temas, nos fala dos conceitos basilares do festival e como este nasceu.Tremor no Youtube: https://youtu.be/k1wdPr3Jo98?si=kSyF0i4l2EOB86Bt
5/4/202410 minutes, 20 seconds
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"As areias do imperador", peça sobre Moçambique colonial, em exibição na região de Paris

Até este sábado está em cartaz a peça de teatro "As Areias do Imperador", na região de Paris. O espectáculo tem assinatura de Victor de Oliveira. O encenador e actor, nascido em Moçambique, já apresentou a obra em Lyon, centro sul da França, mas também em Aveiro, Porto e Lisboa, em Portugal. O Teatro de Bobigny, perto de Paris, propõe, pois desde esta quarta feira, uma obra baseada nos escritos de Mia Couto. Em causa o amor da jovem moçambicana Imani e do sargento português Germano no final do século XIX.Uma peça que conta com um elenco moçambicano e português essencialmente, e também com uma equipa francesa .O actor e encenador Victor de Oliveira começa por nos contar o que está na génese do projecto.Foi um longo trabalho. Quer dizer, a partir do momento em que eu comecei a ler o romance de Mia Couto, que é um romance longo na edição portuguesa, portanto, são três tomos. Ao fim, chegam a 1500 páginas de "Mulheres de Cinzas", o primeiro, depois "A Espada e Azagaia" e depois, finalmente, "O bebedor de Horizontes". Quando comecei a ler o primeiro tomo "Mulheres de cinzas", comecei a pensar: Isto é incrível! E quanto mais ia lendo, mais me convencia que esse era o melhor texto para eu continuar na minha relação com Moçambique, na minha relação com uma equipa de actores e actrizes moçambicanos com quem eu tinha trabalhado em 2019 para o "Incêndios", que é um outro espectáculo.   E também uma maneira de continuar o meu questionamento às minhas questões em relação à colonização, a descolonização e toda esta relação entre Norte e Sul, entre a Europa e a África. Portanto, a partir desse momento em que eu comecei a dizer que eu tenho que fazer uma adaptação e comecei a trabalhar para a adaptação. Obviamente pedi os direitos ao Mia Couto e depois comecei a tentar ver em termos de produção, se seria possível, porque eu queria trabalhar com uma equipa moçambicana. Obviamente teria que trabalhar também com uma equipa portuguesa e com os meus técnicos franceses.  Portanto, três países não é fácil. Com uma data de problemas, obviamente económicos, sobretudo, mas não apenas um projecto muito grande, porque há muitos actores. São 15 actores no palco, actores e actrizes, mas a equipa técnica são mais de 20 pessoas ao todo. Ou mesmo com a equipa de produção são quase 30 pessoas.Portanto, eu antes mesmo de começar a trabalhar na adaptação, eu teria que ver de que maneira é que seria possível em termos de meios para o fazer com os produtores. E pouco a pouco fui falando, fui encontrando pessoas e os meus parceiros tornaram-se co-produtores do projecto. E aí as coisas foram avançando também para conhecer uma parte dos actores portugueses que eu não conhecia, ter a certeza que poderíamos ter a primeira parte dos ensaios em Maputo. Portanto, eu diria que demorou mais ou menos três anos. Aliás, talvez um pouco mesmo, um pouco mais, porque no início o espectáculo deveria ter sido criado no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa. Mas finalmente, o novo director do teatro Dona Maria, decidiu que não poderia ser nesse ano, porque eles não tinham orçamento. Então decidiu fazê-lo no ano seguinte. E no ano seguinte, que foi no ano passado, era impossível, porque o teatro começou em obras e o dona Maria II está em obras.   Então foi por isso que nós, na semana passada apresentámos o espectáculo em Lisboa. Mas foi na Culturgest, integrado no ciclo "Abril Abriu", que é o ciclo que o Dona Maria II criou para as comemorações, digamos assim, da Revolução de 25 de Abril [de 1974 em Portugal]. E tudo isso, como eu disse desde o princípio, foi muito tempo da ideia a partir da vontade e depois o trabalho da adaptação, o trabalho, a busca dos co-produtores, constituir toda a equipa artista e técnica. Até conseguirmos, em Setembro do ano passado, conseguirmos finalmente estrear o espectáculo no Teatro Aveirense, em Aveiro. Depois apresentámos no Teatro Nacional São João, no Porto, e depois apresentámos em Lyon, no Teatro Les Célestins. E agora vamos apresentar aqui em Bobigny, no MC93, e vamos estar aqui até sábado.Fazia referência ao facto de os ensaios terem tido lugar precisamente em Moçambique, em Maputo. Este espectáculo tem estado a viajar, como acabou de nos fazer referência. Ele vai viajar de novo para Moçambique?Nós esperamos que sim. Nós estamos a tentar que isso seja possível, porque, obviamente, o problema com Moçambique é que os meios não são muitos/ E se bem que uma parte da equipa é moçambicana, portanto eles já estão em casa. Mas há toda outra equipa dos portugueses e dos franceses que vive aqui em Portugal e em França. Portanto, para nós, conseguimos fazer com que 12 ou 13 pessoas possam vir da Europa para Moçambique não é fácil. Portanto, nós estamos a trabalhar com os nossos parceiros moçambicanos, portugueses e franceses para que isso seja possível. Mas quero acreditar que será possível, porque temos que o fazer lá, porque uma parte dos ensaios foi feita lá, faz parte da história de Moçambique. Uma parte da história é a captura do último imperador que se chamava Gungunhana pelo capitão Mouzinho de Albuquerque. Gungunhana tornou-se uma figura histórica.  Lendária !Lendária em Moçambique ! Portanto, que nós possamos fazer um espectáculo em que essa figura lendária esteja em palco é muito importante. Tive ainda mais a certeza que temos que o ir fazer em Moçambique quando nós apresentamos o espetáculo em Lisboa, porque o autor do texto, Mia Couto, veio ver no dia da estreia. Ele adorou o espectáculo e falou bastante connosco. E também ele diz que é fundamental podermos apresentá-lo lá. Portanto, vamos tentar.Tem que ver com o amor entre uma moçambicana e um soldado português do final do século XIX, não é? Como é que esta história de facto, está a ser vivida? Como é que têm sido as reacções dos espectadores? Já fez referência às viagens que o espetáculo tem feito. Como tem sido o retorno ? Falou-nos agora do Mia Couto. Para além de ele, o que é que diz o público ?Tem sido incrível. Porque obviamente que não é... Por exemplo, quando apresentámos no Porto, em Aveiro, depois apresentamos a reacção não é a mesma dos portugueses e dos franceses. Para os franceses, eles estão deliciados em, de repente, descobrir o mundo, que eles não conhecem. Uma história que eles não conhecem, porque os franceses conhecem muito pouco da história colonial portuguesa, muito pouco. Moçambique, muitos deles nem sequer sabem geograficamente onde se situa Moçambique !Portanto, de repente, estar-se a ouvir uma história que é uma história sobre a colonização com moçambicanos, com actores moçambicanos que falam em changana, uma língua que eles não conhecem, nunca ouviram na vida, com actores portugueses ! E toda essa história estar a ser contada em palco para eles. É incrível ! Porque têm a impressão de viajar, de viajar no tempo e de viajar geograficamente. Têm essa impressão. Isso é muito bom. Para os portugueses e para os moçambicanos que viram o espectáculo em Aveiro, no Porto e em Lisboa é muito mais forte ! Porque de repente, é a própria história e a nossa história comum !  A história de colonização, que em muitos aspectos, não foi ainda realmente cicatrizada. É a história de um amor, que é um amor que por muitas vezes é difícil, porque é entre um branco e uma negra. Portanto, tudo isso faz com que seja muito mais forte ! Porque de repente as pessoas são tocadas directamente. Houve pessoas no Porto e em Lisboa, que estavam extremamente tocadas, extremamente emocionadas, porque a história de amor entre a Imani e o sargento Germano é algo que lhes dizia pessoalmente e que estava ligada a algo muito maior, portanto. E para aqueles que não estavam talvez tão ligados em relação à história de amor e mais à história da descolonização... de repente é algo que foi muito forte. Porque muitas das deixas das personagens são destas que vão muito para além da história das personagens, vão muito para além, estão muito ligadas à história universal que é nossa. A história comum entre os moçambicanos e os portugueses, onde os portugueses e grande parte das ex-colónias. Portanto, e essa história é muito importante e as pessoas vêem, sentem. E eu estou agora muito curioso de ver como é que vai ser aqui em Bobigny porque o público parisiense é extremamente exigente e conhece pouco justamente essa história. Estamos todos muito curiosos em ver como é que eles vão para esta estreia.Essa estreia coincide com o Dia Mundial do Teatro, precisamente [27 de Março]. Você trabalha em teatro há muito tempo e agora aqui, como encenador. Em que medida é que já houve outros projectos em que você tenha feito também encenação ? Ou pretende, por ventura, no futuro, pegar noutros projectos para levá-los a cabo?Os projectos acontecem. Eu sou encenador há relativamente pouco tempo. Sou um actor já há muito, muito tempo, mas encenador há relativamente pouco tempo. E até agora, os projectos que eu tenho tido vontade de fazer e que eu tenho conseguido fazer são ligados a coisas muito pessoais, extremamente íntimas, que é a minha história com o meu país de nascimento, com as minhas raízes, com questões que me acompanharam durante a minha infância, a minha adolescência e enquanto adulto. Portanto, não é algo em que eu digo "O que é que eu vou fazer agora ? É algo que vem porque de repente encontro algo que me diz "Ah, isto eu tenho que fazer ! Disto tenho que falar !" Porque tenho vontade e porque tenho necessidade ! Por vezes, e isso é muito importante.   O espectáculo, por exemplo, se estivermos a falar em termos daquilo que poderá acontecer depois, mais tarde... Há um espetáculo que eu fiz antes das "Areias do Imperador", em que o tema é relativamente à volta da mesma coisa. Chama-se "Limbo", mas é um aspecto muito diferente, que é um monólogo. É um monólogo que eu escrevi, que eu interpreto e que eu enceno, que foi criado em 2021 no Teatro do Bairro Alto, em Lisboa, mas que está em turnê um bocado por todo o lado e que na próxima temporada, em Janeiro de 2025, será apresentado aqui em Paris, no Théâtre National de la Colline. E eu estou extremamente contente e feliz por isso, porque é uma forma muito simples. É um monólogo que fala sobre, mais uma vez a colonização portuguesa, a mestiçagem e a política de assimilação portuguesa nas ex-colónias durante o período colonial do pós independência e depois do espaço e do lugar daqueles a quem chamamos afro-descendentes na Europa hoje.Portanto, são temas à volta dos temas de que eu falo nas "Areias do imperador" e que um espectáculo como este, que está tão ligado à história de Moçambique e de Portugal, que seja apresentado aqui em França, no Teatro Nacional, para mim é muito bom, mas tem a ver com coisas que são questões que me atravessam e que me parecem importantes tratá-las em termos artísticos. Portanto, para saber o que é que eu vou depois criar, por enquanto as coisas têm que vir, elas vêm !Sufaida Moyane, actriz moçambicana, encarna o papel de Imani. Ela começa por realçar a importância de trabalhar num projecto tão moçambicano falado tanto em português como em changana. Para nós, para começar, como actores moçambicanos, foi muito gratificante ter feito esse trabalho, ter trabalhado com uma coisa que é nossa, nossas línguas e tal. Bom, esta é uma ideia que começou com o encenador que é o Victor de Oliveira e convidou-nos a nós, que já tínhamos trabalhado com ele num projecto anterior.O "Incêndios" em 2019.Exacto. Então ele levou a maior parte da equipa moçambicana para participar neste projecto também. E neste projecto foi muito mais participativo por parte de actores, porque, por exemplo, o Victor, ele não falava changana. Agora fala, ele actua. Nós tivemos que confirmar uma série de coisas da cultura dos Changanas. Tivemos que participar na adaptação para trazer algumas coisas culturais locais. Ele é moçambicano, mas há muito tempo que ele não está em Moçambique, então não é fácil saber de várias coisas. E foi um processo muito, muito, muito bonito !  E levou muito tempo também, porque, como vê, tem muitos actores, é longo. Fomos cortando, fomos acertando, foi doendo tirar algumas coisas que eram bonitas, boas, mas nós tínhamos que afinar a uma certa narrativa, não é? Então foi e está a ser ! Continua a ser um processo muito bom. Nós esperamos então levar esse espectáculo para Moçambique. E é muito bom para nós, como moçambicanos, a falar changana e perceber que o público está connosco a ouvir e a ver essa história.   Aqui em França então é pior porque eles têm de ver a legenda quase todo o espectáculo ! Em Portugal ainda tem uma boa parte de português que não precisa de tradução e em Portugal também nós encontrámos muitos moçambicanos. Isso é bom, que não precisavam de nenhuma legenda, então podiam reagir directamente ao changana e ao português, ou seja, estavam livre de olhar para aquelas telas de legendas, simplesmente estar a curtir o espectáculo. Por isso nós achamos que devemos levar esse espetáculo para o nosso país, porque em Moçambique, apesar de nós trazermos o changana de lá, nós não fazemos espectáculo em changana, não temos este hábito de fazer as coisas nas nossas línguas, não é? Então fazemos em português. Então aqui, assim como em Moçambique, vai ser quase que uma surpresa, uma coisa diferente. Acho que não é comum as pessoas fazerem espectáculos e usar as línguas locais. Geralmente usam-se as línguas mais internacionais em inglês, francês. E quando se sai para um país diferente, usa-se aquela língua. Então é muito bom. Isso para nós é uma valorização. Estamos a dizer ao mundo que nós existimos, que nós falamos esta língua, que ela existe e que é linda acima de tudo !  E como é que é contracenar precisamente, então, com portugueses, com franceses também ?É muito bom. Colhemos sempre a experiência. Eu sempre digo "Quando vou trabalhar com pessoas diferentes, vou sempre colher alguma coisa, um lugar diferente, um espaço diferente, um palco diferente, o encenador diferente, um texto diferente." Então, é sempre muito bom ! E depois existe aqui uma beleza neste espectáculo que é gente, ouvir uma certa música em termos de línguas diferentes, ouvir changana, ouvir o português, ver aquele sotaque, depois o outro, ouvir o francês e depois um francês que fala changana, um francês que fala português. Então é uma música linda. Eu acho que o público que vê pela primeira vez tudo isso sente muito mais do que eu estou a dizer. Mas mesmo eu sinto isso ! Então é uma experiência muito boa. A gente sempre colhe alguma coisa.É mais do que uma história de amor. Há uma história de amor, também há uma história de preconceito, de traição. O que é que você viu por detrás deste enredo?Nas "Areias do Imperador",  não é ? A trilogia toda do Mia Couto trata muitas coisas. É como se fosse, como se o Gungunhana fosse uma... não uma desculpa. Um pretexto ?Sim, Mas é uma história sim, mas o Gungunhana é uma história. O Mia Couto é como se ele estivesse a contar as histórias das pessoas que estão também à volta do Gungunhana. Porque temos a Imani, que é a protagonista que conduz e que conta esta história toda. Mas também temos muita coisa lá dentro. As lutas, as guerras, as raças, as línguas. Há uma questão lá mesmo de línguas que é colocada na trilogia, que é o facto de uns pronunciarem assim os nomes. Uns, por exemplo, os portugueses acabam transformando alguns nomes. Isso é um facto real.   Temos muitos nomes, muitos apelidos que estão transformados e agora estão registados desta forma porque o português não conseguia pronunciar. Então dizia assim "Olha, agora vai ser isso". E às vezes matava o significado. Por exemplo nós temos zixaxa. Os portugueses pronunciam de forma diferente. Temos um exemplo de nome como camadesolo. Em changana, quer dizer joelho. Significa que existe alguma história por detrás desse lugar e deram o nome de alguma coisa como "joelho". Se calhar era um lugar, eu não sei a história em que as pessoas iam lá e ajoelhavam, mas o português não conseguia pronunciar isso e disse "Não, isso é Matola !" Mas Matola não tem significado nenhum. E existem muitos outros nomes que estão a transformar. Então uma questão de línguas que está lá e que nós também tentamos trazer aqui. Alguns dizem zixaxa de forma diferente, consoante as pessoas. Por exemplo, eu corrijo o Germano. A Imani corrige o Germano. "Não é Gungunhana, é Ngungunhane". Então é uma série de coisas e pronto, existe. Acabamos escolhendo esta linha porque não podemos trazer tudo, que é esta linha da história da humanidade. Que é uma história de amor, mas que por detrás tem, isto estão as guerras. Em paralelo está a captura de Gungunhana. Então vamos contar tudo isso. Só que seguindo esta linha da Imani.Antes de ir para Moçambique, porque o projecto, de facto, é chegar a Moçambique. Já passaram por Portugal, pela França. Tem algum nervosismo especial por estrear perante estes públicos novos? E como é que eles têm reagido?Ah, temos sim. Sempre acho que o actor tem sempre algo, algo de nervosismo quando vai actuar. Eu em particular, quando não sinto, fico preocupada. Acho que alguma coisa não está bem, porque tem que se sentir. Sim, a gente sente. Por exemplo, ficamos muito preocupados pelo facto de trazer aqui na França e eles não falam português. E depois, por exemplo, em Portugal, acho que existem algumas pessoas que não conhecem essa história de Gungunhana. As pessoas novas porque não lhes ensinam, porque talvez não lhes interessa. Para alguns, Gungunhana não tem importância nenhuma. Era visto como um bêbado. como não sei o quê ! Representa isso, então ficamos de alguma forma até preocupados."Será que o público há-de vir? Será que isto lhes interessa, não é"? Será que ao verem há a questão de raças também? Será que ao verem fotografias, cartazes de negros eles virão e lhes interessa ver esses africanos e estes moçambicanos? O que é que eles imaginam que hão-de vir cá ver? Será que eles não pensam que virão cá para... ? Será que não vai ser um espectáculo que vai acusar de racismo, ou o quê então ? E isto passa. E nós conversamos, sobretudo nós, os actores moçambicanos e negros, porque temos actores moçambicanos brancos neste espectáculo também. Então pensamos nisso. Tipo "Será que lhes interessa? Será que virão?" Então é sempre uma surpresa quando, de repente, que vemos o público lá e a reagir e a reagir bem, isso é muito bom.Por seu lado, Miguel Nunes encarna o sargento português Germano de Melo, que se apaixona por Imani. Ele começa por contar como é que se envolveu neste projecto sob a batuta de Victor de Oliveira. O Victor estava a procurar um actor para desempenhar este papel e contactou-me para fazer uma audição. Pediu-me para preparar uma das cartas do Germano que ele envia ao superior dele, militar. E preparei esse pequeno texto e ele convidou-me para fazer o espectáculo. E eu fiquei muito contente e tenho estado cada vez mais entusiasmado com esta aprendizagem constante que é fazer um espectáculo durante muito tempo, com alguns intervalos, mas que esse tempo permite que o espectáculo se transforme e que o personagem também se desenvolva, cresça, se solidifique.Imagino que seja gratificante. Sei que ensaiou em Moçambique que o espectáculo já passou por dois países distintos. Como é que isto está a tomar forma?Sim, eu acho que, apesar de tudo, o mais gratificante é uma peça que fala sobre o nosso passado e que é nos corpos presentes dos actores e das actrizes que o vivem em palco que este texto se torna vivo e que estas relações se tornam vivas com a dureza que têm, com a violência que têm. Mas também com a possibilidade de transformar essa violência noutra coisa.Foi muito especial voltar a fazer no Dia Mundial do Teatro [27 de Março]. Foi a minha estreia num palco fora de Portugal neste dia. E fazê-lo com estes actores, com estas palavras do Mia Couto e com esta encenação do Victor de Oliveira, num grupo muito grande e muito experiente, é assim muito gratificante.O que é que foi mais desafiante de tudo?O mais desafiante é sempre encontrar essa espécie de verdade, mesmo que...Aqui não há bom, não há vilão !  Acho que os vilões, naturalmente... Quem iniciou esse percurso violento e agressivo fomos nós. Fomos nós, portugueses, nós, homens brancos, que despoletámos uma guerra num território que tentávamos dominar a partir dos gabinetes do Terreiro do Paço, como o próprio Santiago da Mata diz.E também como outro personagem diz, numa fala muito, que eu acho muito pertinente "Nesta guerra, quanto mais armados estamos, menos preparados estamos de verdade". E às vezes, o que é mais difícil é a cada dia renovar esse encontro com o texto, com as palavras, com essa verdade, para que aconteçam essas tensões no palco, para que o espectáculo não desmorone, porque vive sobretudo dessas relações e dessas tensões entre os personagens.Eu sei que o Victor [de Oliveira] gostaria também de a prazo de fazer com que o espectáculo chegasse a Moçambique. Acredita nisso? Gostaria também de lá ir agora já com o projecto terminado ?Sem dúvida. Acho que não vamos descansar enquanto não entregarmos este espectáculo à sua origem, a Moçambique. Acho que devemos isso ao texto, à história, ao país, aos moçambicanos, aos actores moçambicanos e às actrizes. E por isso acho que vai ser assim uma recta final que não vamos poder descansar enquanto não concretizarmos esse desejo.O espectáculo "As Areias do Imperador", está em cartaz em Bobigny, no MC93, perto de Paris, até este sábado, 30 de Março.
3/28/202422 minutes, 1 second
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Amílcar Cabral e Zeca Afonso juntos no filme "Bissau Vila Morena"

O documentário "Bissau Vila Morena", realizado por Manuel Loureiro, mostra como o Teatro do Oprimido, na Guiné-Bissau, agarrou no tema de Zeca Afonso, Grândola Vila Morena, e o adaptou ao ritmo Tina. Bissau Vila Morena é o documentário que nos mostra como uma canção pode unir dois povos. A curta-metragem, que tem como referência duas grandes figuras comprometidas com a luta pela liberdade, Amílcar Cabral e Zeca Afonso, já iniciou o circuito dos festivais de cinema e arrebatou o galardão máximo no Portugal Indie Film Festival.O filme, realizado por Manuel Loureiro, mostra como o Teatro do Oprimido, na Guiné-Bissau, agarrou no tema de Zeca Afonso, Grândola Vila Morena, e o adaptou ao ritmo Tina. A película, produzida pela Associação Ser Mudança, tem a força de um documento poético sobre a coesão entre as diferentes etnias guineenses e também nos pode remeter para a possível consonância entre o 25 de Abril português e o 24 de Setembro guineense. A origem de Bissau Vila Morena, o resgate da cultura e identidade guineenses, os próximos projectos documentais, um sobre mutilação genital feminina e outro sobre a história da música da Guiné-Bissau, são alguns dos temas da entrevista com o realizador Manuel Loureiro e com o presidente da Associação Ser Mudança, Roger Mor.Site da Associação Ser Mudança :http://sermudanca.pt 
2/10/202410 minutes, 19 seconds
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O belo na Ressonância do Ser que Nuno Martins apresenta em Lisboa

Ressonância do Ser é o título da exposição de pintura que Nuno Martins apresenta no Centro Cultural de Cabo Verde. Na primeira mostra que o artista e poeta cabo-verdiano realiza em Lisboa, o fruidor é confrontado com um jogo de experiências que remetem para uma introspecção onde o ser e o outro se constroem enquanto átomos pictóricos e se prestam a serem representados.  A intensidade poética de Ressonância do Ser vai além das expressões que se nos mostram, apela à razão, à evolução filosófica e cognitiva para que nos aproximemos de uma contemplação do belo.A exposição, que apresenta uma selecção de obras do multifacetado artista, está dividida em três núcleos temáticos e pode ser visitada no Centro Cultural de Cabo Verde, em Lisboa, até 23 de Março.Clique aqui para conhecer a obra de Nuno Martins.Veja aqui algumas das pinturas do artista: 
1/27/202411 minutes, 34 seconds
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"Maior sucesso para nós tem sido na área da reconciliação e pacificação" de Timor-Leste

Ramos-Horta está em Paris onde teve um encontro com Emmanuel Macron e onde é patrono de um prémio da organização Líderes para a Paz. Em entrevista à RFI, o Presidente de Timor-Leste e Prémio Nobel disse que na Ucrânia vão ser precisos muitos anos para construir a paz e que a reconciliação entre timorenses é o maior sucesso do país. Em entrevista à RFI, o líder timorense falou sobre o encontro com o Presidente Emmanuel Macron, o interesse de França em Timor-Leste, mas também sobre a paz e a reconciliação em Timor-Leste como um potencial exemplo para os conflitos que existem actualmente no Mundo. José Ramos-Horta disse ainda estar preocupado com a situação na Guiné-Bissau, mas que espera que o seu homólogo Umaro Sissoco Embaló consiga dialogar com todos os guineense a bem da democracia no país.RFI: Como correu o encontro com Emmanuel Macron?José Ramos-Horta: Fui muito bem recebido por Emmanuel Macron. Falámos sobre Timor-Leste, eu dei-lhe as notícias, um quadro positivo de Timor-Leste tranquilo [...] Num quadro mundial tão negro, pelo menos há um oásis de tranquilidade.Do ponto de vista regional e internacional, falámos da China, de Myanmar, eu enfatizei o problema de Myanmar e outras questões. Falámos sobre a fome no Mundo e do meu papel com o Presidente do Chile para mobilizar e sensibilizar o Mundo para as pessoas com mais idade, mas também do combate à subnutrição infantil. É uma questão moral e ética.Falei no meu interesse em ver uma Embaixada francesa em Timor-Leste, ele reagiu bem e vamos ver agora como fazer o seguimento disto. O encontro foi magnífico e caloroso.Há actualmente em Timor-Leste um grande investimento francês, do grupo Bolloré, que é o porto de águas profundas de Tibar Bay. Falou com Emmanuel Macron sobre outros projectos e outras oportunidades de investimento em Timor?No sector hoteleiro, Timor-Leste tem urgência em atrair investimento. Desde logo, com a necessidade de diversificar a nossa economia, mas para além do turismo há muita coisa a fazer. Uma delas são as nossas infra-estruturas com a modernização do nosso aeroporto. Outra área são as telecomunicações, este ano esperamos receber o cabo submarino que vem da Austrália que vai modernizar as telecomunicações em Timor e precisamos de hotéis, para além do turismo, para a nossa adesão à ASEAN, já que vamos receber centenas de pessoas e falei da importância de mobilizar os grandes conglomerados franceses de hotéis.Falaram também desta adesão em curso à ASEAN? A França apoia a rápida adesão de Timor-Leste a esta organização?A União Europeia no seu todo e países individualmente como Portugal sempre apoiaram a adesão de Timor à ASEAN e, neste momento, vários países têm programas de apoio para acelerar e melhorar os nossos recursos humanos. É um enorme investimento e uma exigência para respondermos à agenda da ASEAN, como a União Europeia, com reuniões intermináveis e isso mobiliza centenas de pessoas. A França e a Inglaterra ofereceram-se para intensificar a formação de quadros timorenses.Está em França para participar na atribuição de um prémio da organização Líderes pela Paz do antigo primeiro-ministro francês Jean-Pierre Raffarin. O que pode dizer sobre a paz no Mundo actualmente?Já perdi a conta das intervenções que tenho feito ao longo de anos sobre a Paz e, às vezes, tenho dito até a outros Prémio Nobel, talvez tenhamos passado a mensagem errada porque há tanto tempo que falamos de paz e o Mundo está pior.Em Roma, falei com o Papa Francisco, que me recebeu em Roma calorosamente, sobre a Paz e a minha frustração e partilhamos estas angústias, mas ele disse que temos de continuar a combater pela Paz e não há que desistir.Esta iniciativa com a organização Líderes pela Paz é extremamente importante, sobretudo tendo às portas da França a guerra da Ucrânia, com todas as consequências e as feridas vão durar muitos e muitos anos.No dia em que as armas se calarem, começa a reconstrução do país e começa também o sarar das feridas e isso vai exigir líderes com credibilidade de parte a parte, na Rússia, na Ucrânia e na Europa toda. Sem sarar as feridas da guerra, a paz vai ser sempre frágil.E nisso Timor pode ser um exemplo?Eu não sei se seremos exemplo para alguém, mas a verdade é que o maior sucesso para nós tem sido na área da reconciliação e pacificação nas relações internas entre timorenses, entre timorenses com a Indonésia e com países que no passado apoiavam a Indonésia como os Estados Unidos ou a Austrália, hoje temos boas relações com eles. Assim como com o Japão ou com a China.Países pequenos têm muito menos responsabilidades. Isto é, temos capacidade para fazer mal a nós próprios, não temos capacidade para fazer mal aos outros. Agora os países grandes quando tomam decisões erradas, afectam todos nós.Sendo Timor um país pacífico e calmo, os nossos amigos como Portugal já não se preocupam connosco. Somos uma preocupação a menos. Ao longo de anos foi um angústia para Portugal e outros países amigos, hoje já não. Timor é uma consolação.Esteve com o Papa Francisco que lhe disse que irá a Timor este ano. O que é que isso significa para os timorenses?Nada no Mundo é mais importante para os timorenses do que uma visita papal. E Sua Santidade disse-me que quer ir a Timor-Leste. Uma equipa papal já está a caminho de Timor para estudar o programa e todas as condições relacionadas com uma visita talvez este ano, eu digo talvez porque não posso adiantar o anúncio oficial por parte da Igreja.Uma visita de Sua Santidade é o acontecimento do século para nós, mas preocupa-me o estado de saúde do Papa Francisco.Foi durante um ano e meio enviado do secretário-geral das Nações Unidas para a Guiné-Bissau. Qual é a sua mensagem para este país que está passar um momento muito conturbado?Há muita preocupação perante as notícias vindas da Guiné-Bissau sobre a situação actual, mas eu acredito que o senhor Presidente Sissoco que eu conheço bem, esteve em Timor-Leste há pouco tempo, falo com ele muitas vezes ao telefone, que encontre uma oportunidade de diálogo com Domingos Simões Pereira, o presidente da Assembleia Nacional guineense e com todos os outros para que a Guiné-Bissau seja pacificada e estabilizada.Tem um potencial enorme para ser um país próspero na região. Tem todos os recursos naturais e estratégicos.Eu acredito que o Presidente Sissoco vai falar com os seus irmãos guineenses e é preciso que todos sejam humildes, disponíveis para o diálogo.Diferenças políticas há sempre numa democracia, mas temos de as saber gerir e aceita-las. Quem é eleito governa, nós facilitamos a vida a quem é eleito, não vamos criar obstáculos ou problemas. É a minha presidência em Timor-Leste.
1/25/20241 minute, 11 seconds
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"Amílcar Cabral é uma bússola", Rita Ié, directora da Casa da Cultura da Guiné Bissau

No dia em que se assinalam 51 anos do assassínio de Amílcar Cabral, em Conacri, a 20 de Janeiro de 1973, e no ano em que se comemora o centenário do nascimento de Cabral, foi inaugurada a Casa da Cultura da Guiné-Bissau. O projecto, que surge após alguns actores culturais reconhecerem a ausência de representação da cultura da Guiné-Bissau, foi apresentado na sede da UCCLA (União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa), em Lisboa."Albergar toda a vasta cultura da Guiné-Bissau e todos os actores culturais" são os objectivos da Casa da Cultura na capital portuguesa, por enquanto ainda sem espaço físico, que tem como directora a socióloga e escritora Rita Ié.O destaque que a programação da Casa da Cultura da Guiné-Bissau vai dar à celebração do centenário de Amílcar Cabral, a importância de realizar a inauguração da Casa da Cultura a 20 de Janeiro, o legado de Amílcar Cabral para as gerações mais novas e as situações complexas que se vivem actualmente na Guiné-Bissau, são alguns dos temas abordados ao longo da entrevista com Rita Ié.
1/20/202411 minutes, 51 seconds
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Encontro histórico de Jazz em Bissau

Os músicos portugueses de Jazz André Sousa Machado, Bernardo Moreira, João Pedro Coelho e João Moreira estiveram em Bissau, onde tocaram um repertório que criou pontes entre Portugal e a Guiné-Bissau. Os músicos portugueses de Jazz André Sousa Machado, Bernardo Moreira, João Pedro Coelho e João Moreira estiveram em Bissau com três concertos: no Centro Cultural Português de Bissau, na escola de música Nino Galissa e no hotel Coimbra.Fazer estes três concertos na Guiné-Bissau "foi um sonho tornado realidade", começou por lembrar Bernardo Moreira. O convite partiu do Director do Centro Cultural Português em Bissau, António Nunes, que lançou o desafio de levar à Guiné-Bissau um grupo de jazz a tocar música instrumental."Os concertos correram muito bem. As salas estiveram cheias e houve um lado emocional por tocar na escola em construção do Nino Galissa. O espaço é absolutamente fantástico. É um projecto embrionário e foi marcante poder inaugurar o espaço", afirma André Sousa Machado.Também João Pedro Coelho partilha a emoção que foi "chegar a Bissau e tocar com pessoas que estão a aprender música, com um background muito diferente, foi muito emocionante".Em Bissau, os músicos portugueses deram um workshop. Para João Moreira este foi "um desafio no sentido em que é pouco tempo para se falar de muita coisa. Naquele momento já não sou músico a tocar, nem o ouvinte na assistência, sou um professor. Tentei explicar  coisas que podem tomar o seu tempo, cinco a dez anos de estudo: o desafio foi tentar falar destas coisas de forma directa e inteligível",contou."O músico jazz está preparado para ter uma capacidade de adaptação quase imediata e instantânea ao que ouve e o rodeia, mas claro que há químicas, como em tudo na vida. As relações musicais também vivem da química e é verdade que entre nós há uma cumplicidade que têm a ver com as nossas personalidades, gostamos das mesmas coisas. O público é sempre muito sensível àquilo que vê e que ouve e esse resultado é que faz com que haja essa troca de energia entre o palco e plateia. Quando as coisas funcionam dessa maneira é como que um somatório de emoções várias que circulam na sala", descreve Bernardo Moreira. O repertório foi escolhido para criar uma ponte entre Portugal e Guiné-Bissau. "O João Pedro tem um trio onde eu e o André tocamos. Eu tenho alguns projectos em que cruzo a música popular portuguesa com o universo do Jazz. Propus mostrar este nosso percurso e trouxemos duas figuras absolutamente incontornáveis da história da musica popular em Portugal: trouxemos um tema do Zeca Afonso e outro tema do Carlos Paredes", descreve Bernardo Moreira.De Bissau, os músicos portugueses levam "uma colecção de emoções: muito do que vivemos aqui é absolutamente comovente, fascinante e fica um sentimento de maravilha e deslumbro. É inegável que há um choque com uma realidade duríssima e às vezes fica difícil conciliar sentimentos", concluiu João Moreira. 
12/24/202315 minutes, 2 seconds
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"O nosso parlamento continua intacto e deve continuar a funcionar"

A polícia guineense impediu esta quarta-feira, 13 de Dezembro, o acesso de deputados da coligação PAI - Terra Ranka à Assembleia Nacional Popular e dispersou as pessoas que se encontravam em frente ao Parlamento com recurso a granadas de gás lacrimogéneo.  Entre as 10 e 10h30 da manhã, a Polícia de Intervenção Rápida atirou granadas de gás lacrimogéneo nas estradas que dão acesso ao parlamento, obrigando deputados cidadãos e crianças a fugir. Foi o caso do militante Queba que acompanhámos numa corrida à procura de um lugar seguro."Estive em frente ao Parlamento esta manhã e, de repente, surgiram carros com polícias para dispersar as pessoas. As forças tomaram diferentes posições; norte, oeste e sul para impedir o avanço das pessoas. A polícia começou a dispersar as pessoas para que a comunidade internacional e o mundo não veja que os guineenses estão a reivindicar", conta o jovem militante.Sabino Junior, jovem quadro do partido PAIGC, defende que "o uso da violência contra a população foi inútil" e mostra-se surpreendido quanto "à agressão dos deputados pelas forças policiais"."Infelizmente, constatamos uma vez mais forças da ordem e segurança a usar a violência contra a população. Esta violência de forma inútil é dispensável. Ninguém está a fazer barulho ou a criticar. Todos estão parados a tentar ver o que está acontecer", alertou.O jovem quadro do partido PAIGC lamenta que "crianças a caminho da escolas assistam a cenas desta brutalidade. É triste que aconteçam estas coisas". A escola do primeiro ciclo Patrice Lumumba, que se encontra perto do parlamento, foi evacuada por causa do fumo do gás lacrimogéneo que chegou ao interior da escola.Depois da dispersão dos deputados, o porta-voz dos 54 deputados do PAI-Terra Ranka, Armando Mango, falou aos jornalistas na sede do PAIGC, defendeu que o "Parlamento não foi dissolvido uma vez que o decreto presidencial que tentou dissolver o parlamento não é constitucional"."O Presidente da Assembleia Nacional Popular convocou os deputados para dar continuação à sessão da Assembleia Nacional Popular, uma vez que tinha sido interrompida. Como deputados fomos cumprir a convocação, mas surpreendentemente encontrámos forças da ordem que nos impediram de entrar na casa do povo. Nós, deputados, fomos cumprir com a nossa obrigação na casa do povo e fomos recebidos com gás lacrimogéneo. O que é descabido e ilegal", afirmou.Armando Mango garantiu, ainda, que a Assembleia Nacional Popular continua intacta. "Esta tentativa de dissolver a Assembleia Nacional Popular é inconstitucional. O nosso parlamento continua intacto e deve continuar a funcionar. Quem interrompeu a continuação foram as autoridades policiais", acrescenta."É preciso continuar a tentar cumprir a lei e estamos determinados em fazê-lo porque fomos eleitos para fazer com que haja legalidade na Guiné-Bissau", concluiu.Ate ao momento, a Presidência da República da GB escusou-se a fazer quaisquer comentário e não aceitou o pedido de entrevista à RFI.
12/13/20238 minutes, 54 seconds
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Guiné-Bissau: "O que está a acontecer tem a ver com as próximas presidenciais"

Depois de ter dissolvido a Assembleia Nacional Popular e o governo, o Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, reconduziu Geraldo Martins ao cargo de primeiro-ministro. "A grande agenda são as eleições presidenciais que devem acontecer, segundo o calendário eleitoral, a partir de Novembro do próximo ano. Esta é uma armadilha inconstitucional que pretende garantir a continuidade do poder político na Guiné-Bissau", afirma o politólogo, Rui Jorge Semedo. Para o analista guineense é preciso olhar "não apenas para o que está a acontecer neste momento na Guiné-Bissau", mas para o que tem vido a acontecer "desde Fevereiro de 2020". "O país continuou no mesmo modos operando à forma como o Presidente da República chegou ao poder. Contrariamente a todos os anteriores Presidentes que assumiram o mais alto cargo da magistratura na Guiné-Bissau, que passaram por um ritual Constitucional em termos de investidura, o actual Presidente não passou por esse ritual. As instituições responsáveis por essa regulação não se pronunciaram a até hoje", lembra Rui Jorge Semedo.Nos últimos três anos, o poder político tem vindo a "ter dificuldades no relacionamento com a Constituição da República da Guiné-Bissau e com os órgãos de soberania", descreve o analista, que questiona as intenções do Presidente; "não sei se o Presidente tem dificuldades em respeitar os órgãos de soberania ou se é intencional". "Mais do que ninguém, o Presidente da República e a sua família política sabem que a acção do Presidente é inconstitucional", acrescenta."A situação política da Guiné-Bissau não é muito diferente do que se vive na Guiné Conacri, Mali, Níger, Burkina Faso, se compararmos com o que aconteceu aqui em 2019", compara. "Estes países sofreram reveses. São países democráticos que têm partidos a competir e leis que suportam o sistema, mas momentaneamente decidiram alterar o sistema. Na Guiné-Bissau nós não assumimos a posição como assumiram estes países, apesar da forma como as instituições se relacionam e a Presidência da República se posiciona como órgão detentora do poder. Em democracia não é assim", defende.O analista acrescenta que esta é uma situação "que pode ser má para o país caso a Guiné-Bissau queira consolidar as instituições do país e permitir que haja possibilidade de governabilidade. Nenhum país pode ser estável e progredir social e politicamente se continuar numa dinâmica de demonstração de força e de sequestro das instituições". Rui Jorge Semedo lembra, ainda, que este "não é apenas um erro do Presidente, mas também das forças de segurança, que deixam ser utilizadas pelas lideranças políticas e actual poder político na Guiné-Bissau".Tudo o que está a acontecer no país tem que ver com "a corrida eleitoral do próximo ano", acredita Rui Jorge Semedo, que compara a situação da Guiné-Bissau ao que está acontecer no Senegal entre Macky Sall e Ousmane Sonko. "A grande agenda são as eleições presidenciais que devem acontecer, segundo o calendário eleitoral, a partir de Novembro do próximo ano. Esta é uma armadilha inconstitucional que pretende garantir a continuidade do poder político na Guiné-Bissau. A CEDEAO é uma comunidade que tem patrocinado a ingovernabilidade e todas as crises um pouco por todos os países da comunidade, com excepção de Cabo Verde", concluiu.
12/12/20239 minutes, 35 seconds
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"Cesariny é actual porque é uma poesia da vida e a vida é sempre actual"

A antologia bilingue da poesia de Mário Cesariny "Dever de Falar" acaba de ser publicada pelas edições Chandeigne e apresentada, através de uma leitura de poemas, ao público no Théâtre de la ville de Paris. O actor francês Denis Lavant e a actriz portuguesa Tersa Coutinho leram no domingo, 19 de Novembro, poemas de Mário Cesariny, no Théâtre de la ville de Paris. A antologia "Dever de Falar" de Mário Cesariny com tradução de Bernardo Haumont foi publicada pelas edições Chandeigne e apresenta um amplo panorama de obra de Cesariny."Acho que [Mário Cesariny] teria gostado de Denis Lavant e de Teresa Coutinho, que é precisa na sua maneira de dizer os poemas de Cesariny. A escolha do Théâtre de la Ville foi justamente a de procurar um actor que seria parecido, de certa forma, na loucura, na voz e fisicamente com o Cesariny. Denis Lavant aceitou e gostou muito", descreve Bernardo Haumont.Mário Cesariny é um dos poetas mais atípicos do mundo artístico português e conhecido como uma das figura mais irritantes do surrealismo internacional. "Dever de falar" é uma recolha da obra escrita: uma poesia da exuberância, amor e sensualidade.O trabalho de tradução de Cesariny tem acompanhado Bernardo Haumont. "Não sei como é que se escolhem poemas [para fazer esta antologia], estou a traduzir Cesariny há muito tempo, na minha cabeça, porque gosto muito. Começou a tornar-se mais sério, fiz novas amizades que me levaram até à Emília Pinto de Almeida com quem fizemos este livro. A mesma amizade levou-me até à Ana Lima, que é directora de edição das edições Chandeigne e estas amizades fizeram este livro", conta-nos.Bernardo Haumont lembra que o trabalho de tradução "é trabalho e é gostar de uma coisa e tenta fazer o melhor que se pode". Neste processo, "foi mais o Cesariny que veio até nós. Ia lendo Cesariny, sempre gostei muito dele, do que ele dizia, da sua velocidade". "Cesariny é actual porque é uma poesia da vida e a vida é sempre actual. Cesariny é uma revolta e não é só uma revolta contra a ditadura, ele escreve nos anos 50, 60, 70, mas é uma revolta contra uma ditadura da linguagem, da civilização ocidental, do peso das instituições e de uma certa administração seja das estruturas políticas, sociais, mas também da língua e ele está sempre em revolta sobre essa coisa", explica.De Cesariny "resta traduzi-lo em muitas línguas. Resta traduzir outros livros em francês e torná-lo mais internacional porque é dos poetas mais importantes do século XX português, na sombra do Fernando Pessoa. A Fundação Cupertino de Miranda tem feito um excelente trabalho de relembrar e mostrar os poetas surrealistas portugueses. As edições Chandeigne têm feito a mesma coisa com a literatura portuguesa e brasileira", concluiu.A ideia deste livro surge de uma proposta do Bernardo; "o nosso papel é o de estarmos abertos e ver as possibilidades de publicação e sentir o investimento e desejo dos autores. Na nossa grande antologia da poesia portuguesa, publicada em 2021, também havia poemas de Cesariny integrados, mas não nada a ver com este trabalho", conta Ana Lima, directora de edição das edições Chandeigne. 
11/23/202310 minutes, 54 seconds
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Marco Mendonça: "No limite, seremos todos vítimas de uma ignorância colectiva"

Blackface é o espectáculo que marca a estreia a solo de Marco Mendonça.O actor escreveu, encenou e apresenta no palco do Teatro do Bairro Alto, em Lisboa, um trabalho onde, a partir de "experiências pessoais e da história do blackface como prática teatral racista", "procura os limites do que pode ser representado num palco." Em cena, o monólogo Blackface é apresentado como uma "conferência musical, entre o stand-up e a fantasia, entre a sátira e o teatro físico, entre o burlesco e o documental".Marco Mendonça, que começa por fazer uma contextualização histórica apresentando as origens do blackface nos Estados Unidos da América, questiona a prática em Portugal no século XXI."Isto não é um espectáculo que pretende acusar ninguém de nada, mas, acima de tudo, que as pessoas se divirtam a ver um espectáculo sobre um tema que podem não conhecer tão bem, ou, se o conhecem, podem não saber o quão longe é que vai a presença do blackface em Portugal," esclareceu Marco Mendonça na entrevista à RFI antes de subir ao palco com Blackface
11/17/202311 minutes, 12 seconds
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Guiné-Bissau assinala 50 anos da independência: recordar o início da luta armada

A Guiné-Bissau comemorou a 24 de Setembro os 50 anos da sua independência, efeméride assinalada de forma solene a 16 de Novembro. Neste quadro, a RFI volta a difundir uma reportagem de uma série realizada em Setembro passado acerca deste evento, entrevistas alusivas à História do país e em particular ao período da luta de libertação. Tratava-se de uma reportagem efectuada sobre o início da luta armada.Nos finais dos anos 50 e início da década de 60, numa altura em que tanto os vizinhos Senegal como a Guiné Conacri tinham acabado de alcançar as suas respectivas independências, tornava-se cada mais evidente para os sectores independentistas da Guiné-Bissau que o país deveria igualmente libertar-se da tutela do colonialismo português.Em 1961, um movimento concorrente do PAIGC, o MLG -Movimento de Libertação da Guiné- efectua actos de sabotagem no norte do país, mas o envio de reforços militares portugueses inibe veleidades de novos ataques. Cenários já vistos que Cabral pretende evitar segundo Julião Soares Sousa, historiador guineense ligado ao centro de estudos interdisciplinares da Universidade de Coimbra. "Há uma data que é o início da luta feita pelo MLG que faz ataques nos norte da Guiné em Julho de 61 e que provocou até uma certa preocupação a Amílcar Cabral porque ele pensou que se o MLG ocupasse o norte da Guiné, nós íamos ter uma situação muito idêntica àquilo que estava a acontecer em Angola. Naquele país, com a UPA-FNLA a ocupar parte do norte de Angola, o MPLA teve muitas dificuldades em infiltrar os seus homens para o interior de Angola", nota o estudioso.Será preciso esperar 1963 para que, após uma minuciosa preparação, com a entrega de armas e formação de combatentes, o PAIGC lance um primeiro ataque contra o quartel de Tite, no sul da Guiné-Bissau, dando início a uma guerra que só terminaria formalmente com o reconhecimento da independência do país por Portugal em 1974. Iancuba Ndjai, político guineense, antigo aluno da escola piloto de Cabral e antigo membro da aviação das forças independentistas, fala dos bastidores dessa preparação à guerra."Amílcar Cabral foi obrigado a pensar em termos militares. Os primeiros escritos de Amílcar Cabral sobre a problemática militar foi em 1962, quando decidiu criar dois grupos, uma acção política e outra militar. Daí surgiu a guerrilha, a guerrilha como uma componente da luta armada e que estava circunscrita a localidades concretas. Mas em 1964, reúne-se o congresso do PAIGC e Amílcar Cabral cria as FARP, Forças Armadas Revolucionárias do Povo, que seriam o principal instrumento material da conquista da independência nacional", sublinha o responsável político.O recrutamento de forças faz-se em todo o lado, no campo, na cidade, fora do país. Todos têm um familiar preso ou envolvido na luta. Foi o caso do escritor guineense Ernesto Dabo que se envolveu nesse combate em Portugal na clandestinidade, no início dos anos 70. "A situação em que estávamos a viver era inumana, injusta e nenhum indivíduo que crescesse, que evoluísse do ponto de vista cultural podia suporta uma situação daquelas com indiferença. Isto foi determinante porque eu tive a sorte de viver em Portugal com gente que não me fez sentir discriminado como era regra noutros países. Vivi normalmente com muita gente (...), de maneira que isso, contrariamente àquilo que poderia ter acontecido, eu me alienar e pensar que era de lá e que tinha outros privilégios e que já não era da Guiné-Bissau, ajudou-me a perceber que a qualidade de vida que eu via lá, a atitude de respeito de mútuo que eu vivia lá, eu pensei que tinha que ter isso também no meu país", conta o autor. A necessidade imperiosa de liberdade e de perspectivas de futuro também levaram José Turé, antigo militar e antigo representante do PAIGC no estrangeiro, a combater as forças portuguesas. "Entrei na luta de libertação por haver tanto movimento africano nessa altura. Todos os jovens tinham a aspiração de se libertar. Eu pensava estudar. Infelizmente, não consegui e fiz os estudos mais tarde. Tínhamos muitas limitações. Primeiro, tínhamos dificuldade em integrar-nos na sociedade portuguesa, segundo, não podíamos ir mais longe nos estudos. Então, um dia consegui falar com uns colegas. Eles disseram 'se pretende ir lá, não fazia mal'. Eu ofereci-me voluntariamente" conta o antigo combatente.O general Fodé Cassamá, entrou também na guerra muito jovem, aos 17 anos. "Precisávamos de ser livres, estar fora do colonialismo. O papel da juventude era muito necessário. Foi o que me motivou a entrar na luta de libertação, como cidadão deste país", refere o militar que, ao recordar o ambiente que se vivia na frente luta, conta que "se vivia em camaradas, segundo a situação que se apresentava" e que "era normal porque precisavam da independência".Podem ver e ouvir na íntegra da entrevista do escritor Ernesto Dabo aqui:
11/16/202317 minutes, 13 seconds
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Alkantara Festival e os corpos que questionam e denunciam

O Alkantara Festival decorre em Lisboa até 26 de Novembro e apresenta nos principais palcos da capital portuguesa espectáculos e projectos com artistas nacionais e estrangeiros do universo da dança, do teatro e da performance "dialogam com questões urgentes nas sociedades contemporâneas". No ano em que se assinalam 30 anos de actividade, se tivermos em conta os anos iniciais da plataforma Danças na Cidade, a experimentação artística e o debate com diferentes contextos fazem parte de uma programação que na actual edição passa, por exemplo, pelo Teatro Nacional D. Maria II., Culturgest, São Luiz Teatro Municipal, Teatro do Bairro Alto, Centro Cultural de Belém e Espaço Alkantara.Pouco antes do início do festival, a RFI esteve no Espaço Alkantara e, no meio da azáfama da produção de um evento que só na equipa do festival e nas equipas dos artistas envolve mais de 230 pessoas, falou com os co-directores artísticos do Alkantara Festival, Carla Nobre Sousa e David Cabecinha, que contam como surgiu o festival e apontam destaques na edição de 2023.
11/10/202313 minutes, 42 seconds
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"Beyond Boundaries", a exposição que afirma a arte africana sem fronteiras

"Beyond Boundaries" é a exposição colectiva que desafia o fruidor a participar numa viagem que atravessa o mundo de sete nomes da arte contemporânea africana, para quem a noção de fronteira pode ser constantemente questionada. Cristiano Mangovo, Gonçalo Mabunda, Luís Damião, Nelo Teixeira, Rómulo Santa Rita, Uólofe Griot e Samuel Nnorom são os artistas que, até 21 de Novembro, na Galeria This is Not a White Cube, em Lisboa, apresentam um conjunto de obras onde a celebração da liberdade se materializa.Na exposição com a curadoria de Graça Rodrigues, o alto poder da diversidade criativa apresentada está em perfeita sintonia com o engajamento social dos artistas.
11/4/202310 minutes
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Portugal: Madeira e os desafios da insularidade em região ultraperiférica

A Madeira, região autónoma portuguesa, é conhecida como a Pérola do Atlântico.Para além dos trunfos turísticos procurámos levantar o véu também sobre os constrangimentos ligados à insularidade desta região ultraperiférica.António Jardim Fernandes, responsável pelo turismo no seio da ACIF, Associação comercial e industrial do Funchal / Câmara de comércio e indústria da Madeira, e Carla Berenguer, da DECO, jurista da Associação de defesa do consumidor na Madeira falaram à reportagem da rfi. António Jardim Fernandes é responsável pelo turismo no seio da ACIF, Associação comercial e industrial do Funchal / Câmara de comércio e indústria da Madeira.Uma das maiores dificuldades é a distância ao mercado e os custos inerentes à insularidade.A inexistência de uma ligação marítima com outras parcelas do território português ou com arquipélagos vizinhos são temas abordados, para além da velocidade do crescimento do sector turístico.Os constrangimentos da insularidade, num território como a Madeira, têm impacto nos consumidores. Quais as respectivas queixas ?Carla Berenguer é jurista na delegação local da DECO, Associação de defesa do consumidor.Os essenciais são os transportes aéreos e o bloqueio geográfico.Questões que se prendem com conflitos relativos à obtenção a posteriori do subsídio de mobilidade ou o "bloqueio geográfico" e as empresas que não garantiriam entregas de artigos ao consumidor no arquipélago são dos temas que merecem mais denúncias por parte dos utentes madeirenses.Instantâneos de reportagens neste arquipélago português: para além do importante destino turístico a RFI procurou conhecer o que implica também viver nesta região ultraperiférica europeia.
10/26/202311 minutes, 14 seconds
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Cabo Verde: Turismo de Natureza na ilha de Santo Antão

A ilha de Santo Antão vive no momento a época alta do turismo de natureza, é neste período que vai até Abril do próximo ano que a ilha mais montanhosa de Cabo Verde é frequentada por mais turistas internacionais, na sua maioria franceses. Para o presidente da Associação dos Guias de Turismo de Santo Antão, Odair Gomes, o turismo de natureza tem um impacto positivo na economia da segunda maior ilha do país. “O turismo de natureza é o que mais se pratica aqui na ilha de Santo Antão. O turista que vai aventurar pelas montanhas, conhecer os povoados que estão entre as montanhas e a biodiversidade da ilha. O mercado que mais procura o turismo para trekking é o francês, mas temos deparado um aumento de alemães, holandeses, belgas, polocas, espanhóis e portugueses, tambem” disse Odair GomesEm Santo Antão há a maior rede de caminhos vicinais de Cabo Verde e esses trajectos são muito utilizados para a prática de caminhadas em trilhas, ou seja, trekking.O presidente da Associação dos Guias de Turismo de Santo Antão, Odair Gomes, explicou que todos os trilhos tem uma história por trás.“Nós temos os trilhos chamados de clássicos, que são os que normalmente os turistas fazem com maior facilidade, são os mais procurados, como Cova – Paul e Ponta do Sol – Cruzinha, os mais vendidos pelas agências. E, normalmente, fazemos um briefing com o turismo no sentido de lhes explicar o que vão ver ao longo do percurso e a sua história, bem como o porquê da construção desses trilhos”  afirmou o Guia de Turismo.Por sua vez, Sandra Pereira que é gerente e directora de operações  da Atlantur, uma agência de viagens e turismo especializada em circuitos entre-ilhas e turismo de Natureza disse à RFI, na cidade do Porto Novo que para o turista conhecer Santo Antão é necessário ir a três pontos da ilha“Tem a estrada de Corda, não somente Cova-Paul, a estrada de Corda que vai do cais de Porto Novo até Ribeira Grande, com várias paragens. Depois temos Ponta do Sol com Fontaínhas, esta última considerada a segunda aldeia com a melhor vista do Mundo, isto é uma visita muito importante, porque dá a conhecer internacionalmente Fontaínhas. Tem o Vale do Paul que é jardim de Cabo Verde, onde se consegue encontrar toda a parte mais exótica com as papeiras, as bananeiras, tudo o que as pessoas vêem e querem entender o que é Santo Antão” disse Sandra Pereira afirmando que antigamente a ilha era conhecida somente pelas caminhadas, mas agora é destino aberto a todas as idades “onde se pode fazer pequenas caminhadas para conhecer a ilha e aproveitar Santo Antão o ano inteiro”.Por outro lado, a directora de operações da agência de Viagens e Turismo, Atlantur, considera  que o aeroporto não é prioridade, no momento, para a ilha de Santo Antão. “O aeroporto não é uma prioridade (…) traz sempre mais trabalho e possibilidade de se chegar mais rápido a Santo Antão, mas temos São Vicente logo ao lado, a opção deve ser a combinação dos horários dos ferrys com os voos” disse Sandra Pereira. Já o presidente da Associação dos Guias de Turismo de Santo Antão, Odair Gomes, defende que a ilha de Santo Antão tem de ter um aeroporto e continuar a apostar no turismo de natureza preservando a sua essência “Santo Antão tem de ter o seu aeroporto, mas é necessário estabelecer prioridades das infraestruturas a serem construídas nesta ilha que não tem condições de receber qualquer tipo de resort, vamos diversificar e se Santo Antão é Turismo de Natureza vamos concentrar e tentar transformar no turismo sustentável” disse Odair Gomes.Ainda de acordo com o presidente da Associação dos Guias de Turismo de Santo Antão, o turismo de natureza na ilha das montanhas tem contribuído para diversificar o produto ‘sol e praia’ e enriquece o destino turístico do arquipélago.
10/20/202310 minutes, 38 seconds
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Sismo em Marrocos: um mês depois, resiliência dos desalojados é posta à prova

Em que estado se encontra Marrocos, mais de um mês depois do sismo que causou 3 000 mortes e feriu mais de 5 000 pessoas com o epicentro localizado na província de Al-Haouz, região de Marraquexe. Fomos tentar perceber qual é a situação neste território montanhoso do Alto Atlas. O que é feito das 50.000 habitações destruídas, segundo os dados de uma comissão ministerial mobilizada para avaliar os danos, e em que situação vivem os cerca de 300 000 desalojados? A 8 de Setembro de 2023, era já de noite, e as pessoas preparavam-se para ir dormir quando um sismo assolou uma das regiões mais pobres do país. Em Outubro, cerca de um mês depois, avistam-se tendas da Proteção Civil marroquina, de associações nacionais e internacionais e por vezes, tendas de campismo, pelas aldeias do Alto Atlas, de Imlil a Taroudant e Ouarzazate. Na cidade de Marraquexe, o ambiente é outro. Os comércios estão abertos, os turistas passeiam entre as bancas de sumo de abacate e as de tapeçaria marroquina e espalha-se pela medina, a parte velha da cidade, a voz do muezim, a pessoa que apela os muçulmanos à oração. Sentada num café da muito movimentada praça Jama El Fnaa, no centro de Marraquexe, Patrícia Lorenzo, portuguesa a viver em Marrocos há 13 anos, onde é professora de yoga, recorda a noite do sismo."Estava em casa deitada no sofá, com o meu companheiro, a ver televisão. Eram 23h10 e de repente pôs-se tudo a tremer. Olhei para o meu companheiro do género "O que se está a passar ?" e depois saímos para o jardim. Isto tudo durou cerca de 40 segundos mas havia aquela adrenalina a passar pelo corpo porque realmente é impressionante sentir tudo a tremer à tua volta. Tudo. O chão, as paredes... Há pormenores... Por exemplo, havia o ruído... Parecia que absorvia todos os outros ruídos, era uma espécie de rugido da terra."  Passado o momento do choque, veio a consciência do drama. Em Marraquexe, nas noites seguintes, os habitantes dormiram ao relento nas praças da cidade, com medo das réplicas. Para as populações das aldeias do Alta Atlas a situação foi mais complicada devido ao acesso difícil, algumas não estando ligadas a qualquer estrada em betão, atrasando a chegada dos socorros e dos primeiros carregamentos de ajuda humanitária. Para Patrícia Lorenzo, habituada a uma Marraquexe efervescente, os dias que seguiram foram algo sombrios: "Foi um bocado surreal saber que eu estava bem, que Marraquexe no geral estava bem, mas houve pessoas que perderam tudo. Muitas pessoas. No fim de semana a seguir havia um clima um bocado pesado na cidade. Marraquexe é uma cidade muito viva, como se está a ver agora. Há muita alegria, muito barulho. Mas a cidade parecia calma, estava tudo assim apaziguado. Era uma sensação um bocado estranha."       Casas destruídas: para onde ir?Al-Hassan é paraquedista no exército francês. Chegou a Marrocos inicialmente para formar militares marroquinos, mas dois dias depois o terramoto abalava o país e Al Hassan foi enviado para Marraquexe para participar nas missões que todos os dias partiam da cidade até às aldeias mais remotas, trazendo bens alimentares mas sobretudo tendas para abrigar os desalojados. "Fomos até uma aldeia perto de Ouarzazate, aonde os carros não têm acesso. Fomos de helicóptero, não havia outra opção. Quando chegámos ainda havia corpos nos escombros das casas destruídas. Sim. Foi muito triste. Há aldeias que já não existem, todas as habitações desmoronaram. Inicialmente, quando chegámos, o plano era levar os habitantes para outra aldeia, mais segura. Mas não quiseram. Não quiseram deixar a sua aldeia. Em muitos casos preferiram que lhes coinstruíssemos tendas para poderem ficar na sua aldeia."  As autoridades marroquinas distrubuíram tendas pelas aldeias, a Protecção Civil e as forças militares, auxiliadas no terreno por várias associações, responderam de forma rápida às necessidades mais urgentes: distribuição de comida, ajuda humanitária e até, apoio psicológico. Um mês depois, desalojados continuam à espera de um tecto   Chegamos à aldeia de Imesker, 70 quilómetros a sul de Marraquexe, 1 500 metros de altitude. É aqui que vive Mustafa, 43 anos. De pé, no meio dos escombros de uma das casas destruídas, Mustafa recorda as primeiras semanas depois do terramoto, em que mulheres e crianças dormiam no chão, na rua, as tendas ainda não tinham chegado até à aldeia. "A maioria das pessoas em Iskar ficou sem tecto, e agora vivem em tendas. Naquela casa morreu uma miúda. Ela tinha 18 anos e estava prestes a casar, agora em Outubro. A mãe da menina e o irmão ficaram feridos. O resto da família partiu para Marraquexe porque é difícil para eles ficar aqui e relembrar o acontecimento. Têem família em Marraquexe e preferiram ir para lá porque nos primeiros dias foi complicado... Tinham que dormir na rua, não havia tendas ainda nas primeiras semanas. Não era como agora." Quando vão começar as reconstruções? Ninguém sabe. Ou, pelo menos, ninguém recebeu a informação, relativiza Mustafa. "Nos últimos três dias houve uma comissão de peritos que veio avaliar os danos. Mas quando é que poderemos reconstruir? Ainda não sabemos. Estamos à espera que o Governo diga algo. A vida continua. Estamos melhor do que na primeira semana. Mas ainda há um problema, são as escolas. As aulas não recomeçaram aqui. As crianças iam ao colégio e ao liceu em Asni, mas como está tudo destruído, têm que ir até Marraquexe. Para a escola primária, instalaram umas tendas aqui. Mas para o colégio e o liceu..... Nada." O Ministério marroquino da educação anunciou que cerca de 530 escolas e 55 internatos foram destruídos ou danificados, interrompendo as aulas de muitos alunos. Mustafa aponta ainda para a dificuldade de enviar diariamente as crianças de Imesker para a escola de substituição em Marraquexe, a 70 quilómetros de distância, numa região em que os transportes públicos são quase inexistentes: "Se tiveres família lá, é fácil. Mas sem familiares em Marraquexe, é um problema." Uma semana depois do sismo, o Governo anunciou um plano de ajuda de emergência, com, nomeadamente, 250 euros por mês por família cuja habitação foi totalmente ou parcialmente destruída, e isto, durante um ano.  "Normalmente, o Governo vai nos dar 250 euros por mês. Vai ser melhor. Mas.... Ainda estamos à espera. A reconstrução vai demorar muito tempo, de três a cinco anos... Porque há muitas aldeias, e não sabemos exactamente como é que eles pretendem reconstruir." Salima Naji, a arquitecta que defende construções de forma tradicional Como reconstruir as aldeias do Alto Atlas, de forma eficaz, pouco custosa e garantindo a segurança dos habitantes? Colocámos a pergunta à arquitecta e antropóloga Salima Naji, membro da comissão de peritos mobilizada em Marrocos depois do sismo e titular de vários prémios internacionais como o Aga Khan, e condecorada como Cavaleiro das Artes e das Letras de França.Para Salima Naji o importante é reconstruir com base nos materiais do terreno e respeitando as tradições locais. "Apercebemo-nos, com os outros membros da comissão, que todas as arquitecturas em betão armado, situadas perto do epicentro, colapsaram. Houve momentos de grande estupefacção porque havia arquitecturas em betão que tinham caído e outras, ao lado, arquitecturas vernaculares que tinham resistido.Hoje em dia, caímos por vezes na facilidade do "solucionismo". Acho que temos a oportunidade de repensar um modo de construção que sempre existiu nessas regiões. Estamos a falar de comunidades agro-pastorais, portanto não podemos chegar com planos de reconstrução e planos de realojamento.... Não faz sentido quando vemos a diversidade das situações na montanha. Portanto espero que não vamos estragar uma arquitectura milenar para substituí-la por uma arquitectura de má qualidade, supostamente anti-sísmica com base em materiais inadaptados. É preciso pensarmos que por exemplo se utilizarmos o betão armado, é um material extremamente poluente, e estamos longe das fábricas de cimento... Seria um disparate."  A outra proposta da arquitecta e antropóloga Salima Naji é a criação de grupos de trabalho com os próprios habitantes das aldeias, através de remunerações. "Em vários municípios, fiz uma lista de todos os membros da comunidade que estão em condições de participar ans obras. A reconstrução tem que ser feita com os próprios habitantes das aldeias. Em primeiro lugar para lhes dar salários e, em seguida, para aproveitar os seus conhecimentos e técnicas ancestrais. Fiz então a proposta de uma cooperativa de serviços, com base num modelo que existe nas províncias, liderado pelo governador-geral e utilizado em obras, por exemplo, depois de inundações. Chamamos a isso "Al Kuraj" ou seja, construção, atelier... e então as pessoas são pagas pelo Estado para ajudar a reconstruir uma ponte, para ajudar a emendar uma série de danos materiais, depois de uma inundação, ou para reabilitar o património." Depois do traumatismo, vem a resiliência das populações. As aldeias preparam-se para acolher o inverno, Marraquexe voltou à normalidade, irrequieta, agitada e festiva.A ajuda anunciada por Rabat de cerca de 11 mil milhões de euros para as zonas montanhosas sinistradas servirá para a reconstrução das habitações e poderá beneficiar para o desenvolvimento da agricultura local.  
10/19/202312 minutes, 15 seconds
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50 anos da independência da Guiné-Bissau: a luta de câmara em punho

A Guiné-Bissau comemora no próximo dia 24 de Setembro os 50 anos da sua independência. Neste quadro, a RFI propõe desde esta segunda-feira e até domingo uma série de reportagens e entrevistas alusivas à História do país e em particular ao período da luta de libertação. Hoje, no oitavo episódio desta série, debruçamo-nos sobre a importância da comunicação, através do cinema documentário. Para dar a conhecer a luta fora das fronteiras do país, Amílcar Cabral designou um grupo de jovens para aprenderem cinema em Cuba e depois voltarem para filmar a guerra. Os realizadores Flora Gomes e Sana Na Hada faziam parte desse grupo. Depois de 5 anos de formação, eles vão para a Guiné-Bissau e filmam o derradeiro período da guerra de libertação nos primórdios dos anos 70.Tanto para um como para o outro, nada os predestinava a enveredar pela via da sétima arte.Depois de a sua aldeia ter sido atacada e destruída quando ele tinha treze anos, Sana Na N'Hada e a mãe refugiam-se junto de guerrilheiros. Começa então uma odisseia que o vai levar, ainda adolescente, a leccionar numa escola, para depois encetar estudos de medicina na URSS até regressar a Conacri e ser escolhido por Amílcar Cabral, para ir aprender a filmar em Cuba."Cabral disse ao meu colega José Bolama, eu e Josefina Crato que íamos fazer cinema. Só que eu nunca tinha visto um filme na época. Não sabia o que era. O Cabral explicou e depois ficou a rir. Depois, o grupo cresceu, o Flora também foi connosco para Cuba. Depois voltamos a Conacri em 1972. A partir de 1973, estávamos a filmar a guerra, Flora e eu", recorda.Também adolescente, Flora Gomes conheceu Amílcar Cabral no congresso de Cassacá em 1964, e acabou por frequentar, num primeiro tempo, a escola-piloto, até ser também escolhido para aprender cinema em Cuba. "Eu tinha 14 anos quando encontrei Amílcar. Lembro-me perfeitamente que ele perguntou-me o que é que eu iria fazer, se eu estudava. Sobretudo Luís Cabral perguntava a toda a gente o que é que tu estudavas, se ias à escola. Foi assim que Cabral levou um grupo entre os quais eu para Conacri" conta o cineasta."Cabral era muito atento. Eu era um atleta, eu gostava muito de correr e eu sempre pus na minha mente que queria fazer educação física. O destino decidiu de outra maneira e que eu fosse para essa complexidade do mundo do cinema. Achei que Cabral tinha mais visão do que eu imaginava", considera Flora Gomes ao dizer que "se não fosse Cabral, não estaria aqui".A missão de filmar a realidade do seu país acabou por prolongar-se bem além da guerra para Sana Na N'Hada cujo cinema continua marcado por esse período e pela dívida que sente ter para com Amílcar Cabral. "A dívida que nós temos, que eu sinto que eu tenho com Amílcar é de ter pensado em criar um grupo de pessoas e em formar pessoas no domínio do cinema. (...) Como não há neste país estruturas para a produção de filmes, temos estado a produzir muito pouco daquilo que tencionamos fazer" diz o cineasta antes de concluir que "o mais importante é que o que Cabral deixou, há muito que estamos a trabalhar nisso, mas a juventude agora também precisa saber disso. Alguém tem de pensar em ensinar isso aos jovens. Para isso, o cinema pode contribuir um pouco. Acho que valeu a pena lutar, para termos um país como temos agora".
9/21/202319 minutes, 14 seconds
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50 anos da independência da Guiné-Bissau: o início da luta armada

A Guiné-Bissau comemora no próximo dia 24 de Setembro os 50 anos da sua independência. Neste quadro, a RFI propõe desde esta segunda-feira até domingo uma série de reportagens e entrevistas alusivas à História do país e em particular ao período da luta de libertação. Hoje, no quarto episódio desta série, debruçamo-nos sobre o início da luta armada.Nos finais dos anos 50 e início da década de 60, numa altura em que tanto os vizinhos Senegal como a Guiné Conacri tinham acabado de alcançar as suas respectivas independências, tornava-se cada mais evidente para os sectores independentistas da Guiné-Bissau que o país deveria igualmente libertar-se da tutela do colonialismo português.Em 1961, um movimento concorrente do PAIGC, o MLG -Movimento de Libertação da Guiné- efectua actos de sabotagem no norte do país, mas o envio de reforços militares portugueses inibe veleidades de novos ataques. Cenários já vistos que Cabral pretende evitar segundo Julião Soares Sousa, historiador guineense ligado ao centro de estudos interdisciplinares da Universidade de Coimbra. "Há uma data que é o início da luta feita pelo MLG que faz ataques nos norte da Guiné em Julho de 61 e que provocou até uma certa preocupação a Amílcar Cabral porque ele pensou que se o MLG ocupasse o norte da Guiné, nós íamos ter uma situação muito idêntica àquilo que estava a acontecer em Angola. Naquele país, com a UPA-FNLA a ocupar parte do norte de Angola, o MPLA teve muitas dificuldades em infiltrar os seus homens para o interior de Angola", nota o estudioso.Será preciso esperar 1963 para que, após uma minuciosa preparação, com a entrega de armas e formação de combatentes, o PAIGC lance um primeiro ataque contra o quartel de Tite, no sul da Guiné-Bissau, dando início a uma guerra que só terminaria formalmente com o reconhecimento da independência do país por Portugal em 1974. Iancuba Ndjai, político guineense, antigo aluno da escola piloto de Cabral e antigo membro da aviação das forças independentistas, fala dos bastidores dessa preparação à guerra."Amílcar Cabral foi obrigado a pensar em termos militares. Os primeiros escritos de Amílcar Cabral sobre a problemática militar foi em 1962, quando decidiu criar dois grupos, uma acção política e outra militar. Daí surgiu a guerrilha, a guerrilha como uma componente da luta armada e que estava circunscrita a localidades concretas. Mas em 1964, reúne-se o congresso do PAIGC e Amílcar Cabral cria as FARP, Forças Armadas Revolucionárias do Povo, que seriam o principal instrumento material da conquista da independência nacional", sublinha o responsável político.O recrutamento de forças faz-se em todo o lado, no campo, na cidade, fora do país. Todos têm um familiar preso ou envolvido na luta. Foi o caso do escritor guineense Ernesto Dabo que se envolveu nesse combate em Portugal na clandestinidade, no início dos anos 70. "A situação em que estávamos a viver era inumana, injusta e nenhum indivíduo que crescesse, que evoluísse do ponto de vista cultural podia suporta uma situação daquelas com indiferença. Isto foi determinante porque eu tive a sorte de viver em Portugal com gente que não me fez sentir discriminado como era regra noutros países. Vivi normalmente com muita gente (...), de maneira que isso, contrariamente àquilo que poderia ter acontecido, eu me alienar e pensar que era de lá e que tinha outros privilégios e que já não era da Guiné-Bissau, ajudou-me a perceber que a qualidade de vida que eu via lá, a atitude de respeito de mútuo que eu vivia lá, eu pensei que tinha que ter isso também no meu país", conta o autor.A necessidade imperiosa de liberdade e de perspectivas de futuro também levaram José Turé, antigo militar e antigo representante do PAIGC no estrangeiro, a combater as forças portuguesas. "Entrei na luta de libertação por haver tanto movimento africano nessa altura. Todos os jovens tinham a aspiração de se libertar. Eu pensava estudar. Infelizmente, não consegui e fiz os estudos mais tarde. Tínhamos muitas limitações. Primeiro, tínhamos dificuldade em integrar-nos na sociedade portuguesa, segundo, não podíamos ir mais longe nos estudos. Então, um dia consegui falar com uns colegas. Eles disseram 'se pretende ir lá, não fazia mal'. Eu ofereci-me voluntariamente" conta o antigo combatente.O general Fodé Cassamá, entrou também na guerra muito jovem, aos 17 anos. "Precisávamos de ser livres, estar fora do colonialismo. O papel da juventude era muito necessário. Foi o que me motivou a entrar na luta de libertação, como cidadão deste país", refere o militar que, ao recordar o ambiente que se vivia na frente luta, conta que "se vivia em camaradas, segundo a situação que se apresentava" e que "era normal porque precisavam da independência".Podem ouvir a íntegra da entrevista do escritor Ernesto Dabo aqui:Podem igualmente consultar a entrevista completa do general Fodé Cassama aqui:
9/19/202321 minutes, 23 seconds
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50 anos da Independência da Guiné-Bissau: a escravatura

A Guiné-Bissau comemora no próximo dia 24 de Setembro os 50 anos da sua independência. Neste quadro, a RFI propõe até domingo uma série de reportagens e entrevistas alusivas à História do país e em particular ao período da luta de libertação. Antes disso, recuamos um pouco no tempo e neste que é o segundo episódio da série, abordamos a história do comércio de escravos pelos portugueses na Guiné-Bissau, algo que praticaram desde que chegaram à região em meados do século XV.Logo nessa época, o historiador português Gomes Eanes de Zurara, na sua "crónica da Guiné", relatou a chegada a Portugal de escravos da Guiné nos seguintes termos : "Começaram os marinheiros a tirar os escravos que tinham trazido para os levarem como lhes fora mandado (...)Uns tinham as caras baixas e os rostos lavados em lágrimas, outros estavam gemendo dolorosamente, (...) outros faziam as suas lamentações em maneira de canto (..).Mas, para a sua dor ser mais acrescentada, chegaram os que estavam encarregados da partilha e começaram a separá-los uns dos outros, a fim de fazerem lotes iguais. Por isso havia necessidade de se separarem os filhos dos pais, as mulheres dos maridos e os irmãos uns dos outros (...). As mães apertavam os filhos nos braços para não lhes serem tirados".Até meados do século XIX, milhões de pessoas foram levadas à força da Guiné-Bissau para o continente americano, tendo inclusivamente sido criadas no século XVII grandes companhias de navegação e comércio como a Companhia de Cacheu e Rios da Guiné. A nível da Guiné-Bissau, a cidade de Cacheu, no noroeste do país, foi o ponto onde se centralizou este tráfico. Em 2016, foi inaugurado naquela cidade um memorial da escravatura. Por detrás da criação deste museu está a ONG guineense ‘Acção para o Desenvolvimento’. A RFI falou com Jorge Handem, secretário executivo desta entidade, que começou por explicar a forma como eram capturados rio acima os escravos, geralmente prisioneiros de guerra, Jorge"Eram lutas intensas. Mas com o apoio de alguns nativos nossos, nomeadamente pessoas de influência, chefes de aldeias (...). Ás vezes, as pessoas influentes recebiam em troca alguns materiais, alguns produtos que faziam falta, nomeadamente arroz, espelhos, açúcar, óleo, tabaco, até roupas, em troca das pessoas. Certas pessoas, ao assumirem a consciência de que iam e que nunca mais voltavam, apresentavam resistência e as pessoas começaram a se organizar, criando focos de revolta", conta o dirigente da ‘Acção para o Desenvolvimento’.Questionado sobre a dimensão assumida por Cacheu na história do comércio de escravos no país, o estudioso refere que "Cacheu era um ponto de partida devido à sua situação geográfica. Fica situado junto ao rio Cacheu, ao pé do oceano, onde a viagem é mais fácil, perto de Cabo Verde que era o ponto de concentração dos escravos para depois seguirem os destinos finais".Dada a importância passada de Cacheu no tráfico negreiro mas também como foco de resistência, Jorge Handem, que pretende agora ter o apoio do governo guineense e de organizações internacionais no sentido de valorizar o memorial e criar uma linha de geminação com a ilha de Gorée, no Senegal, com a Cidade Velha de Cabo Verde e com o Brasil, enumera as várias actividades desenvolvidas pela estrutura que tutela, nomeadamente seminários, conferências e festivais. O responsável sublinha sobretudo que "a 'Acção para o Desenvolvimento' tem tentado convencer o governo a utilizar o tema da escravatura e da História como sendo um conteúdo curricular nas escolas". Na optica do estudioso, as jovens gerações "têm muito pouca informação sobre essas questões históricas. Daí, o memorial tem jogado esse papel fundamental de tentar contar essa história e ir buscar a comunidade jovem, através de visitas de estudo e através de visitas de intercâmbio".Situada junto ao rio Cacheu, não muito longe do mar, a cidade do mesmo nome parece quase adormecida. Junto ao forte de onde partiam os escravos, pode-se hoje encontrar pescadores a concertar os seus barcos e a alguns metros, nas antigas instalações da casa comercial Gouveia, encontra-se o Memorial da Escravatura.Ao evocar o impacto que teve a instalação do memorial em Cacheu, Pascoal Gomes, jovem responsável administrativo e guia nesse museu refere que "a comunidade recorda uma coisa: antes do surgimento do Memorial da Escravatura, o próprio projecto fez durante pelo menos seis anos a divulgação da história (...). A partir da abertura do memorial da escravatura, Cacheu tornou-se mais visível a nível nacional, uma das cidades mais visitadas em termos turísticos, em termos académicos, graças à existência do memorial da escravatura. Trouxe uma coisa que as pessoas querem conhecer: a nossa história, a nossa cultura, a nossa identidade".O técnico de turismo que não esconde o seu sentimento de orgulho por se inserir neste projecto, também considera que "a Guiné-Bissau precisa de mais um grupo de jovens com qualidade, com experiência, com sabedoria para ensinar muitas e muitas gerações para que, no futuro, se sinta que a Guiné-Bissau tem uma história que as pessoas conhecem da melhor forma".Podem ouvir aqui a íntegra da entrevista de Jorge Handem:Também podem consultar a entrevista completa de Pascoal Gomes:
9/18/202317 minutes, 40 seconds
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Cabo Verde: São Vicente diversifica oferta hoteleira

A ilha de São Vicente, no barlavento cabo-verdiano, tem registado forte aposta no aumento da oferta holeira. A reportagem da RFI esteve a apurar as novas receitas do sector turístico. A oferta turística do mercado da ilha São Vicente é dividida em quatro eixos: natural, gastronómico, histórico-cultural e património imaterial (festividades).O centro histórico do Mindelo, as diferentes arquitecturas que se encontram espalhadas pela cidade, os festivais de música e de teatro, o artesanato, a arte, as feiras entre outras manifestações que fazem parte da temática cultural são alguns dos atractivos que motivam a deslocação do turista à ilha de São Vicente.E isto para além dos recursos naturais como: a  Baía do Porto Grande, considerada uma das baías mais lindas do mundo  e faz parte do exclusivo clube das 27 baías mais lindas do mundo; o Monte Cara, que faz lembrar o perfil de um rosto humano a olhar para céu e que integra o conjunto das Sete Maravilhas de Cabo Verde; o Monte Verde, ponto mais alto da ilha, um miradouro natural, que constitui também uma área protegida albergando algumas espécies endémicas, sendo um local para a prática do trekking e de outras actividades de lazer na natureza, bem como as inúmeras praias, cada uma diferente da outra.Aliado aos atractivos de São Vicente, nos últimos anos houve um forte investimento em construção de estabelecimentos hoteleiros, em que de 2018 ao primeiro semestre deste ano entraram em funcionamento sete  estabelecimentos hoteleiros e oito estão em construção. A Cabo Verde Trade Invest que gere o balcão único do investidor onde os projectos são tramitados destaca o impacto que os hotéis vão ter na ilha de São Vicente. José Almada Dias, Presidente do Conselho de Administração da Cabo Verde TradeInvest.Neste momento, no centro histórico da cidade do Mindelo, há vários hotéis boutique. A poucos passos da praia da Laginha, encontra-se em funcionamento desde Setembro do ano passado, o Luna Boutique Hotel Morna Concept. A sócia-gerente, Elisa Oliveira explica que a ideia de construir o estabelecimento hoteleiro surgiu primeiro da falta de camas em São VicenteHá nove meses em funcionamento está o Santa Cruz Boutique Hotel, no centro comercial de Mindelo, que durante o dia tem muito movimento por causa do comércio, mas à noite é um dos locais mais tranquilos da ilha de São Vicente. O Santa Cruz Boutique Hotel é um investimento privado que transformou o antigo edifício comercial da Casa Serradas numa unidade hoteleira.A responsável pelo projecto é a arquitecta, Analisa Santos, que é também sócia-administradora do Santa Cruz Boutique Hotel, que avança as razões de apostar no mercado turístico emergente de São Vicente.O maior hotel de capital 100% cabo-verdiano, com 130 quartos foi construído na cidade do Mindelo, na Avenida de Marginal em frente a  Baía do Porto Grande, uma das baías mais lindas do mundo.Uma aposta do Ouril Hotels, que no dia 30 de Agosto inaugurou o quinto e o maior hotel do grupo –Ouril Hotel Mindelo – Um grupo hoteleiro com mais de 30 anos de experiência nas ilhas do Sal e da Boa Vista e que agora chega a São Vicente. Carina Mendes, Administradora do Ouril hotels, disse que a construção do hotel na cidade do Mindelo é a materialização de um sonho concretizado com o desafio lançado pelo governo de Cabo VerdeNa avenida marginal do Mindelo estão em construção mais três hotéis, dois são investimentos de cabo-verdianos e um de grupo internacional.Aliado ao forte investimento privado em estabelecimentos hoteleiros, o Ministério do Turismo e Transportes, através do Instituto do Turismo de Cabo Verde (ITCV) desafiou o sector do turismo a desenvolver experiências turísticas locais em São Vicente como mais atrativos para a ilha. E vários membros da Associação dos Guias de Turismo de São Vicente desenvolveram experiências turísticas como o Mindelo By Night e o snorkeling/ mergulho na enseada de corais na praia da laginha, como explica o presidente da Associação dos Guias de Turismo de São Vicente, Rúben MoreiraDe acordo com o Inventário Anual de Estabelecimentos Hoteleiros, feito pelo Instituto Nacional de Estatística, em 2022, a ilha de São Vicente tinha em funcionamento 47 estabelecimentos de alojamento turístico.
9/14/202311 minutes, 48 seconds
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Portugal: Ilha da Madeira e desafios das alterações climáticas

O clima ameno da Madeira é um dos argumentos tradicionais para fazer a sua divulgação como destino turístico no mundo.No entanto o território situado no Atlântico Norte, ao largo das costas de Marrocos, tem vindo a padecer nos últimos anos de vagas de calor, com registo de recordes de temperatura até há pouco invulgares.  Victor Prior é o delegado local do Instituto português do mar e da atmosfera. No final de Junho, em plena vaga de calor na Madeira, com registo de temperaturas na ordem dos 39 graus centígrados, um recorde, ele dava-nos conta da evolução térmica e do estado do tempo nos últimos anos no território.2020 foi o ano mais quente de sempre na Madeira com 20,8° [centígrados] e em 2021 baixou para 20,6. Portanto nos últimos anos podemos dizer que há recordes em tudo ! Naquilo que se refere à precipitação, no que se refere às temperaturas máximas, temperaturas médias ! Mesmo a temperatura da água do mar este ano em Março, Abril, Maio os valores da temperatura média registados no Funchal, portanto, na Pontinha, foram os maiores valores de sempre ! Portanto é este o panorama, é esta a situação em que vivemos. E, com certeza, temos que, no fundo, lutar e adaptarmo-nos a este tipo de situações, que são bastante críticas para a Madeira.Interrogado quanto a se tratar de efeitos das alterações climáticas este responsável conformou esse cenário.Tudo isto é resultado das alterações climáticas presentes, e que estamos a viver. E com uma velocidade cada vez maior ! Episódios que, aparentemente, se previa ocorrerem daqui por umas décadas estão a acontecer agora.Têm havido crises cíclicas de incêndios a consumirem parte da área arborizada. Confrontado com tal situação sobre se a floresta tem, também, que ser vigiada de perto Victor Prior refere:Em termos de meteorologia acompanhamos todas as situações: episódios de precipitação forte, de agitação marítima forte, de vento forte e temperatura... vagas de calor, como aquela que está agora a ocorrer aqui, na Madeira [em Junho de 2023]. Em 2016 tivemos valores de temperatura máxima, no Funchal, da ordem dos 38°. Num dos dias a temperatura mínima do ar foi de 29°. E 29° é um valor abrasador ! E eu recordo-me dessa noite ! O recorde anterior era 25°, portanto foi um recorde que foi ultrapassado em 4° ! Portanto embora a temperatura máxima tenha sido semelhante àquela que já tinha sido registada em 1976 a temperatura mínima foi muito mais alta ! É evidente que, nessa situação, ocorreram incêndios devastadores na Madeira, e em especial nas zonas altas da Madeira. Mas já tinha acontecido, também, em 2013 incêndios gigantescos ! Todas as autoridades regionais: Serviço regional de protecção civil, governo, em geral, portanto... todas as entidades estão atentas a esta situação e, como é lógico, fazem o máximo para que os impactos sejam o menos possível. Nestes dias muito quentes, hoje [26 de Junho de 2023] já foram registados 30° aqui, no Funchal. Todas as autoridades estão, portanto, em alerta e a vigiar a floresta na Madeira.A Madeira tem também vindo a sofrer de uma publicidade menos abonatória para a sua imagem de destino turístico. No caso a velocidade do vento que obriga ao cancelamento com relativa frequência dos voos no seu aeroporto.Em que medida é que a intensificação deste fenómeno se ficaria a dever também às alterações climáticas ?Eis as respostas de Victor Prior.Estudos que foram feitos recentemente, principalmente pela Faculdade de ciências da Universidade de Lisboa referem que são situações cíclicas que ocorrem na Madeira. Depois de 2014 ou 2015, se não estou em erro, registou-se em termos médios um aumento da intensidade do vento em toda a parte desde o [Pico do] Areeiro até ao Caniçal [a leste], incluindo o Aeroporto. No ano passado estas situações não foram tão frequentes e, este ano, recomeçam outra vez, com alguma frequência. Quando o vento é de Norte ou de Nordeste, acima de determinados limites, há situações (nem todas) que geram alguma turbulência. Mas são situações que devem ser estudadas, devem ser postas com alguma urgência na mesa dos decisores para resolver esta situação que começa a ser incomportável. Estas situações de condicionalismos, nomeadamente no funcionamento do Aeroporto da Madeira, não deixam de ter impacto económico.António Jardim Fernandes é responsável pelo turismo no seio da ACIF, Associação comercial e industrial do Funchal / Câmara de comércio e indústria da Madeira.Ele tem defendido, mesmo, que o aeroporto da ilha vizinha do Porto Santo venha a ser utilizado, em caso de inoperacionalidade do da Madeira, com uma consequente linha marítima rápida entre as duas ilhas. O vice-presidente da direcção da ACIF admite que a situação actual acarreta riscos para a actividade turística.Nós consideramos que é, se calhar, um dos factores de risco relativamente à indústria do turismo porque acaba por acrescer custos, quer aos operadores, às companhias aéreas. Sempre que há inoperacionalidade acarreta sempre uma série de custos. Isto tem a ver até com o Anticiclone dos Açores que está-se a deslocar um pouco mais a Sul. E nos últimos 100 anos tem-se notado um aumento da intensidade e da sua dimensão e que provoca, com mais intensidade, ventos e calor. E, portanto, a tendência é aumentar esse fenómeno. Portanto deveríamo-nos preparar para isso. Nós, obviamente, pautamo-nos pela segurança no Aeroporto. Defendemos, o que já está a ser feito, portanto, a aquisição de equipamentos modernos, para a leitura em tempo real de toda a informação para que os pilotos possam tomar as melhores decisões possíveis, e com segurança. O que sabemos, hoje em dia, é que a Madeira é o único aeroporto do mundo onde os limites [da velocidade do vento] não são recomendáveis, mas são obrigatórios. Portanto fecha mesmo, não podem [fazer-se à pista] ! Em qualquer outro aeroporto do mundo é uma decisão do comandante. Até porque não é só a variável vento ! Há uma série de variáveis e o comandante tem que estar consciente dessas variáveis todas ! Mas aqui temos esta obrigatoriedade que está desde que o aeroporto foi construído em 1964. Nós temos, por um lado, esta obrigatoriedade. Por outro lado os limites que foram [fixados] na altura, em 1964, com uma pista significativamente menor, com tecnologia de [19]64 e não de hoje em dia. Mas, obviamente, o que defendemos é ter agora equipamentos modernos que permitam aos pilotos actuarem com segurança. E, nesse sentido, pode ser que permita, ou deixar a obrigatoriedade, ou que seja revisto. Mas aí têm que ser estudos muito bem feitos, cientificamente muito bem fundamentados. Tendo esta informação com estes aparelhos modernos possam, depois, inclusive reavaliar esses limites, ou pelo menos revisitar: se fazem sentido, se devem ser reajustados. Se não essa é também outra linha que poderia aliviar. Só para ter a informação bastavam 5 milhas por hora porque já 80% dos casos de inoperacionalidade desapareciam da Madeira. Não haveria essa condicionante. As alterações climáticos e seu impacto quanto às vagas de calor na Madeira ou aos ventos fortes na zona do aeroporto, nomeadamente... pois num arquipélago celebrizado também pela exuberância da sua vegetação. O geógrafo Raimundo Quintal é uma figura emblemática da preservação ambiental.Ele está por detrás do Campo de Educação Ambiental Eva e Américo Durão do Santo da Serra que aposta na luta contra espécies invasoras e pelo regresso à flora da Laurissivila, a floresta de loureiros endémica.Ele elucida-nos sobre o impacto que as alterações climáticas estão a ter ao nível das espécies da flora local.Nós vamos constatando e registando alterações nos períodos de floração, de frutificação. O caso mais notável é o do Vaccinium padifolium, a Uveira da Serra: um arbusto endémico que produz frutos fantásticos, riquíssimos em vitamina A ! E que são excelentes para produzir compota. Nós inclusivamente produzimos compota e é uma das fontes de receita da associação. Mas estamos a constatar isto. Estamos a constatar que outras espécies que floririam lá para Setembro começam a florir, estou-me a lembrar do tangeirão bravo. Ele já está a desenvolver [em Junho de 2023] as inflorescências. Em Julho vai estar florido, estamos atentos a essa situação.A Madeira às voltas com condicionantes meteorológicas, sejam elas as vagas de calor e os ventos fortes... estes últimos obrigando ao cancelamento de muitos voos de e para a ilha enquanto as vagas de calor têm beliscado, de certa forma, a imagem do território, tido até recentemente como particularmente ameno. Esta é uma reportagem efectuada neste verão europeu na Pérola do Atlântico.
9/6/20239 minutes, 52 seconds
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Portugal: Aeroporto da Madeira e o quebra-cabeças do vento

A Madeira, região autónoma portuguesa, embora não muito afastada das costas de Marrocos não tem ligações marítimas regulares com nenhum porto, seja ele nacional ou internacional fora do arquipélago.Daí ser imprescindível viajar de avião pelo que o aeroporto é uma passagem obrigatória para ligar o território ao mundo. Um aeroporto cujos condicionalismos são um quebra-cabeças para as autoridades.  Aterrrar na Madeira é, para muitos, uma experiência que fica por muito tempo na memória. Devido aos ventos que, regularmente, se fazem sentir sobre a pista, tendo esta sido conquistada em parte ao mar.Este é mesmo o único aeroporto do mundo onde a velocidade dos ventos fica limitada a 15 nós... obrigando a muitas interrupções do tráfego aéreo e a grandes constrangimentos para operadores e passageiros. Victor Prior dirige o gabinete local do Instituto português do mar e da atmosfera. No final de Junho ele descrevia-nos o cenário observado no Aeroporto da Madeira, com alguns dias de grandes condicionamentos e, mesmo, de encerramento da aerogare, quando noutras zonas da ilha o vento quase nem se fazia sentir.O vento médio no aeroporto era 40 quilómetros por hora e no Funchal era 4 quilómetros por hora. Temos aqui algumas montanhas, mas bem mais baixas do que o [Pico do] Areeiro que, no fundo, protege parte da costa Sul, principalmente o Funchal. É uma zona que está desabrigada, não tem praticamente nada a proteger destes ventos de Norte ou Nordeste.O aeroporto tem 59 anos e já foi ampliado por duas vezes, a pista mede actualmente quase 2 800 metros de comprimento.Os cancelamentos de voos obrigam regularmente a reagendamentos e a custos para companhias aéreas e ou passageiros, com registo de muitos prejuízos económicos e de atrasos para passageiros e agentes económicos.Carla Berenguer é jurista na delegação local da DECO, Associação de defesa do consumidor.Ela admite que nem sempre é óbvio para os utentes fazer valer os seus direitos, em caso de cancelamento do respectivo voo.Quando há um cancelamento de uma viagem que seja por um facto imputável à transportadora, o consumidor tem direito a uma indemnização que vai entre o valor de 250 euros a 600 euros. No entanto, quando a companhia conseguir comprovar que o tal cancelamento da viagem deu-se relativamente a causas naturais, por exemplo ventos fortes, [a companhia] não tem de proceder com uma indemnização. No entanto, os consumidores têm outros direitos, nomeadamente a assistência, ou reembolso da viagem ou reencaminhamento para outro voo. Mas estes últimos três direitos têm que ser sempre assegurados. A ACIF, Associação comercial e industrial do Funchal / Câmara de comércio e indústria da Madeira preconiza que esta situação seja resolvida com base na utilização a prazo do aeroporto da ilha vizinha do Porto Santo, com ligação, em seguida, num barco rápido até à Madeira.António Fernandes é responsável pelo turismo no seio desta estrutura.Não são muitos dias por ano, mas já é significativo os custos que isto acarreta. Isto leva a competitividade porque acabam por aumentar os preços para cobrir esse risco e esse custo. Há também o custo reputacional, que é um custo grande quando acontece e acaba por afectar a região. Nós aqui na ACIF defendemos, pelo menos a meio-prazo, que devíamos caminhar para uma solução de infraestruturas aeroportuárias na Madeira e Porto Santo. Devíamos não só melhorar as capacidades dos dois aeroportos como ter uma interligação muito forte através de transporte marítimo ou de um ferry rápido entre as duas [ilhas]. Isto, para podermos contar com o crescimento que haverá ao longo dos anos como também, o Porto Santo poder servir de contingência e de aeroporto de saída e de entrada no arquipélago para não ficarmos isolados. O que se sabe com as alterações climáticas é que a tendência é aumentar o número de dias de inoperacionalidade.  Miguel Albuquerque, presidente do governo regional, apela a que um comité de peritos se debruce sobre a questão, lembrando que o aeroporto actual não tem muito a ver com o que tinha sido inaugurado em 1964.Ninguém toma decisões políticas num assunto com a complexidade técnica da questão dos ventos do aeroporto. Não é isso que está em questão ! O que está em questão é o seguinte: nós temos que tomar uma decisão política, no sentido de criar... desse corpo técnico chegar a um estudo exaustivo sobre as novas condições que estão criadas. No sentido de tecnicamente,  e com toda a segurança, tirar novas conclusões. A Região [autónoma da Madeira] investiu 550 milhões de euros no novo aeoporto. O novo aeroporto tem o dobro da pista que existia anteriormente. O novo aeroporto está posicionado numa situação completamente diferente da do aeroporto antigo ! E estes cálculos técnicos de segurança de aproximação [à pista em função da velocidade do vento] têm de ser feitos não em função daquilo que existia em 1964, mas naquilo que existe hoje.De acordo com um comité técnico 80% dos voos que não podem aterrar na Madeira dizem respeito a dias em que a velocidade do vento está situada em apenas 3 nós acima do limite.A partir de Maio de 2024 será implementado todo um equipamento visando avaliar a situação no local ao longo de um ano.Uma decisão sobre a alteração dos limites de vento no Aeroporto só deverá ser anunciada, porém, em 2026.Enquanto isso uma viagem à Madeira ou a partir da ilha pode ser sinónimo de voos cancelados devido à velocidade do vento.As aterragens na pista à beira-mar geram, frequentemente, alguma ansiedade junto dos passageiros devido à turbulência... precisamento no momento em que o avião se prepara para pousar na pista do Aeroporto que, desde 2017, tem o nome da lenda local e mundial do futebol: Cristiano Ronaldo.
9/1/20237 minutes, 11 seconds
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Lisboa reúne o Mundo no Festival TODOS

Há quinze anos que o festival TODOS acontece ininterruptamente em Lisboa. São 15 edições dedicadas a uma "caminhada de culturas", a viajar pelo Mundo sem sair da capital portuguesa.O evento parte da ideia central de avançar de uma multiculturalidade, de uma cidade de guetos, em direcção à interculturalidade, estimulando a descoberta e a convivialidade.  O Festival TODOS propõe-se inquietar e, até 10 de Setembro, apresentar diferentes eventos e iniciativas em vários espaços da Freguesia de Santa Clara .Com um programa repleto de momentos imperdíveis, o TODOS junta intervenientes de Portugal, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Moçambique, Angola, Brasil, Colômbia, Congo, Síria, Turquia, Itália ou França, para mencionar apenas alguns.Os eventos podem ser, por exemplo, de música, teatro, gastronomia, fotografia, performance ou dança, mas também podem ganhar a forma de uma conversa sobre desafios climáticos ou uma oficina de construção de instrumentos a partir do lixo. O festival promovido entre a Academia de Produtores Culturais e a Câmara Municipal de Lisboa é um convite ao convívio entre culturas.Para nos ajudar a descobrir o festival que derruba barreiras, a RFI falou com o director do festival TODOS, Miguel Abreu.
8/31/202311 minutes, 26 seconds
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Moçambique: "Não se pode desprezar a paz"

João Mário chegou à cidade de Quelimane em 1972 para estudar. Na altura, com apenas 12 anos, a cidade de Quelimane "era bem mais pequena", conta-nos. Entre 1980 e 1984 foi "soldado do governo", um combatente na guerra civil cuja "responsabilidade foi de se manter vivo para defender o país".  O funcionário no departamento de finanças no Conselho Municipal de Quelimane, João Mário, conta-nos que durante o regime colonial "a cidade Quelimane era pequena e com pouco movimento. Havia poucos negros, a maioria eram brancos, portugueses. Havia a questão de colonizador e do colonizado e sentíamos essa diferença. Em 1972, tinha uns 12 anos, fazia parte de uma família de assimilados".Durante mais de quinze anos, no período da guerra civil, não havia quase alimentos em Moçambique. "Toda a guerra é difícil, não há guerra fácil. Durante a guerra, tudo era árduo... Acordávamos a pensar 'estou vivo'. E manter-se vivo fazia com que pudéssemos defender a pátria. Foi uma guerra de discórdia. Fui soldado do governo, tratando-se de uma guerra civil todos somos família", acrescenta.Hoje o país não está completamente em paz, com um conflito armado no norte de Moçambique, em Cabo Delgado. "É pena haver terrorismo em Cabo Delgado porque o distrito estava a desenvolver-se e as guerras destroem infra-estruturas, tecido sociais e obrigam as pessoas a deslocar-se", concluiu.Um conflito armado que teve início em 2017, na província de Cabo Delgado, no norte do país. Numa luta é travada entre as forças governamentais apoiadas por forças regionais da SADC e do Ruanda e uma milícia islâmica, que reivindica lealdade ao auto-proclamado Estado Islâmico. A região de Cabo Delgado é rica em recursos naturais, incluindo gás natural e pedras preciosas, a falta de investimento nesta região por parte do governo resultou em pobreza e exclusão social.Quelimane, a nova “cidade das bicicletas” Na província da Zambézia, os carros e autocarros foram substituídos por bicicletas, que são hoje o meio de transporte mais popular. Quelimane conta com cerca de 10 mil ciclo-taxistas e tornou-se a “cidade das bicicletas”, como nos explica o presidente da associação dos taxistas e motociclos da Zambézia, António Bernardinho.Em Quelimane, a quarta maior cidade de Moçambique, o sub desenvolvimento urbano e o desemprego forçam os jovens a procurar empregos alternativos. 
8/23/202310 minutes, 6 seconds
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Cacau deu a conhecer São Tomé e Príncipe ao mundo

Água Izé foi a primeira roça de São Tomé e Príncipe, detentora de um grande património histórico e cultural. Um local escolhido em 1822 pelo precursor da cultura do cacau em S. Tomé e Príncipe, o “Barão de Água Izé”, João Maria de Sousa e Almeida. Uma cultura que deu a conhecer São Tomé e Príncipe ao mundo desde o século XIX até aos nossos dias. A Roça água Izé é a mais antiga roça de cacau na ilha de São Tomé e Príncipe. Perto da Roça Agua-Izé encontramos a Boca de Inferno, uma extensão de terra e rochas encravadas no mar. Conta a história que, quando o icónico Barão de Água Izé queria ir a Portugal, lançava-se com o seu cavalo branco pela Boca do Inferno, em São Tomé, e saía na Boca do Inferno, em Portugal. "É um ponto turístico em São Tomé que tem uma história fantástica. O Barão de Água Izé era o dono da roça e quando ele ia Portugal ele só viajava de cavalo. Ele entrava na boca do inferno e saia em Portugal. Ele foi o primeiro homem a trazer o cacau para São Tomé", conta Maldini Vaz, que vive na roça Água Izé.Água Izé foi a primeira roça de São Tomé e Príncipe, detentora de um grande património histórico e cultural. Um local escolhido em 1822 pelo precursor da cultura do cacau em S. Tomé e Príncipe, o Barão de Água Izé, João Maria de Sousa e Almeida. Uma cultura que deu a conhecer São Tomé e Príncipe ao mundo desde o século XIX até hoje. "Cacau e café é o nosso ouro aqui em São Tomé. O cacau veio do Brasil. O Barão de Água Izé vivia no Brasil, ele era jovem. Os brasileiros lutaram pela liberdade, correram com os portugueses. Eles queriam plantar cacau em Portugal, mas decidiram fazê-lo aqui", conta.Com cais próprio para exportação do cacau e café, e para abastecimento, com a própria Igreja que ainda existe, dois hospitais, hoje a roça Água Izé está em ruínas. Hoje vivem cerca de 2.000 pessoas na roça Agua Izé que vivem da agricultura, da criação de gado, da pesca e do turismo.
8/18/202310 minutes, 29 seconds
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"Roça Água Izé foi uma das maiores plantações de São Tomé e Príncipe"

Fomos visitar a antiga fábrica de cacau com Maldini Vaz e Moises Vaz, habitante da roça Água Izé, uma das maiores e mais importantes plantações de São Tomé e a que lançou a indústria do cacau no arquipélago. Com uma extensão de 80 quilómetros quadrados, 12 km de costa e 4.800 hectares de área cultivada, a Roça Água Izé era pertença de João Maria de Sousa e Almeida, um são-tomense descendente de uma família mestiça, abastada de São Salvador da Baía, que em 1855 introduz a cultura de cacau em de São Tomé e Príncipe.Uma parte significativa dos habitantes da Roça Água Izé são cabo-verdianos ou de origem cabo-verdiana. Outros são de origem angolana e também moçambicana. Há também uma comunidade de Angolares que na era colonial prestava serviços à roça Água Izé como tripulantes de embarcações, que transportavam a produção de cacau para os navios que ancoravam no pontão da Roça.No início do século XX, a Roça Água-Izé contava com mais de 1.000 trabalhadores. Era uma cidade com casas, comércio e até dois hospitais. O grão de cacau ainda é cultivado, mas com níveis de produção muito mais baixos.A roça Água Izé começa a renascer para outros desafios ligados à agricultura apesar de ser também um ponto turístico importante para o país.
8/18/20238 minutes, 5 seconds
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Timor também marcou presença na Jornada Mundial da Juventude

Mais de 60 timorenses marcaram presença na Jornada Mundial da Juventude, que decorreu há uma semana, em Lisboa. Conhecer Portugal e falar do seu país, desconhecido para muitos jovens nascidos no XXI século, foram algumas das missões de quem veio até à Europa para este encontro católico. Pelo menos 62 timorenses inscreveram-se como peregrinos na Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa. No meio dos milhares de pessoas, a RFI encontrou Leo Pinto que é timorense e para se destacar, carregava a bandeira do seu país. Vive há cerca de cinco anos na Irlanda e mostrou-se satisfeito por conhecer, finalmente, Portugal.“Estou muito feliz de participar na Jornada Mundial da Juventude. Para mim é uma experiência surreal. Os portugueses fizeram um trabalho maravilhoso para manter toda a gente em segurança durante a Jornada o que é fantástico quando estamos a falar de um milhão de pessoas que visitam Lisboa nesta altura. Há sempre comida e a hospitalidade é fantástica. As pessoas são muito simpáticas. Estou a adorar estar aqui e quero muito voltar a Lisboa”, declarou.Após as eleições legislativas de Maio deste ano, em que Xanana Gusmão ganhou, tornando-se primeiro-ministro, Leo diz que o país está em paz e planeia voltar já em 2024 para visitar a família.“Eu vou voltar a Timor em 2024 e acho que a situação se tornou pacífica agora. Estou particularmente feliz que a situação política se tenha estabilizado. Os nossos líderes tentam trabalhar em conjunto, mesmo quando têm ideias políticas diferentes e parece-me que querem trabalhar para o bem comum. A minha família diz-me que tudo está bem no país e pede-me para que onde quer que eu vá, espalhe também a paz”, contou à RFI.Não foi só a RFI que reparou na bandeira de Timor no meio de centenas de outras bandeiras. A estrela branca, envolta em preto, amarelo e vermelho chamou a atenção de outros jovens que se mostraram curiosos sobre esta nação o que possibilitou a Leo Pinto falar sobre o seu país.“Muita gente se aproxima de mim porque tenho esta bandeira e muitos jovens que já nasceram no século XXI não sabem onde é Timor nem conhecem a nossa história. Eles estão sempre a perguntar de onde sou e dizem-me que a nossa bandeira é linda e nunca a tinham visto antes e aí eu explico: nós somos um país no Sudeste asiático, entre a Austrália e a Indonésia, fomos uma colónia portuguesa e durante 24 anos estivemos sob a controlo da Indonésia, mas agora somos independentes. Depois digo que o português, assim como o tétum são as nossas línguas oficiais e eles dizem: Uau! Eu, por exemplo, percebo bem o português, mas só falo tétum, nunca fui à escola portuguesa”, indicou.Durante o quase quarto de século de ocupação indonésia, os timorenses foram obrigados a escolher uma das cinco religiões oficiais da Indonésia e cerca de 90% escolheram o catolicismo, sendo obrigados a deixar para trás a religião tradicional dos seus antepassados. Nessa altura, o clero instalado na ilha há quase cinco séculos com muitas ordens com fortes laços com Portugal, foi substituído por clero da Indonésia, levando a própria Igreja a tomar uma posição de conciliação, com o Papa João Paulo II a ter visitado Timor em 1989, ainda ocupado, e falar indirectamente dos abusos de direitos humanos cometidos contra os timorenses.Na feira das vocações, organizada nos jardins de Belém durante a Jornada Mundial da Juventude para que os jovens contactassem com diferentes ordens católicas encontrámos a irmã Fátima, da ordem das Escravas da Santa Eucaristia e da Mãe de Deus, que é missionária em Timor-Leste há 11 anos. Esta ordem acompanha jovens timorenses que queiram integrar a missão e também cerca de 500 crianças em diferentes cidades do país."Estamos a apoiar quase 500 crianças, estamos em três dioceses. Em Baucau são 300 crianças mais desfavorecidas, é também mais longe, a 200 quilómetros, demoramos seis horas a chegar lá e estamos com o apoio do Ministério da Solidariedade de Portugal e de Timor. Ali as crianças fazem uma refeição quente e lanche, a única para alguns, e reforçamos a escola porque temos pré-escolar e tempos livres", descreveu a irmã Fátima.
8/13/202311 minutes, 25 seconds
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Arquipélago português da Madeira entre principais destinos de nómadas digitais

São milhares os nómadas digitais que, nomeadamente, desde a pandemia de Covid-19 escolheram vários locais pelo mundo para aí se instalarem.Estes novos trabalhadores do século XXI cumprem as suas funções de forma remota, graças à internet, e usufruem, frequentemente, de condições mais aprazíveis no dia-a-dia.A RFI esteve no arquipélago português da Madeira para contactar com as autoridades locais e também com nómadas digitais. Entre muitos destinos internacionais dois territórios em Portugal têm estado a acolher importantes comunidades de nómadas digitais.Lisboa, a capital, mas também a região autónoma da Madeira.Desde finais de 2020 a Startup Madeira contou com mais de 17 000 pessoas inscritas, mais de metade já concretizou a experiência.Primeiro, com um pequeno centro, na Ponta do Sol, no sudoeste da ilha: a experiência agora cobre as duas ilhas habitadas do arquipélago (Madeira e Porto Santo).Carlos Lopes é um dos promotores do projecto.Ele conta como é que o programa ganhou a dimensão que agora tem colocando o território no ranking de destinos preferidos de nómadas digitais.Martin Donadieu é francês. Este nómada digital explica ter-se envolvido num projecto "Madeira friends" onde se tenta, também, capacitar os madeirenses que se podem manter na sua terra natal se conseguirem um trabalho que possa ser exercido de forma remota a partir da ilha."Enquanto nómadas digitais, sabendo que podemos, com as competências que temos, trabalhar a partir do lugar que quisermos... Ora as pessoas de cá, frequentemente, acham que, tendo competências de gabarito, não têm outra opção a não ser sair da Madeira por forma a serem pagos à altura do que merecem. O que gostaríamos de fazer com a associação "Madeira friends" seria mostrar aos locais que se eles, de facto, gostam e apreciam o arquipélago poderiam continuar a viver cá ao conseguirem vender as suas competências a quem delas precisar. Já não precisariam, obrigatoriamente, de partir morar em Lisboa ou em Paris. É também o que procuramos transmitir ao estarmos cá com a associação e todos os eventos que organizamos para transmitir aos madeirenses essa cultura."Já Shannone Controu se diz determinada em continuar a trabalhar à distância para a sua startup, instalada em França. Apesar de a Madeira ter sido, sobretudo um acaso, ela assume a sua satisfação com a experiência."Trabalho para uma startup francesa, de Paris. Trabalho a tempo integral a partir da Madeira. Trabalhar desta forma já não é uma questão que me coloque. É um modo de vida com o qual me identifico plenamente e que quero manter. Antes do Covid nunca tinha ouvido falar da Madeira, nem sequer que era a ilha do Ronaldo ou algo do género !Quando olhei da janela do avião e vi todas estas montanhas fiquei a perguntar-me o que era tudo isto ? Só para que tenham noção do meu grau absoluto de desconhecimento da Madeira e do quão grande foi a minha surpresa, da beleza da ilha, as pessoas são, mesmo, fabulosas !"Por seu lado Victor Leduc conta-nos como é que a sua vida de nómada digital na Madeira acabou por se concretizar e como decorre o seu dia-a-dia."Apaixonei-me pela Madeira e no fim da primeira semana cá já estava à procura de casa. De há um ano para cá já sou residente e comprei um apartamento. Adoro esta natureza, o clima, uma qualidade de vida incrível para trabalhar. Na Madeira eles são até quase mais modernos do que em França: a fibra está em quase todo o lado. Tenho um excelente sinal em casa, um giga por segundo, sem problemas técnicos. Prefiro trabalhar a partir de casa, mas também há muitos locais de trabalho partilhado, se se tem vontade de trabalhar com outras pessoas. Trabalhamos o dia inteiro, mas ao final do dia, com a diferença horária e o facto de estarmos mais a sul e a oeste temos muito sol ao entardecer e podemos também aproveitar pelas 6, 7 horas, a seguir ao trabalho, como ainda há luz do sol podemos sair e aproveitar e ao fim de semana podemos, mesmo, fazer caminhadas, há muito que fazer !"Em que medida é que a vinda de nómadas digitais para a Madeira não tem sido sinónimo de especulação de preços, nomeadamente no mercado imobiliário, deixando de lado os habitantes sem poder de compra, relativamente a pessoas oriundas de outros mercados laborais ? Esta uma pergunta que colocámos a Carlos Lopes da Startup Madeira.Testemunhos de um fenómeno social e económico que tem estado a revolucionar vários territórios dispersos pelo planeta, incluindo a célebre "Pérola do Atlântico".
8/9/202311 minutes, 58 seconds
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Jovens ouviram mensagens do Papa, querendo uma Igreja mais aberta e sentindo-se menos sozinhos

As principais mensagens do Papa Francisco chegaram aos jovens que vieram até Lisboa e mais de um milhão e meio de pessoas regressa agora às suas casas com mais abertura, esperança e menos sozinho como muitos peregrinos contaram à RFI em Lisboa. Durante uma semana, todo o Mundo - excepto As Maldivas - esteve presente em Lisboa, com 192 nacionalidades a marcarem presença na capital portuguesa para participar na Jornada Mundial da Juventude. Cerca de um milhão e meio de católicos romaram de diferentes pontos do globo para participar no maior evento jamais realizado em Portugal.José, de 23 anos, veio pela primeira de Angola para Portugal para participar na Jornada Mundial da Juventude e disse ter sido maravilhoso encontrar  jovens de todo o Mundo, onde mesmo sem se falar a mesma língua, todos se compreendem. "É um encontro com toda a juventude a nível mundial e é muito maravilhoso receber muitas experiências e também partilhar. Temo-nos comunicado apesar de não entendermos as línguas de toda a gente, se com palavras não dá certo passar uma informaçaõ, passamos por gestos. A mensagem que ficou é quando tivemos o encontro com o Papa, quando eles nos disse que a Igreja está sempre aberta para todos, seme xceção. Então somos convidados a vir independentemente do tipo de vida e tem espaço para todos", disse o jovem angolano.O Papa Francisco foi a estrela desta Jornada Mundial, tendo permanecido quase uma semana em Portugal, com muitos momentos com os jovens, mas também muitos encontros com a sociedade civil e autoridades políticas portuguesas. Logo na quinta-feira, o Papa proferiu as palavras que mais marcaram José."Amigos, quero ser claro convosco que sois alérgicos à falsidade e às palavras vazias. Na Igreja há espaço para todos. Para todos. Na Igreja ninguém está a mais, há espaço para todos", afirmou o Papa.Lisa, também vinda de Angola, tentou explicar o porquê desta popularidade do Papa Francisco junto dos jovens."Ele é muito popular, o Papa Bento XVI era mais reservado. O Papa Francisco é mais moderno", assegurou.De Cabo Verde, o padre Elias trouxe muitos fieis da ilha de Santiago e o maior voto do arquipélago é paz, uma paz promovida pelo Papa Francisco."O Papa é amigo dos jovens, da Igreja, e é amigo do Mundo e, neste momento particular, que o Mundo precisa de paz, a presença do Papa é a presença da paz. Estamos entusiasmados para viver esta festa, que haja alegria e tudo de bom para a juventude", declarou o padre Elias.Pedindo a paz, mas falando de guerra, Marta Luíz falou na noite de Sábado da guerra em Cabo Delgado, junto do Papa e para 1m5 milhões de pessoas. A jovem moçambicana explicou como a sua família teve de fugir da sua casa devido aos ataques terroristas e como não perdem a fé da reconstrução do país."Pedia a Deus que nos ajudasse e tirasse toda maldade do mundo e que as pessoas que estavam provocando essa guerra mudassem de vida. As populações das nossas aldeias estão todas espalhadas. Temos sido acolhidos nas paróquias onde fomos morar, mas temos muitas saudades da nossa aldeia e dos nossos costumes, cantos e danças. Mas em meio a todo sofrimento numa perdemos a fé a esperança de que um dia vamos reconstruir de novo a nossa vida", disse a jovem.Para realizar esta Jornada Mundial da Juventude foram precisos mais de 25 mil voluntários e Eldwing é um deles. Veio de Aruba, cerca de três dias de viagem para chegar a Portugal, e no Parque Teja tinha uma das responsabilidades mais importantes devido ao calor de 36 graus: tomar conta de um dos pontos de água."É muito trabalho, nem sempre é o trabalho mais fácil, mas para mim é optimo. Ver as outras pessoas felizes, faz-me feliz. É a primeira vez na minha vida que vejo tanta gente! Se olharmos ali para a ponte pedonal, ainda está tanta gente a chegar. Aqui temos o posto da água e as pessoas estão loucas porque está tanto calor que toda a gente quer chegar à àgua. É difícil manter a ordem aqui! A mensagem que eu levo daqui é que é importante trabalhar duro, manter sempre a cabeça erguida, vamos encontrar dificuldades na vida, mas temos de nos lembrar que fazemos isto não só pelas pessoas, pelos outros, mas por Jesus e o nosso maior propósito é servir", declarou.Numa Jornada em que o mote era "Maria levantou-se e partiu apressadamente", assinalando a importância de os jovens deixarem a vida virtual e dedicarem-se ao bem comum, o Papa Francisco lembrou a importância da solidariedade e de servir."Quando eu dou a mão a alguém, a um doente, a um marginal, limpo depois a mão para que não seja contagiado? Tenho nojo da pobreza? Estou sempre à procura de uma vida destilada, que só existe na minha cabeça, mas não existe na realidade. Quantas vidas destiladas e inutéis, que passam pela vida sem deixar marca? Porque a sua vida não tem peso", avisou o Papa.Vinda do Japão, mais precisamente de Osaka, Samy disse que a partir de agora já não se vai sentir sozinha como católica num país onde a maioria da população não tem esta orientação religiosa."Eu acho que nunca vou esquecer esta experiência, tem sido magnífico. É a primeira vez que estou na jornada mundial da juventude. Primeiro estava muito nervosa porque não sabia muito bem orientar-me, mas percebi que ninguém sabia então tornou-se mais fácil. Agora estou a ir com a multidão e só aproveitar e falar com as pessoas. A mensagem que eu levo comigo é que eu não estou sozinha, no Japão não há muitos católicos, eu não tenho nenhum amigo católico, então é fantástico conhecer outros católicos que vieram também do Japão e do Mundo inteiro para estar aqui. E também percebi que nunca é tarde demais. Ás vezes eu acho que se torna difícil fazer alguma coisa e quer desistir, mas ao ver estes jovens com tanta energia, percebo que nunca é tarde para começar algo novo", disse a peregrina japonesa.E tal como Samy aprendeu nestes dias em Lisboa, também o Papa disse que nunca é muito tarde para ter objectivos e para os concretizar, mesmo que por vezes, caia pelo caminho."Pensem no que acontece quando estamos cansados. Não temos vontade de fazer nada, sentimos as nossas forças a abandonarem-nos, deixamos de caminhar e caímos. Vós achais que a vida de quem cai e até quem tem um fracasso ou faz coisas muito más na vida está terminada? Não, o que é que é preciso fazer? Levantar-se! E há algo muito bonito que os alpinistas dizem que é: na arte de subir à montanha, o que é importa não é não cair, mas sim não permanecer caído", lembrou o Santo Padre.Os jovens católicos têm agora encontro marcado para 2027 na Coreia do Sul, em Seul.
8/6/202313 minutes, 18 seconds
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Jovens de Pemba em Lisboa "com fé" de que a paz vai voltar a Cabo Delgado

Ernesto, Rodrigues, David e Esmênia são quatro jovens vindos de Pemba e arredores, em Cabo Delgado, que vieram até Lisboa para participar na Jornada Mundial da Juventude. Aqui, vieram falar sobre a necessidade de paz no seu país, mas também a esperança de apresentar a sua fé como uma alternativa ao terrorismo que assola a região há vários anos. Moçambique conta com uma participação de cerca de 300 peregrinos na Jornada Mundial da Juventude que se realiza até 6 de Agosto em Lisboa e alguns destes peregrinos são jovens vindos de Pemba e aldeias nos arredores, na província de Cabo Delgado, há vários anos fustigada pelo terrorismo.Para os quatro jovens que falaram com a RFI, Ernesto, Rodrigues, David e Esmênia, esta é uma oportunidade para pedir paz para uma região que parece cada vez mais afastada dos noticiários em todo o Mundo."A paz é um indicador que todos querem e esse é um desejo nosso, jovens moçambicanos, concretamente os jovens que vêm da província de Cabo Delgado. Nós acompanhamos na televisão e agora raramente se fala na guerra em Cabo Delgado, antes, conseguíamos acompanhar mais. Desde os ataques da Rússia, sentiu-se que já não se fala muito de Cabo Delgado, mas nós ainda estamos numa situação caótica", explicou Ernesto.Mesmo se uma parte da população já está a voltar às suas casas, David, que vem da paróquia de Santa Cecília de Ocua, conta que a situação ainda não é completamente segura."Há quem acredite que os insurgentes pararam de atacar, mas, na verdade, os insurgentes continuam com as suas acções, continuamos em guerra. Os insurgentes estragaram muita coisa e temos falta muitas coisas, falta água, muitas escolas e igrejas foram destruídas", indicou.Uma jovem de Pemba vai ter a oportunidade de falar durante a Vigília dos Jovens no Sábado perante o Papa, mas para Rodrigues o pedido essencial a fazer ao Santo Padre é a paz na região."Se houvesse uma oportunidade falar com o Papa será de pedir a Paz, para Moçambique, para a Rússia e a Ucrânia para todo o Mundo. Uma perspectiva importante deste encontro é a troca de experiências. Na catequese de hoje referimos, porque se falava na Europa, que nós africanos sentimos que a Europa até está estável, comparando com Moçambique ou outros países em África. Todo o continente africano merece uma chamada de atenção incluindo no que diz respeito ao desenvolvimento", declarou.Apesar das dificuldades, estes jovens de Pemba trazem uma mensagem de esperança e alegria para partilhar com os outros jovens católicos, representando as suas famílias e a sua província na capital portuguesa."O que as nossas famílias nos mostraram é que nós por mais que estejamos numa situação caótica, tentamos mostrar a nossa alegria, a nossa esperança, estamos aqui todos juntos que temos fé, independentemente da situação que a nossa pronvícia enfrenta, que um dia a paz voltará à nossa região", concluiu Ernesto.
8/4/20239 minutes, 27 seconds
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São-tomenses vêm a Lisboa pedir uma benção para o seu país e a abertura da Igreja

Quase 700 são-tomenses decidiram encurtar a distância entre São Tomé e Príncipe e Lisboa para participar na Jornada Mundial da Juventude. Para muitos é a primeira viagem até Portugal com uma grande vontade ver o Papa, mas também de partilhar momentos de comunhão com jovens do Mundo inteiro e pedir um futuro melhor para o seu país.  Quase 700 são-tomenses vieram até Lisboa para a Jornada Mundial da Juventude. Um feito inédito e um recorde de participação que se explica pela proximidade de Portugal e da língua. A organização deste grupo cabe ao Frei Gilson, que mobilizou centenas de fieis para este encontro da Igreja Católica."Foi uma novidade porque é a primeira vez que estamos a trazer tantos jovens para um evento da grandeza da Jornada Mundial da Juventude, cerca de 670 jovens. Cada um faz a sua parte e as coisas vão correr bem", declarou o Frei Gilson.Dani, chefe dos escuteiros da Paróquia da Conceição, está à frente de um grupo de 60 pessoas e garante que apesar das dificuldades, com organização tudo é possível."Foi com muita preparação e muita catequese, com organização conseguimos!", declarou Dani.De forma a vir para Lisboa, muitos são-tomenses pouparam durante anos, de forma a custear a viagem, mas também alojamento e outras despesas da viagem."Durante uns bons três ou quatro anos as pessoas já começaram a organizar-se para chegar aqui, e alguns familiares aqui em Portugal enviaram um eurozinho e tudo ajudou", explicou Dani.No ponto de reunião que juntou toda a delegação antes da partida para a paróquia de Miratejo, em Corroios, onde os jovens são-tomenses vão ficar até domingo, o entusiasmo era palpável e cada um fazia já os votos para esta jornada."Nós somos um povo divertido e alegre e partipar nestas actividades é muito gratificante e grande parte de nós somos escuteiros e gostamos de saídas e acampamentos. Aqui vamos encontrar gente diferente e isso é muito gratificante. Queremos ter uma partilha da fé. Eu quero pedir uma benção para o nosso país, temos tido muitos governantes que não têm feito nada para o país, não temos crescido, o nosso país não se desenvolve e quero uma benção para o nosso país para ver se rumamos para a frente e ficamos todos bem", pediu Dani.Atrair mais jovens para a Igreja e ter uma Igreja mais aberta são também algumas das preocupações dos são-tomenses."A Igreja tem de se renovar e adaptar-se aos novos tempos. Isso não significa abandonar a doutrina, mas adaptar-nos ao que é o Mundo hoje. Há questões fundamentais que temos de continuar a abordar. O empoderamento da mulher na Igreja Católica, para mim, seria algo muito importante, temos de ver mais isso. Então a Jornada deve servir para isso. Discutir tudo isto, dar mais acesso e trazer mais jovens, porque se eles virem que a Igreja se adapta, eles vão querer continuar" concluiu Edelena.Este é um momento de importante também para Edelena porque ela ainda se lembra da vinda do Papa João Paulo II a São Tomé e Príncipe em 1992, mas era "muito pequena" e emociona-a quase 30 anos depois ter a oportunidade de ver o Papa Francisco em Lisboa.
8/3/20236 minutes, 53 seconds
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Jornada Mundial da Juventude arranca em Lisboa até domingo

Um milhão de pessoas vão passar entre dia 31 de Julho e 6 de Agosto em Lisboa para participar na Jornada Mundial da Juventude. Mas o que é este evento que vai trazer mais de um milhão de católicos e o próprio Papa Francisco à capital portuguesa? Durante uma semana, entre 31 de Julho e 6 de Agosto a Igreja Católica quer mobilizar os jovens esperando-se mais de um milhão de peregrinos em Lisboa para a Jornada Mundial da Juventude, um encontro proposto pela primeira vez pelo Papa João Paulo II em 1986 e que já teve 14 edições em quatro continentes diferentes. O Papa Francisco não vai faltar a esta iniciativa, ficando entre dia 2 e dia 6 de Agosto em Portugal.O que é a JMJ?A ideia é aproximar jovens vindos de 184 países não só da sua própria fé, mas fazê-los perceber que há outros jovens noutros pontos do Mundo com as mesmas convicções e até as mesmas dúvidas. No entanto, os jovens de há 40 anos não são os mesmos que em 2023 se vão encontrar em Lisboa.Esta é uma realidade clara para o recém-nomeado cardeal português, Américo Aguiar, que é o presidente da Fundação da Jornada Mundial da Juventude, entrevistado pela nossa correspondente em Lisboa, Marie-Line Darcy.“É a primeira vez que a Jornada Mundial da Juventude acontece para jovens considerados 'nativos digitais', porque a idade deles é de 1990. Quem nasceu antes é imigrante digital. Portanto estamos a falar para um contingente novo, não é melhor nem pior, é diferente na maniera de pensar, de comunicar, de se relacionar, e na maneira como quer organizar e pensar o Mundo. Estes jovens devem ser para nós Igreja, Estado, Europa e Mundo, não os protagonistas do futuro, mas os protagonistas hoje”, disse o cardeal.Para evitar mal-entendidos e chegar à geração Z, a Igreja Católica que ouvir mais os jovens.“Às vezes estamos a falar e parece que não os entendemos ou que os jovens falam e nós não os entendemos. Então, como o Papa diz, é preciso um esforço mútuo de conversão para que os jovens gritem, consigamos ouvir e juntos tracemos o futuro”, declarou.Mas como ouvir os jovens se eles passam uma parte importante do seu tempo nas redes sociais e em espaços digitais ausentando-se cada vez de locais como a missa ou outros espaços comunitários? A Igreja Católica pensa que é através destes grandes encontros, que em Lisboa vai juntar cerca de um milhão de pessoas e trazer à capital portuguesa o Papa Francisco durante quase uma semana, multiplicando encontros entre o Santo Padre e os jovens.A edição deste ano tem o mote “Maria levantou-se e partiu apressadamente”, uma passagem do Evangelho segundo São Lucas, que não quer pedir aos jovens que partam rapidamente para outro lado, mas sim que se mobilizem.“É muito importante que os jovens tenham uma cultura do encontro, do encontro com o que é diferente, o encontro da ternura, dos nossos sentimentos, desta fraternidade universal. o que eu espero é que estes jovens regressem aos seus países, às suas realidades e sintam o desejo e a força de quererem mudar, de quererem ser protagonistas do futuro e que não tenham a sensação de ficar sentados no sofá, que não fiquem a ver passar a vida e a sociedade, que se sintam protagonistas”, indicou o cardeal Américo Aguiar.Quem vem à JMJ?Todos os jovens católicos foram convidados a vir à JMJ quando em 2019 o Papa Francisco anunciou esta edição em Lisboa. Desde essa altura, as paróquias e as dioceses têm-se organizado para angariar fundos para a viagem. De Espanha, de onde ainda não se sabe quantos peregrinos virão, passando por França de onde são esperados 40 mil ao Brasil, cerca de 15 mil, mas também São Tomé e Príncipe, com 900, ou Angola com 500 jovens, 184 nacionalidades estarão presentes.Uma destas jovens é Amanda, uma norte-americana de 27 anos vinda de Tyler, no Texas, está a viajar há mais de 24 horas para chegar a Lisboa. Encontrámo-la na sua escala em Paris e esta é a segunda vez que participa num evento desta magnitude, tendo estado em Cracóvia em 2016. Amanda está entusiasmada para encontrar outros jovens católicos e aproveitar para ver algumas igrejas.“Vim para ter uma experiência da Igreja Católica com outros jovens vindos de todos o Mundo. Estou à espera de muita gente, catequese, oração e muita celebração, muitos ensinamentos. E claro, ver igrejas bonitas”, disse a norte-americana.Do que se vai falar na JMJ?A perda de crentes para outras igrejas e como resolver a crise de fé serão um dos pontos importantes nesta Jornada, algo que nos Estados Unidos, apesar da pluralidade religiosa, segundo Amanda não é um problema.“A Igreja Católica continua a ter um papel muito importante nos Estados Unidos e claro que existem muitas outras igrejas cristãs, mas ainda temos muita força. Claro que há pessoas que vão mais ou menos à missa. Mas ainda estamos aqui”, declarou Amanda.Também o celibato, assim como o papel da mulher na Igreja vão ter um papel de destaque nesta Jornada. Quanto ao papel da mulher, o Padre Armando Pinho que vem de Angola com cerca de 500 jovens não duvida que as coisas estão a mudar.“Há as visões tradicionais da mulher mãe, conselheira, gestora e que assegura o lar, mas vamos percebendo uma mudança nestas ideias em Angola nos últimos tempos, vemos uma mulher protagonista, líder e que na Igreja campeia todos os sectores e faz a Igreja crescer. Mais do que nunca e melhor do que no passado, sentimos uma presença activa e dirigente no seio da comunidade cristã”, disse o padre Armando Pinho Alberto.Outro tema que tem afastado não só os jovens mas a própria sociedade da Igreja Católica são os escândalos de abusos sexuais no seio desta instituição milenar. Em Fevereiro de 2023, uma comissão independente sobre os abusos sexuais na Igreja Católica portuguesa divulgou que nos últimos 70 anos terão havido, pelo menos, 4.500 vítimas com uma média de idades de 11 anos quando os crimes foram cometidos.Para Américo Aguiar, a melhor mensagem para os jovens sobre estes abusos é reconhecer que estes crimes aconteceram, pedir perdão às vítimas e mudar o funcionamento da Igreja Católica."O que era grave era em Portugal não se ter investigado, ter continuado a nuvem, a dúvida, isso era grave. Agora, ter feito o relatório com os danos colaterais que isso implicou, com os sofrimentos, com as dificuldades, isso é a melhor mensagem aos jovens. Aconteceu um pecado, aconteceu um crime, aconteceu uma coisa má. Somos adultos, assumimos as responsabilidades, crescemos, mudámos e queremos fazer melhor", indicou o cardealDe forma a pedir perdão, o Papa Francisco, que chega já na quarta-feira a Lisboa vai reunir-se com um grupo de vítimas, embora ainda não se saiba quando e onde é que este encontro terá lugar.
7/31/20237 minutes, 32 seconds
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Encontrar a liberdade com Os Músicos do Tejo

Têm o nome de Os Músicos do Tejo e há dezoito anos que desenvolvem um trabalho de realce no panorama europeu da música antiga. Com a direcção artística de Marcos Magalhães e Marta Araújo, o trabalho do agrupamento tem seguido duas linhas primordiais: dar a conhecer obras do património musical português inéditas ou pouco acessíveis, mas também desenvolver projectos inovadores e transdiciplinares com artistas contemporâneos.As cinco óperas produzidas, os inúmeros concertos em Portugal e no estrangeiro, o fazerem parte do catálogo da maior editora de música clássica a nível mundial e as excelentes críticas nas publicações da especialidade, são alguns dos reflexos dos desafios que Marcos Magalhães e Marta Araújo gostam de se colocar e da maneira original e holística como entendem o que é a música, o que é a arte.Afinal, "devir" pode ser sinónimo de Os Músicos do Tejo. 
7/29/202314 minutes, 16 seconds
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Cabo Verde: Programa em São Vicente permite acesso a materiais de construção

Duzentas famílias da ilha do barlavento cabo-verdiano de São Vicente beneficiam da plataforma de bolsa de troca virtual comunitária incentivada pelo Centro Social SOS do Mindelo.  No âmbito do programa -Reforço Familiar das Aldeias Infantis SOS de Cabo Verde- duzentas famílias na ilha de São Vicente estão a beneficiar da plataforma de bolsa de troca virtual comunitária, que é um subprograma , através do qual as famílias solicitam materiais para a melhoria habitacional e em troca oferecem serviços, bens e produtos, sem necessidade de usar dinheiro.As duzentas famílias foram escolhidas nas comunidades de Monte Sossego, Fonte Felipe, Ribeira Bote e Ribeirinha. Na comunidade de Ribeira Bote, conversámos com a assistente social, Noémia Lopes, técnica do Centro Social SOS do Mindelo que acompanha a execução da bolsa de troca virtual comunitária.Na comunidade de Monte Sossego são 60 famílias a serem beneficiadas com a  plataforma bolsa de troca virtual comunitária, em  Ribeira Bote, Fonte Felipe e Ribeirinha são 140 famílias no total.A assistente social, Vânia Lopes que acompanha a execução do projecto em Fonte Felipe e Ribeirinha explica que muitas famílias vivem em casas de lata e com o aproximar da época das chuvas há um forte apelo para adesão à bolsa de troca virtual comunitária e recorda que inicialmente algumas famílias receiaram entrar no projecto.Maria Pires, residente na comunidade de Ribeirinha, na ilha de São Vicente foi uma das beneficiadas da bolsa de troca virtual comunitária afirma que o projecto tem um impacto positivo na sua vida. No sistema de bolsa de troca virtual comunitária as associações têm um papel fundamental. Em Monte Sossego onde o projecto começou a ser implementado pelo Centro Social SOS de São Vicente conta com a Associação de Moradores e Amigos de Monte Sossego e a Associação Comunitária Alto Bomba Unido.O presidente da ONG, Aldevino Fortes explica que as associações que conhecem realmente as condições de vida das famílias que vão sendo beneficiadas com os produtos. A bolsa de troca virtual comunitária que está a ser experimentada na ilha de São Vicente pelas Aldeias Infantis SOS de Cabo Verde decorre até Dezembro de 2024 e tem a finalidade, também, de evitar o assistencialismo.Neste momento as associações parceiras do projecto piloto estão no terreno a mobilizar as empresas de venda de produtos de construção a aderirem à bolsa de troca virtual comunitária aceitando que os beneficiários paguem com serviços pelos produtos recebidos. 
7/26/202311 minutes, 9 seconds
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"Viagem por mim terra" e o olhar de Venâncio Calisto para o Teatro Nacional

"Viagem por mim terra" é o mais recente projecto de Venâncio Calisto. Em resposta a um convite lançado por Pedro Penim, director artístico do Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, o encenador, dramaturgo e actor moçambicano avança num "processo de escrita itinerante e interactivo" que "resultará do encontro entre o criador e diferentes cenários, situações, comunidades, culturas e vivências em Portugal." "A releitura de "Viagens na minha terra" de Almeida Garrett e de outras obras clássicas e contemporâneas, portuguesas e moçambicanas" serão "fonte de pesquisa e de inspiração para a dramaturgia" de Venâncio Calisto.A criação "Viagem por mim terra", que é um projecto em construção, já teve apresentações em Paredes de Coura, Guimarães, Covilhã e Torres Vedras.A RFI falou com Venâncio Calisto, no momento em preparava a apresentação do primeiro livro de poesia que edita, "Nas traseiras do horizonte", uma elegia ao pai, Calisto Guilherme.O trabalho com o Teatro Nacional D. Maria II, o lançamento do livro "Nas traseiras do horizonte" e os projectos futuros, onde se incluem iniciativas a desenvolver em Moçambique, são alguns dos temas da nossa conversa com Venâncio Calisto.
7/16/202316 minutes, 5 seconds
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Protecção da biodiversidade e dos mangais de São Tomé e Príncipe

São Tomé e Príncipe é rico em biodiversidade e os mangais têm um papel fundamental no seu equilíbrio. O país tem doze mangais dos quais onze estão na ilha de São Tomé e um na ilha do Príncipe. Os mangais são de extrema importância para os seres vivos e para a natureza, pois providenciam uma série de serviços ecossistémicos, como berçários para reprodução de várias espécies marinhas.Causas antrópicas ou seja humanas e alterações climáticas são apontadas como algumas que estão na origem da degradação dos mangais em São Tomé e Príncipe, sendo que o processo de restauração dos mangais é lento e leva muitos anos. A RFI falou com diversos intervenientes no processo de conservação destes frágeis ecossistemas em São Tomé e Príncipe.
7/14/202310 minutes, 15 seconds
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Moçambique: População confirma receber ajuda da TotalEnergies

Nos últimos meses, a petrolífera francesa TotalEnergies tem mostrado sinais de querer retomar a exploração de  gás natural em Cabo Delgado, no norte de Moçambique, mas impõe condições como: o regresso das populações, garantias de segurança e o acesso rodoviário e portuário. O governo não confirma o regresso da petrolífera francesa, mas o administrador do distrito de Mocímboa da Praia, Sérgio Domingos Cipriano, garante que "a Total está de volta". Nos últimos meses, a multinacional francesa TotalEnergies mostra sinais de querer voltar a explorar as jazidas de gás natural. Mas impõe condições como o regresso das populações, garantias de segurança e o acesso rodoviário e portuário. Três exigências às quais o governo tenta encontrar resposta.Há dois anos, a petrolífera francesa TotalEnergies encerrava as suas instalações na província de Cabo Delgado, em resposta ao ataque de Março de 2021, perto da unidade de gás natural em Afungi, no norte de Moçambique.“As populações regressaram mais por factores de repulsa dos locais onde estavam no sul da província do que por factores de atracção nos seus locais de origem”, descreve o investigador do Observatório do Meio Rural, João Feijó, que desenvolve trabalho de campo no norte do país.A população está a regressar às suas terras, o acesso ao porto de Mocímboa da Praia é uma realidade e a segurança é uma garantia no triângulo de Mocímboa da Praia, Palma e Afungi, afirma o ministro da Defesa, Cristovão Chume."Em segurança não há garantias totais. Os eventos relacionados com questões de segurança podem alterar de um momento para o outro. Vamos continuar a construir melhores condições de segurança, negando o acesso a terroristas às zonas onde habitam populações", garantiu.Quanto ao regresso da Total, o ministro da Defesa diz não ter informações “credíveis”, mas pela informação disponível no site da TotalEnergies “quanto ao número de trabalhadores e companhias, estes podem indiciar um regresso da Total em breve”.O governo não confirma o regresso da petrolífera francesa, mas o administrador do distrito de Mocimboa da Praia, Sérgio Domingos Cipriano, garante que "a Total está de volta e sentimos a ajuda deles. A Total está em peso e é um parceiro que nos ajuda muito. A actividade da Total à comunidade é excelente. Recentemente, ofereceram-nos kits aos funcionários com mantas, tendas, capulanas, termos, coisas que nos ajudam. Ajudaram-nos com máquina, com o transporte de famílias”, descreve o administrador do distrito de Mocimboa da Praia.  Quase todas as infra-estruturas de Mocímboa da Praia foram destruídas, como os sistemas de água, energia, comunicações e hospitais. “Foi quase tudo destruído, equipamentos infra-estruturas”, conta o director distrital de Saúde, Nelson Ernesto Guambe. “A nossa maior preocupação são as infra-estruturas porque estamos a funcionar em espaços provisórios, enquanto decorre o processo de reconstrução. Hoje contamos com dois médicos e 36 enfermeiros”, acrescenta.Nos últimos anos mais de 600.000 pessoas fugiram das zonas de combate para a capital provincial, Pemba, foi o caso da família de Romão. “A minha família contou-me que foi um ataque impressionante, no qual perderam muitos membros da família. Tiveram que fugir para centros. Cada distrito criou centros de acolhimento para deslocados. Fui visitar a minha mãe ao centro de Pemba, eles foram bem acolhidos, tinham condições, acolheram-nos bem”, descreve.Durante quase um ano, Mocímboa da Praia foi o reduto do grupo terrorista Al Shabab. Uma cidade servida por um porto, essencial para a entrada abastecimento e saída de mercadorias. O capitão do porto, António Frederico Cândido, descreve uma “situação estável. As nossas operações estão a prosseguir”.  O exército moçambicano foi durante muito tempo ineficiente, mal equipado, mal pago, conta agora com treino da União Europeia e reforço do exército ruandês e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) no combate ao terrorismo. A missão militar da organização regional anunciou esta quarta-feira, 12 de Julho, prorrogar a presença no norte de Moçambique por um período de um ano."Uma coisa é promover a violência e outra é defender as populações. Não é possível proteger todas as pessoas. Seria um erro estratégico acreditar que se vai restabelecer a paz, unicamente, acreditando no número de forças no terreno", aponta Borges Nhamire, investigador do Instituto para Estudos de Segurança (ISS, Institute for Security Studies).A exploração das gigantescas reservas de gás natural descobertas entre 2010 e 2013 na Bacia do Rovuma, na costa norte de Moçambique, que são as maiores reservas de gás em África e as nonas maiores no mundo, avaliadas em 5.000 mil milhões de metros cúbicos, têm investimentos previstos no valor de 60 mil milhões de dólares - 4 vezes o PIB de Moçambique em 2019 - sobretudo por parte das petrolíferas francesa TotalEnergies. Esta exploração pode tornar Moçambique no quarto país exportador de gás natural liquefeito (GNL). O governo moçambicano envolvido em corrupção e dívidas ocultas, não esconde a pressa em retirar os dividendos do gás inesperado o mais rápido possível e as empresas não escondem a vontade urgente de retomar a exploração.A RFI viajou a convite da Presidência de Moçambique
7/13/20238 minutes, 41 seconds
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Cabo Delgado: "Pouco a pouco a qualidade de vida está a melhorar"

Nos últimos seis anos, estima-se que mais de 600.000 pessoas tenham fugido dos ataques do grupo terrorista islamita Shebbab, em Cabo Delgado. As populações regressam a Mocímboa da Praia e a Palma, onde "a estabilidade da região se mede através do regresso da população às zonas afectadas", afirmou o ministro da Defesa de Moçambique. Há cada vez mais pessoas a regressar a Cabo Delgado. Os habitantes voltam para cidades destruídas por uma guerra que se alastra desde 2017, no Norte de Moçambique. O ministro da defesa Cristóvão Chume garante que o governo criou condições de segurança para o regresso das populações; "Mocímboa da Praia é um local estável, com um nível elevado de retorno da população. O termómetro em relação à estabilidade e instabilidade da região mede-se através da quantidade de população que regressa às zonas afectadas" pelos insurgentes, disse o ministro à RFI.Depois de um longo período de paralisação, as estradas que conduzem a Cabo Delgado voltam a ter circulação de pessoas e de veículos. Milhares de deslocados regressam a casa, bem como os comerciantes e as empresas retomam as suas actividades.No Norte de Moçambique, os vestígios da guerra estão por todo o lado: paredes crivadas de balas, casas, lojas e veículos queimadas; os serviços administrativos, os postos de gasolina, as escolas e os bancos foram completamente destruídos. Perto de 80% da população já está de volta a Palma. "As populações vieram de várias partes desta e de outras províncias, onde se tinha refugiado. As pessoas querem continuar a realizar as suas actividades, a nível da agricultura e na recuperação das casas", descreve o administrador da cidade de Palma, João Buchili.O regresso das populações acontece depois da intervenção dos soldados ruandeses e da força da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), que tentam garantir a segurança na região. "A população aceita soldados, não só do Ruanda, mas as forças locais de Moçambique. Estas forças actuam juntas contra os terroristas. A população sabe que a vida deles está entregue aos militares neste distrito", acrescenta o administrador de Palma.Mocímboa da Praia foi tomada a 12 de agosto de 2020. A ocupação durou 11 meses e 27 dias, obrigando os habitantes a fugir pelos matos para sobreviver. Três anos depois, temem-se novos ataques. "As pessoas que morreram eram pessoas como nós. É dificil viver aqui e é preciso ter coragem porque deixamos de confiar. Eles vieram sem avisar" conta-nos Júlio Rafael, 27 anos."Não sabemos que guerra é esta, nem quem são os autores dos ataques. Vimos chegar pessoas com armas a matarem pessoas, a queimarem casas. Fugi para Nampula com a minha família. Em Nampula não vivia bem. Foi por iso que voltei. Recebia 1.000 meticais dos meus avós, que recebem a pensão de antigo combatente", acrescenta.De regresso a Mocímboa da Praia, Júlio Rafel diz sentir "segurança dos ruandeses e da força local. Vivemos bem o convívio com as forças. Pouco a pouco a qualidade de vida está melhorar" com o regresso do comércio de rua, a abertura de escolas. Júlio Rafael recorda, ainda, ter ouvido os terroristas dizer "'todos queremos ser muçulmanos', mas a maioria dos habitantes de Mocímboa da Praia são muçulanos e estas eram palavras em vão".Muitos fugiram em direcção à capital regional Pemba, outros partiram para Mueda. É o caso de Jordão Sabime, 25 anos, que percorreu 150 quilómetros até chegar a Mueda, onde se refugiou com a familia. "Fugimos todos. Andámos durante três dias no meio do mato. Fugi com os meus filhos e a minha esposa, que estava grávida, o bébé nasceu a caminho de Mueda. Vivemos durante um ano em Mueda", conta-nos.Jordão Sabime, queixa-se de ter perdido tudo; "não temos nada, queimaram tudo, não temos casa".Apesar do regresso de uma parte da população, centenas de milhares de pessoas continuam deslocadas no Norte de Moçambique. Durante a fuga, muitas pessoas sofreram ataques de homens armados. A violência sexual, os casamentos forçados e o recrutamento forçado de rapazes para esses grupos armados começam hoje a ser denunciados. As famílias separadas contam-se às centenas e tentam agora reconstruir-se na esperança de que esta página obscura do terrorismo no Norte de Moçambique seja definitivamente virada.RFI viajou a convite da Presidência de Moçambique
7/11/20239 minutes, 48 seconds
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Gisela Casimiro e as palavras acutilantes que constroem histórias

Gisela Casimiro é a escritora, poeta, curadora, artista, tradutora e activista portuguesa que nasceu na Guiné Bissau, e lançou recentemente em Portugal dois livros. "Giz", um livro de poesia, e "Estendais, um livro de crónicas. "Estendais" é um livro de crónicas, "Giz" é um livro de poesia, são os mais recentes trabalhos de Gisela Casimiro a serem editados em Portugal.As energias cósmicas do universo editorial reuniram-se para, com o lançamento de "Estendais" e "Giz" num espaço temporal coincidente, oferecerem-nos o momento para entrarmos no mundo da escritora, poeta, curadora, artista, tradutora e activista portuguesa que nasceu na Guiné-Bissau.E, quando abrimos a porta da leitura e entramos por "Estendais", ou por "Giz", para o caso pode-se dizer que será indiferente, o que é garantido é que a mão de Gisela Casimiro vai-nos levar. Depois, o pouco pode ser tudo.Link editora de "Estendais" : https://www.leya.com/pt/gca/novidades-editoriais/estendais-de-gisela-casimiro/Link editora de "Giz" : https://editoraurutau.com/titulo/gizOuça aqui a reportagem de Luís Guita, correspondente em Portugal.
7/2/202325 minutes, 24 seconds
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Moçambique: reconstrução de Palma e Mocímboa da Praia avança de forma gradual

A província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, tem sido palco de ataques armados desde 2017. A reconstrução de Palma e Mocímboa da Praia está a decorrer de forma gradual, à medida que as populações regressam às zonas ocupadas por terroristas. Na aldeia de Mute, a 50 quilómetros de Mocímboa da Praia, regressaram cerca de 70% da população. Silvestre Saudjandja encontrou a sua casa destruída.“Minha casa foi destruída, restam apenas as paredes, não encontrei nada. Desde que voltamos em março, a situação voltou ao normal.Uma normalidade onde falta tudo... comida, água, infra-estruturas sanitárias, e onde as populações continuam dependentes da ajuda humanitária, diz Jordão Matias Sabime."Estamos com fome. Não temos nada para comer ou fazer. Cheguei e as casas estavam todas incendiadas. Não temos nada para fazer, sobrevivemos”.A aldeia foi tomada pelas forças de Moçambique e do Ruanda, no entanto os ataques terroristas continuam a afundar-se, conta-nos Silvestre Saudjandja.“Hoje estamos seguros, conseguimos dormir. Não conhecia os terroristas, sei que o país está em guerra e que tem que correr se eu ouvir tiros porque é sinónimo de morte”.Um exemplo entre muitas das atrocidades perpetradas pelos insurgentes da província de Cabo Delgado, que deixaram para trás uma região devastada e milhares de pessoas.
7/1/20231 minute, 33 seconds
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Alice lança "Sonhava" e consolida fusão Portugal-Guiné Bissau

Alice acaba de lançar o mais recente trabalho do projecto AfroLusitana, tem o nome de "Sonhava".O tema confirma as qualidades de uma voz pura e forte que funciona como uma assinatura inigualável e consolida um trabalho de fusão entre Europa e África que Alice imprime no seu projecto AfroLusitana de forma inovadora. Afinal, a portuguesa Alice tem as raízes e a cultura da Guiné-Bissau presentes no dia-a-dia. Os muitos milhões de visualizações que alcançou no YouTube com trabalhos anteriores são a prova da aceitação de Alice pelo público. A perspectiva é que agora, com o tema Sonhava, e com Sombras, ambos lançados pela KaviMusic, a mulher que foi cantora principal na Orquestra Ligeira do Exército Português, valide na carreira a solo o que já foi constatado por grandes referências do panorama musical lusófono.A RFI falou com Alice antes da apresentação do tema "Sonhava". Uma entrevista onde Alice fala, por exemplo, da música como identidade, da fusão entre Portugal e Guiné-Bissau, da experiência como actriz e a presença no Festival de Cinema de Cannes.Vídeo "Sonhava": https://www.youtube.com/watch?v=G7WvJDBe9IQVídeo "Sombras": https://www.youtube.com/watch?v=t1yNQDY16NAAs redes socias de Alice:Instagram: https://www.instagram.com/itsalicemusic/TikTok: https://www.tiktok.com/@itsalice.music?_t=8bP50q3MX4V&_r=1Facebook: https://www.facebook.com/profile.php?id=100063621010924
6/17/202317 minutes, 27 seconds
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Augusto Fraga e a fórmula de sucesso de "Rabo de Peixe"

"Rabo de Peixe" é a série portuguesa que está no Top 10 da Netflix a nível mundial. A série de ficção, baseada em factos reais, foi criada por Augusto Fraga e no mercado internacional ganhou o título de "Turn of the Tide", enquanto no Brasil ficou com o nome de "Mar Branco". A série produzida pela Ukbar Filmes tem por base uma história real: em 2001 um barco carregado de pacotes de cocaína naufragou perto da ilha de São Miguel, nos Açores. O mar acabou por arrastar parte dessa droga, avaliada em milhões de euros, até à localidade de Rabo de Peixe.Na série, um grupo de amigos ficcional tenta vender a droga mas a polícia portuguesa e os mafiosos italianos, verdadeiros donos da droga, aparecem em cena.A RFI falou com o realizador Augusto Fraga. A conversa aconteceu precisamente na mesa onde foi escrita a série portuguesa de maior sucesso na Netflix. Os desafios durante as filmagens, a escolha do casting, as opções na forma como abordou o tema, a relação com os Açores e em particular com os micaelenses são algumas das questões abordadas na entrevista com Augusto Fraga. O realizador começa por nos falar da fórmula que está na origem do sucesso de Rabo de Peixe.Elenco: José Condessa (protagonista)Helena CaldeiraAndré LeitãoRodrigo TomásMaria João BastosAlbano JerónimoAfonso PimentelKelly BaileyPêpê RapazoteFrancesco AcquaroliAdriano CarvalhoMarcantonio Del CarloVeja aqui o trailer oficial: https://www.youtube.com/watch?v=4EWC1WTZews
6/11/202312 minutes, 2 seconds
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Cremilda Medina  apresenta em São Vicente novo disco “Nova Aurora”

Após em 2017 ter editado o seu primeiro disco “Folclore” que fez com que Cremilda Medina fosse reconhecida nacional e internacionalmente, a cantora cabo-verdiana de Morna e Coladeira regressa agora com mais um disco de estúdio intitulado “Nova aurora”. O lançamento oficial do álbum aconteceu em Maio passado. E, na noite deste sábado, na sua terra natal, na ilha de São Vicente, Cremilda Medina, vaii apresentar num concerto intimista o novo trabalho discográfico. Em conversa com a RFI, na cidade do Mindelo, Cremilda Medina explicou que com o álbum “Nova Aurora” continua a viagem que iniciou com o disco “Folclore” pelos ritmos da morna e da coladeira e  mais um disco a pensar na essência da tradição, continuando a busca e preservação pelo antigamente, em sonoridades que lhe trazem à recordação outros tempos e gentes de outrora Também Cremilda Medina, não deixou de fora intérpretes como Tito Paris.Em 2018, por altura em que a morna era ainda candidata a Património Cultural Imaterial da Humanidade, quando Cremilda convidou Tito Paris para gravar a célebre “Nôs Morna” como incentivo e apoio á candidatura que mais tarde, já em Dezembro de 2019 veio a ser ratificada pela Unesco. E  foi com “Nôs Morna” do Manuel de Novas, o compositor preferido da Cesária Évora, que Cremilda Medina conquistou em 2019 o “award” de “World Music” nos Estados Unidos da América, dando assim o pontapé de saída ao novo trabalho.No espectáculo deste sábado, às 21 horas de Cabo Verde, meia-noite em Paris,  Cremilda Medina vai estar acompanhada de músicos locais sob a direção do pianista Tchenta Neves e ainda da figura incontornável na música de Cabo Verde, o instrumentista, Bau Almeida. O concerto intimista de apresentação do disco “Nova Aurora”, acontece no Mansa Marina Hotel, antigo espaço cultural Pont D’Agua, no Centro da cidade do Mindelo.
6/9/202310 minutes, 44 seconds
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Mudança, progresso, prosperidade. O que esperam os guineenses nestas eleições

Em declarações à RFI, muitos guineeneses expressaram antes e depois de votarem nas sétimas eleições legislativas no país as suas esperanças, mostrando-se positivos quanto ao futuro e acreditando que o escrutínio vai decorrer de forma democrática. Para quem se apressou a ir votar esta manhã em Bissau, este dia de voto representa a esperança de uma vida melhor para o país. Para um dos eleitores, "a população vai colaborar" e "os políticos vão aceitar os resultados", sendo este o cenário mais defendido por quem esteve na mesa de voto 24 da capital esta manhã.Para o realizador Flora Gomes, que quis ser dos primeiros a votar, estas eleições legislativas vão servir para "refazer a casa do povo"."Estamos a refazer a casa do povo, a Guiné-Bissau precisa desta renovação na Assembleia, pessoas mais ousadas e mais sérias", declarou.Para este cineasta, que presenciou há quase 50 anos o momento da declaração da independência do país, é preciso agora dar lugar aos mais jovens e aos mais capacitados para liderarem o país."O nosso povo é um povo que mesmo sofrendo, passa o tempo a rir, esperando um amanhã melhor. 50 anos para um povo não é nada e eu que tive privilégio de filmar a proclamação do estado da Guiné-Bissau nas matas da Guiné, não é nada. Não havia nada como ponto de partida. Mesmo em termo de recursos humanos, hoje a Guiné tem quadros impressionantes e temos de lhes dar a possibilidade de mostrar do que que são capazes", concluiu.
6/4/20236 minutes, 28 seconds
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"Os avanços das negociações para o tratado sobre plásticos são limitados"

Até sexta-feira a sede da UNESCO em Paris é o palco da segunda sessão preparatória para o futuro tratado internacional sobre a poluição provocada pelo plástico. Cerca de 175 países estarão reunidos, incluindo Angola e Moçambique. O problema da poluição provocada pelo plástico constitui uma das maiores ameaças ao meio ambiente e para a saúde humana. Face ao avanço da produção de elementos poluidores em escala industrial, os países tentam agora encontrar uma porta de saída para esta questão.Em entrevista à RFI no local, Syanga Abilio, Embaixador de Angola no Quénia, chefiou a delegação do seu país na sede da UNESCO na capital francesa. O diplomata angolano começa por fazer um diagnóstico da situação do planeta terra à luz dos principais desafios colocados ao meio ambiente que passam pelas alterações climáticas, mas também pela dificuldade em gerir os fluxos de plástico. Por outro lado, Jerónimo Chivava, Alto-comissário de Moçambique no Quénia e e também chefe da delegação do seu país nesta ronda negocial, estima que os avanços negociais até ao momento foram limitados, devido às divergências entre os países.Ouça aqui a reportagem na íntegra.
6/1/202311 minutes, 48 seconds
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Maria de Medeiros presidu em Cannes júri do Prémio da cidadania

A portuguesa Maria de Medeiros, actriz, realizadora, cantora preside o júri do Prémio da cidadania do Festival de cinema de Cannes de 2023, tendo passado a pente fino as 21 longas metragens que estiveram em competição nesta edição de um dos mais pretigiosos certames da sétima arte do mundo. Maria de Medeiros, falando à reportagem da RFI, lembrou ser a terceira vez que integra um júri em Cannes, depois da "Caméra d'or" (para jovens artistas) e do júri da selecção oficial. O prémio da cidadania recompensa desde há 5 anos obras que se pautam por valores como o humanismo, a universalidade ou um espírito laico. Os membros vêem a integralidade dos filmes na competição da selecção oficial. No seu entender esta edição fez uma "espécie de fotografia" do estado do mundo, com temas de grande interesse, a seu ver, em exibição. A realizadora estreia em Portugal este verão "Aos nossos filhos", rodado no Brasil, e que tinha tido estreia mundial em França. Um filme que versa sobre diversas noções de filiação em várias gerações de brasileiros, incluindo um casal de mulheres que esperam um filho através de uma procriação medicamente assistida.
5/26/20236 minutes, 38 seconds
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Longa metragem portuguesa em cartaz em mostra do Festival de Cannes

A dupla de realizadores portugueses constituída por Filipa Reis e João Miller Guerra estreou em Cannes a sua segunda longa metragem. "Légua" foi exibida na mostra da Quinzena dos cineastas.  A primeira longa metragem "Djon África", em 2018, versava sobre uma viagem a partir de Portugal rumo a Cabo Verde de um descendente de cabo-verdianos, em busca das suas raízes, quando mal conhecera o pai. Estes realizadores que, antes disso rodaram um vasto rol de curtas metragens, muitas vezes com olhar sociológico, por exemplo junto de comunidades estrangeiras radicadas em Portugal, caso de "Li ké terra" de 2010, sobre dois filhos de cabo-verdianos indocumentados. Conheça aqui "Légua", o novo filme desta dupla de realizadores. Filipa Reis e João Miller Guerra estiveram à conversa com a reportagem da RFI.
5/25/20239 minutes, 39 seconds
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"As filhas do fogo" de Pedro Costa em exibição no Festival de Cannes

"As filhas do fogo", curta metragem do cineasta português Pedro Costa, teve estreia mundial na selecção oficial do Festival de cinema de Cannes. A RFI esteve à conversa com as actrizes e cantoras, bem como com os Músicos do Tejo, agrupamento de música antiga, que acompanhou o espectáculo na génese desta obra. Marcos Magalhães e Marta Araújo, do grupo Músicos do Tejo, formação de música barroca que acaba de completar 18 anos, encetaram colaborações há alguns anos com o cineasta português Pedro Costa. Estas traduziram-se, nomeadamente, num espectáculo multifacetado que, a partir da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, em Portugal, viajou até ao Porto e, mesmo, até Madrid, na vizinha Espanha. Alice Costa, Elizabeth Pinard e Karyna Gomes são as actrizes e cantoras da curta metragem de 9 minutos que acaba de estrear em Cannes, em sessões especiais da selecção oficial. A reportagem da RFI esteve à conversa com elas e com o agrupamento Músicos do Tejo, na pessoa dos cravistas Marcos Magalhães e Marta Araújo.
5/25/202315 minutes, 47 seconds
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Cruzamento de gerações do cinema português no Festival de Cannes

A actriz portuguesa Leonor Silveira veio a Cannes para a projecção de "Vale Abraão", um clássico de Manoel de Oliveira que completa 30 anos da sua estreia, ela que é o cartaz da Quinzena dos cineastas. Por seu lado Inês Teixeira tem em competição na Semana da crítica a sua primeira curta metragem "Corpos cintilantes". A reportagem da RFI falou com as duas figuras do cinema português: Leonor Silveira, a musa do cineasta portuense Manoel de Oliveira, entretanto desaparecido, e que continua a filmar em projectos para o cinema e ou Netflix. Inês Teixeira, por seu lado, assume-se honrada com a sua selecção para Cannes com "Corpos cintilantes", uma curta metragem versando sobre o desejo crescente numa relação a despontar.
5/22/202314 minutes, 19 seconds
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Cineastas do Norte de Portugal estrearam curtas metragens em Cannes

A "Factory" da Quinzena dos cineastas, mostra do Festival de cinema de Cannes, permitiu a estreia de três curtas metragens de realizadores do Norte de Portugal, em colaboração com colegas internacionais. André Guiomar com "Espinho" e Mário Macedo, com "Maria" fizeram parte deste grupo e levantaram-nos o véu sobre os filmes e a respectiva génese. Veja aqui a entrevista com Mário Macedo, realizador de "Maria". (Ao lado a de André Guiomar)          
5/20/202314 minutes, 47 seconds
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Curta metragem do Norte de Portugal com estreia em mostra de Cannes

"As gaivotas cortam o céu" de Mariana Bártolo, realizado com o espanhol Guillermo García López estreou em Cannes, no âmbito da "Factory". Trata-se de uma iniciativa da mostra Quinzena dos realizadores propondo a cineastas do Norte de Portugal uma colaboração para uma curta metragem com outro realizador internacional.  O filme aborda temas contemporâneos como a aposta no turismo em detrimento de sectores económicos tradicionais, como a pesca, no contexto de um amor entre duas mulheres. Uma obra rodada, nomeadamente, no porto de Matosinhos.
5/19/20234 minutes, 29 seconds
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Fundação Mo Ibrahim debateu modelos de governação em África

A Fundação Mo Ibrahim organizou no fim-de-semana em Nairobi um evento para discutir assuntos relacionados com África. Presentes estiveram dezenas de jovens africanos membros da Now Generation Network, uma rede de profissionais ativistas e interessados no desenvolvimento do continente.  Este ano houve uma representação maior de países lusófonos. Aleida Borges é uma académica cabo-verdiana que vive e trabalha no Reino Unido sobre temas ligados a África. A sua pesquisa foca-se sobretudo em associações comunitárias, juventude e a questão da liderança da mulher. Esta académica da universidade King’s College London elogia a Fundação por financiar bolas de mestrado e doutoramento todos os anos para formar quadros africanos. "Nós temos de ter pessoas capazes de participar nessas conversas, mas participar de uma perspetiva que é baseada em factos. A Fundação foca-se muito em pôr a juventude numa posição onde ela pode fazer isso”, explicou. Aleida Borges refere que a organização criada pelo empresário e filantropo anglo-sudanês Mo Ibrahim, quando realiza este encontro anual e outros eventos, desafia os jovens africanos ao perguntar “Qual é o teu papel, o que vais fazer, qual é que é o dinamismo do queres trazer ?”.  "Eu acho que o desafio é o que a juventude também precisa”, afirmou.  Um estudo publicado pela Fundação indica que 50% dos jovens africanos com idades entre os 18 e os 24 anos ponderam emigrar se os respectivos governos não tomarem medidas para melhorar a qualidade de vida. Em causa está o nível de educação e formação do continente muito abaixo da média mundial, e também a capacidade reduzida de investimento nestes setores, o que leva muitos jovens africanos a estudar e fazer carreira noutras geografias. "É uma questão de oportunidades”, sintetiza a investigadora cabo-verdiana, que lamenta que, nos países lusófonos, "sair para o estrangeiro, ir para Portugal e para o Brasil, ainda é uma realidade”. "Acho que o problema da liderança na lusofonia, mas também no resto do continente é pensar a juventude. Nós não estamos a pensar na juventude, e por isso, no final o que é que eles fazem? A única alternativa é ir-se embora”, afirmou. Outra participante do encontro foi Francisca Noronha, presidente da Associação Moçambicana de Jovens pela Igualdade de Género e Educação (AMJIGE) e embaixadora da Carta Africana da Juventude da União Africana. “Infelizmente, a Now Generation e muitos espaços, inclusive a própria União Africana, não tem muita representatividade de países dos PALOP, portanto os países africanos falantes de língua portuguesa."  Noronha considera ser importante participar porque "este é um espaço de advocacia de alto nível”, onde é possível encontrar pessoas que podem apoiar as organizações e fazer contactos, mas também "questionar diretamente e propor diretamente a estes organismos, inclusive a própria União Africana”. A nível interno, a activista moçambicana defendeu que "nos países falados PALOPs, particularmente em Moçambique, é preciso construir a solidariedade entre gerações para os jovens serem escutados e poderem participar nos processos de decisão." "Há uma geração de jovens que está a emergir, que está a exigir o seu espaço”, disse, mas "ainda há uma resistência em compreender que é necessário ceder o espaço”.  O Ibrahim Governance Weekend foi dedicado este ano ao tema "África Global: O lugar de África no mundo de 2023”, e participaram políticos e dirigentes de instituições públicas e organizações não governamentais. O próximo destes eventos terá lugar em 2024 noutro país africano ainda por confirmar. 
5/3/20238 minutes, 42 seconds
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Roça Monte Café: "O processo de produzir café é uma arte"

A roça Monte Café é uma das mais antigas de São Tomé e Príncipe. Monte Café guarda vestígios do tempo colonial e conta, hoje, com cerca de 3.000 habitantes, que subsistem através da agricultura tradicional. A firma Efraim, criada em 2002 na roça Monte Café, conta com quatro áreas de produção de café e cacau e desenvolve o café desde a plantação até ao produto final. "O café tem o seu ciclo de produção. A partir do momento em que o café está colhido, precisamos de uma semana até estar pronto para ser transformado. O processo do café e muito minucioso e é uma arte", descreve o gestor do projecto, Amedy Pereira. Monte Café divide-se em Monte Café sede, ou seja, onde ficava as infra estruturas de produção de café e as dependências, as terras produtivas destinadas ao cultivo do café e o cacau. Amedy Pereira descreve o processo de nacionalização das roças depois da independência de São Tomé e Príncipe, a 12 de Julho de 1975. "Depois da independência, o governo partilhou e distribuiu as parcelas de terra para os pequenos agricultores que já trabalhavam cá. Hoje, alguns agricultores sobrevivem da cultura do café e de hortícolas", descreve. "O café é depois vendido em Taiwan, Portugal e na Alemanha. 85% da produção do café é exportado e 15% é para consumo interno", aponta o fundador da firma Efraim. Paulino Umba, 87 anos, é reformado e vive roça monte café. Paulino Umba recorda os tempos em que trabalhou nas plantações de café. "Hoje produz-se pouco café, antigamente era mais. Demorávamos dois dias a carregar o café para o barco. A independência estragou tudo, na altura vivia-se melhor, havia carne. Agora estas crianças não sabem o que é carne", lamenta. Com um solo fértil, a prática de cultivos agrícolas tradicionais e a falta de recursos financeiros constitui o maior obstáculo para consolidação de uma agricultura organizada na região. A roça Monte Café foi, desde sempre, uma das zonas do arquipélago mais propícias à cultura de cacau e de dois tipos de café: arábica e robusta.  São Tomé e Príncipe submeteu pela primeira vez à Unesco uma lista indicativa para submeter uma candidatura a património mundial, que será escolhida entre parques naturais e roças; os parques naturais Obô de São Tomé e da ilha do Príncipe, as Roças Monte Café e Água Izé, em São Tomé, e a Roça Sundy, na ilha do Príncipe.
4/23/20239 minutes, 44 seconds
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Cabo Verde: Grupo Ferro Gaita festeja 25 anos

Os Ferro Gaita são uma das grandes instituições da música de Cabo Verde e há mais de 25 anos que espalham o Funaná pelo mundo. Foi em 1996 que nasceu o grupo que ganhou o estatuto de embaixador do género musical tradicional que era proibido no período em que Cabo Verde era uma colónia portuguesa. Em 1997, "Fundu Baxu", o primeiro disco do grupo, torna-se o disco mais vendido em Cabo Verde e na diáspora cabo-verdiana. A partir deste momento pode-se dizer que o Funaná de raiz foi resgatado pelos Ferro Gaita num momento em que o género estava adormecido e em vias de cair no esquecimento. A festa dos 25 anos de carreira dos Ferro Gaita foi adiada pela pandemia, 2023 é um ano em que os múltiplos concertos agendados vão permitir soprar as velas com o público e espalhar a energia contagiante dos Ferro Gaita por diferentes latitudes. Nos concertos em Portugal a formação dos Ferro Gaita foi constituída por Iduíno (gaita e voz), Bino Branco (ferro e voz), Lobo (bateria), Pitó (cawbel e voz), Manel (congas e voz), Carlitos (trombone de varas e coros) e Fanin (baixo), a substituir o baixista do grupo, Betinho, que se encontrava doente. A RFI falou com os Ferro Gaita antes de subirem ao palco do B.Leza para o concerto em Lisboa. Uma conversa que nos faz embarcar numa viagem pelo passado, presente e futuro dos Ferro Gaita, do Funaná e da música de Cabo Verde.
4/22/202310 minutes, 34 seconds
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São Tomé e Príncipe: escassez de pescado afecta pescadores

Se nada for feito o mais urgentemente, haverá nos próximos anos uma carência enorme de peixe no mar santomense. Para além da pesca ilegal com barcos de grande capacidade, as mudanças climáticas, estão a influir na escassez de pescado na zona económica exclusiva de São Tomé e Príncipe. Há uma acentuada escassez de peixe nas águas marítimas de São Tomé e Príncipe. Os factores são diversos, alguns dos quais, prendem-se com alterações climáticas, pesca irresponsável e ilegal como confirma Albertino Pires dos Santos, técnico da ONG MARAPA que se dedica à preservação do pescado e do mar. Albertino Santos: Nota-se alguma escassez de peixe. Estamos a falar de peixe de fundo, peixe residente, peixe demersal. Não dos peixes pelágicos, que esses vão e voltam. Os pescadores têm a noção da falta de peixe, facto que tem diminuído os seus rendimentos. Pescadores: Há falta de peixe. Antigamente era diferente. Para evitar a situação, pretende-se criar áreas marinha protegidas, segundo Albertino Santos. Albertino Santos: Estes pontos estão inseridos na futura área marinha protegida. Serão criadas zonas sustentáveis para racionalizar a pesca e proteger as espécies pesqueiras, como avança Albertino Santos. Albertino Santos: Na zona sustentável os pescadores continuarão a pescar com artes bem predefinidas. Recentemente a ONG MARAPA, com o apoio da cooperação alemã, lançou ao fundo do mar, uma câmara para a captura das imagens que possam identificar zonas de maior e menor potencialidade de existência de peixe. Ouça aqui a correspondência de Maximino Carlos, correspondente em São Tomé.
4/16/20231 minute, 36 seconds
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Cidade Velha: "Estamos a caminhar em cima da história"

As ruínas da igreja de Nossa Senhora da Conceição, construída na Ilha de Santiago, no século XV, estão a ser restauradas, no quadro do projecto de gestão do Património Mundial da UNESCO na Cidade Velha, como nos mostrou Francisco Lopes Moreira, guia turístico e auxiliar de arqueólogo e de conservação de monumento histórico, com quem fomos visitar a Cidade Velha, na ilha de Santiago em Cabo Verde. O convento e igreja de São Francisco foi construído por volta de 1640, numa parcela de terreno doado por Joana Coelho, proprietária rural, viúva do capitão Fabião de Andrade. O convento foi concebido para acolher os religiosos franciscanos, substituídos depois pelos jesuítas, em missão em Cabo Verde.  Este espaço funcionou, também, como centro de formação, onde os padres ensinavam vários ofícios à comunidade. "O Padre António Vieira apercebeu-se da falta de eclesiásticos", conta-nos o responsável do património na Cidade Velha.  O Forte Real de São Filipe foi construído em 1587. Foi a primeira e mais importante fortificação do arquipélago como sistema defensivo da cidade, composto por mais seis pequenos fortes espalhados em vários pontos estratégicos da cidade velha. Em 2009, a Cidade Velha foi elevada a Património Mundial da UNESCO. "A história da Cidade Velha não pertence apenas a Cabo Verde, mas ao mundo", conta Francisco Lopes Moreira.
4/10/20238 minutes, 32 seconds
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"Foi a partir da Cidade Velha que começou a relação com o novo mundo"

Classificada pela UNESCO como Património da Humanidade desde 2009, a Cidade Velha, na ilha de Santiago, em Cabo Verde, teve como primeiro nome Ribeira Grande. Foi na Cidade Velha que os portugueses fundaram o primeiro assentamento colonial na África subsaariana. "A Cidade Velha é o berço da nação cabo-verdiana, a primeira cidade construída na África subsaariana e um ponto importante no mundo desenvolvido de hoje", descreve Francisco Lopes Moreira, guia turístico e auxiliar de arqueólogo e de conservação de monumentos históricos.  Entre o Pelourinho e a igreja de Nossa Senhora do Rosário, existe a Rua da Banana, uma via pavimentada, a mais antiga de África, construída a 31 de Janeiro 1533. Construído no limiar do século XVI, entre 1512 ou 1520, enquanto símbolo do poder municipal e da justiça real. O pelourinho está localizado no centro da cidade, local onde se liam publicamente os actos da Câmara Municipal, se reprimiam as infracções e se  faziam trocas comerciais, nomeadamente escravos e produtos da terra. "Continua a haver um tabu em torno ao pelourinho, onde eram colocados escravos", lembra Francisco Lopes Moreira. "Apesar de não existir nada na Cidade da Velha, os portugueses tinham interesse em Cabo Verde como ponto de paragem para a navegação para o sul", acrescenta. No final do século XVI, "nem Lisboa, cidade do reino, tinha lucros como a Cidade Velha. Por volta de 1712, a Cidade Velha foi palco de ataques, destruindo a cidade. Nessa altura, a capital foi deslocada para a Cidade da Praia", explica o responsável do património na Cidade Velha. 
4/9/202312 minutes, 28 seconds
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Eiffel em Portugal: A Ponte Maria Pia no Porto e a Ponte Eiffel em Viana do Castelo

Nesta sexta-feira, aqui em França, assinala-se um novo aniversário da inauguração da Torre Eiffel no dia 31 de Março 1889, um aniversário que em 2023 coincide com os cem anos da morte de Gustave Eiffel, o autor deste monumento que se tornou o símbolo de Paris e um dos mais conhecidos a nível mundial. Ao longo deste ano, por ocasião das comemorações oficiais em torno da figura de Eiffel, a RFI propõe uma programação para dar a conhecer o legado deste engenheiro e empresário de talento que para além da sua célebre torre, também construiu uma série de outros edifícios e estruturas, tais como a estação ferroviária de Budapeste, na Hungria, o observatório de Nice, no sul de França, a estrutura da estátua da Liberdade em Nova Iorque ou ainda a Ponte Dona Maria Pia sobre o rio Douro, no Porto. Hoje, o nosso olhar foca-se precisamente sobre esta última infra-estrutura que foi determinante no percurso de Eiffel e também foi um marco importante na evolução da engenharia civil. Depois de um concurso público, a Companhia Real dos Caminhos de Ferro adjudicou em 1875 a construção dessa ponte à companhia Eiffel fundada pouco mais de dez anos antes. Construída no tempo record de dois anos, aquela que foi a primeira ponte de ferro do Porto foi inaugurada em 1877. Esta construção que surge na época da revolução industrial, da arquitectura metálica e do desenvolvimento dos caminhos-de-ferro, veio responder à necessidade de estender o caminho-de-ferro de Lisboa até à cidade do Porto, quando outrora parava na outra margem do Douro, em Vila Nova de Gaia. Para evocarmos o que esta ponte representou e falarmos também de outra infra-estrutura que veio a seguir, a Ponte Eiffel de Viana do Castelo, igualmente no norte de Portugal, conversamos com Domingos Tavares, arquitecto e professor na faculdade de arquitectura da Universidade do Porto, com Rui Faria Viana, director da biblioteca municipal de Viana do Castelo e autor do livro ‘A travessia do rio Lima em Viana do Castelo’ e conversamos também com o historiador José Lopes Cordeiro, co-autor do livro ‘Ponte Maria Pia’ publicado pela Editora da Ordem dos Engenheiros Região Norte. Foi com este último que, no Porto onde estivemos recentemente, começamos por relembrar o contexto em que surgiu a Ponte Maria Pia. "Portugal, costuma-se dizer que perdeu a revolução industrial. Embora ainda no final do século XVIII tivesse acompanhado o princípio desse processo de industrialização em termos europeus, depois por um conjunto de vicissitudes nomeadamente as invasões napoleónicas, depois o problema da guerra civil entre 1828 e 34 e, depois, as próprias desinteligências após 1834 entre os liberais, fizeram com que só a partir de meados do século XIX existissem as condições políticas para o país começar a pensar no desenvolvimento e em recuperar o atraso que até então tinha cavado com os restantes países europeus. Por isso, a nossa metalurgia estava atrasada, não tínhamos capacidade ainda para construir pontes. Por isso é que estas pontes ferroviárias, não apenas a Maria Pia, mas outras, foram encomendadas, através de concurso a empresas francesas, belgas, etc e foi isso que aconteceu com a Ponte Maria Pia", explica o historiador. Uma ponte sem os pés na água Ao abordar, por sua vez, o caderno de encargos para a construção da ponte, o arquitecto Domingos Tavares recorda que houve uma série de pré-requisitos sobre a localização e a altura da ponte, bem como a necessidade de não ter pilares assentes no leito do rio. "Há aqui um problema inicial que nós não podemos considerar da ‘autoria’ dos autores da ponte que é a definição do nível do sítio do alinhamento da ponte. O caminho-de-ferro chega numa cota baixa à aproximação a Vila Nova de Gaia e começa a subir a encosta porque sabe que tem de fazer a travessia do Douro numa cota alta. É a única hipótese, porque se o caminho-de-ferro chegasse e se construísse numa cota baixa como é que subia depois da para a zona da estação de Campanhã onde estavam depois as ligações para o Douro e para o Minho ? Estavam todas na cota alta. Também há outra condição : a ponte não pode pousar na água. Isto é uma regra básica neste sítio por causa das correntes, mas principalmente na hora do temporal em que vêm massas de água brutais pelo rio abaixo e, como se dá aqui um estrangulamento, a água passa em grande velocidade e qualquer suporte de ponte instalado no leito do rio seria rapidamente destruído pela velocidade das águas do rio. Portanto, isto é outra condição. A extensão do arco, a altura… o que é que é preciso resolver ? O problema técnico de construir o arco, construir o tabuleiro e montar a máquina. Isto é o pressuposto do concurso. Todos concorrem e, de facto, a questão do preço é um elemento-chave porque a empresa concebeu uma solução que, do ponto de vista construtivo, domina bem e que, do ponto de vista da estratégia de material, pode operar a custos mais baixos do que os concorrentes que provavelmente não se aproximaram do problema. Mas do meu ponto de vista, uma das coisas que mais influenciou na escolha deste projecto, que durante muito tempo foi um verdadeiro mistério, é a questão estética. E esse aspecto aparece referido na memória descritiva quando num determinado momento, na descrição que se faz da ponte na documentação para o concurso, há uma referência que se pretende que a ‘ponte pouse suavemente nas margens como se fosse um pássaro’. Isto é uma imagem que é muito bonita e que entusiasma os nossos engenheiros que acham que isto é realmente uma imagem fantástica. Portanto, é um conjunto de factores que por um lado valorizam a solução do ponto de vista económico mas também a valorizam do ponto de vista estético. E o Porto fica a ganhar também um pouco com isso", considera o professor universitário. Théophile Seyrig, o engenheiro que imaginou a ponte Por ser uma das suas primeiras obras importantes, Gustave Eiffel supervisionou pessoalmente a construção da ponte Maria Pia, apoiando-se no engenheiro Emile Nouguier bem como em Théophile Seyrig, sócio maioritário da empresa de Eiffel e engenheiro que concebeu o projecto dessa infra-estrutura. Pouco depois da inauguração da ponte Maria Pia, rompeu-se o contrato entre Gustave Eiffel e Theophile Seyrig que reclamava a paternidade da sua construção. Alguns anos mais tarde, em 1881, Seyrig chega à frente de Eiffel para a construção da ponte Dom Luís no Porto, muito parecida com a ponte Maria Pia. "Há um grande mistério sobre estas questões porque deriva do facto de o Seyrig, que eu considero um génio e é o homem da Ponte Maria Pia sem dúvida nenhuma, ser quem projecta o arco que é o elemento estrutural mais importante e revolucionário, como também a seguir vai ganhar o concurso da Ponte Luís I, batendo o Eiffel e outras grandes casas metalúrgicas que existiam na Europa. Mas no arquivo que está em Paris no Quai d’Orsay , há algumas referências de facto a algumas desinteligências que Seyrig teve com Eiffel" refere o historiador José Lopes Cordeiro para quem "provavelmente, não lhe foram reconhecidos os louros do grande sucesso que foi a construção da Ponte Maria Pia porque o Eiffel, para além de engenheiro, era essencialmente um grande empresário com um grande sentido do negócio e da oportunidade e também de divulgação das realizações da sua empresa. Por isso, o Seyrig, neste contexto, aparecia num segundo plano, o que provavelmente não era justo e também porque o Seyrig, que era o accionista principal, era uma figura enigmática. Conhece-se pouco do Seyrig e conhece-se pouco da obra do Seyrig. Por isso, muitas vezes e ainda hoje, durante muito tempo, a Ponte Maria Pia é atribuída a Eiffel quando, na realidade, ela é construída pela casa Eiffel mas é projectada pelo então sócio Théophile Seyrig. Durante muito tempo, em Portugal, tudo o que era estrutura metálica era atribuída ao Eiffel, havia as coisas mais inacreditáveis, porque de facto o Eiffel é até hoje um nome conhecido mundialmente, enquanto que o Seyrig não." Uma ponte que foi uma revolução Com o seu arco de 160 metros, a sua estrutura elegante e aparentemente leve, a ponte Maria Pia foi uma revolução na engenharia, nomeadamente com a utilização de novos materiais, mas não só, como refere Domingos Tavares. "Há um primeiro mecanismo que nós podemos interpretar como um avanço tecnológico em relação à Ponte Maria Pia e à Ponte Dom Luís que é a mudança da utilização do material em ferro para o material em aço. Isso significa que as indústrias ligadas à metalurgia no Porto estão capazes de responder à esta nova exigência porque, evidentemente, esta nova mudança é pensada pelos autores do projecto dentro da tal estratégia de como se trabalha o material. Um dos problemas grandes que a Ponte Maria Pia teve -e continua a ter- é o da conservação, por causa do problema das ligações. Ora, a ponte em aço é toda ela soldada e isto é um avanço tecnológico que resulta da experiência da ponte do caminho-de-ferro porque o caminho-de-ferro tem esta particularidade que é negativa para a construção destas pontes que é o ritmo da marcha do comboio por causa do motor da máquina que trabalha na base de um ritmo homogéneo. Isto provoca vibrações que são coincidentes e que se multiplicam. Por exemplo, depois da construção da outra ponte (Ponte Dom Luís), uma regra que foi fixada é que o pessoal do quartel que está junto à serra do Pilar (margem de Vila Nova de Gaia) instalado, quando sai do seu quartel e passa a ponte em direcção ao Porto, não pode passar em formação de marcha, porque a batida do pé de cada soldado numa extensão grande em simultâneo provoca um grau de vibração semelhante àquele que produzia a Ponte Maria Pia produzia quando passava o comboio. Por isso, a Ponte Maria Pia traz-nos um avanço muito interessante. Mostrou que era preciso construir de outra maneira", considera o arquitecto referindo, por outro lado, que a construção da ponte fez com que houvesse um desenvolvimento da metalurgia na cidade do Porto e abriu também o caminho para a construção pela empresa de Gustave Eiffel de uma série de outras pontes pela região norte de Portugal. Eiffel em Viana do Castelo Uma das principais pontes que Gustave Eiffel veio a construir logo a seguir à Ponte Maria Pia no Porto, foi aquela que ficou conhecida como a 'Ponte Eiffel' na cidade de Viana do Castelo, no extremo norte de Portugal. Com dois tabuleiros, o inferior para a circulação ferroviária e o superior para a passagem rodoviária, esta ponte inaugurada em 1878, foi também uma inovação. Com os seus mais de 700 metros de comprimento, foi considerada das maiores daquela época, o seu modo de construção tendo sido igualmente inédito até então, como refere Rui Faria Viana, director da biblioteca municipal de Viana do Castelo e autor do livro ‘a travessia do rio Lima em Viana do Castelo’. "A forma como esta ponte foi construída é designada de ponte empurrada. é uma tecnologia que começa a ser usada no final do século XIX e princípio do século XX sobretudo em pontes metálicas de traçado em plante recta. No fundo, é um método em que a construção é feita a partir de uma das margens e portanto a sua montagem realiza-se depois sobre uma plataforma que permite o facto de ser lançada para a margem seguinte. Esta é uma tecnologia que permite também que a obra seja muito mais segura, muito mais rápida e que o transporte dos materiais seja também muito mais rápido", explica o estudioso vincando que com o passar do tempo, esta ponte se tornou um 'ex-líbris' da cidade. Por "fazer parte da paisagem" de Viana do Castelo, mas também porque esta ponte continua a ser utilizada, o director da biblioteca Municipal de Viana do Castelo refere que "há de facto uma atenção e houve sempre uma atenção muito mais cuidada relativamente àquelas estruturas em que houve sempre necessidade da sua utilização como foi o caso de Viana do Castelo. Agora, é evidente que noutras regiões, foram substituídas e a sua utilização deixou de ser tão efectiva e, portanto, aí é natural que muitas delas acabassem por ser abandonadas ou até substituídas". A conservação desse legado Quase 145 anos depois de ter sido inaugurada, a Ponte Eiffel de Viana do Castelo continua em funcionamento. O mesmo não acontece com a Ponte Maria Pia que apesar de ter sido classificada monumento nacional em 1982 e apesar de neste momento ser candidata juntamente com outras pontes a património da Humanidade, tem um destino incerto depois de ter encerrado em 1991, conforme diz o historiador José Lopes Cordeiro. "Apesar de toda esta importância que é reconhecida nacional e internacionalmente, todo o mundo conhece a Ponte Maria Pia e quando digo ‘todo o mundo’ é mesmo ‘todo o mundo’ porque abre-se um livro publicado em qualquer parte sobre a arquitectura do ferro e o exemplo que lá vem é a Ponte Maria Pia, muitas vezes atribuída ao Eiffel, toda a gente reconhece a importância que prestou para o desenvolvimento da engenharia civil ao nível mundial… e apesar de tudo isso, a ponte é desactivada e fica abandonada até hoje. Não há e nunca houve um esforço de entendimento entre o proprietário que actualmente é a ‘Infra-estruturas de Portugal’ e as duas autarquias (Porto e Vila Nova de Gaia) para encontrar uma solução para preservar este monumento que tem uma importância enorme, toda a gente o reconhece, inclusivamente como atracção turística. é lamentável que a ponte esteja no estado em que está. Já houve vários projectos, inclusivamente, hoje em dia, a Ponte (Maria Pia), juntamente com a Ponte Dom Luís I, está englobada numa candidatura das seis pontes em arco metálicas do século XIX -só há seis pontes no mundo e o Porto tem duas- para serem classificadas pela Unesco como património da Humanidade. Neste momento não sei dizer em que estado está este projecto e era bom, de facto, que as duas pontes integrassem (esta candidatura) porque também digo uma coisa, se o Porto retirar essas pontes da candidatura, ela não vai avante, o que é um ónus muito forte para a cidade", receia o historiador. O avultado custo da sua manutenção e a falta de iniciativas para lhe dar uma nova vida colocam o futuro da ponte Maria Pia numa incógnita, segundo o arquitecto Domingos Tavares, para quem é impossível conceber a hipótese de o Porto prescindir de uma ponte, seja ela qual for, dada a necessidade constante de mais ligações com a outra margem do rio Douro. "Em relação ao Porto, o problema das pontes é um problema complicado, porque o Porto começou a sua história de pontes com uma tragédia. A primeira ponte que o Porto teve, não se sabe desde quando, mas de uma forma objectiva foi a ponte das Barcas, na zona da Ribeira. A ponte das Barcas foi construída em 1806 e em 1809, na segunda invasão francesa, houve um desastre em que a ponte afundou e morreram milhares de pessoas na ponte. Portanto, o que parecia ser o princípio da ligação norte-sul, Porto-Gaia, que era extraordinariamente importante por causa da organização da vida portuária, com armazéns de vinho de um lado, estaleiros de conservação e de manutenção de barcos do lado de Gaia, descarga e movimento comercial no Porto, a passagem de um lado para o outro era constante. As pessoas só podiam ir de barquinho porque não havia pontes. Portanto, o problema das pontes, é um problema de ligação poderosíssimo, importantíssimo no Porto enquanto relação com Gaia. Situação que hoje evoluiu de forma positiva. Hoje já são cinco, seis, sete pontes, já não sei quantas são. O Porto tem muitas pontes, mas vai continuar a ter. Precisa de mais pontes. Por isso, parece-me um pouco admitir que uma se pode deitar fora, seja ela qual for e particularmente a primeira e a mais importante de todas", conclui o estudioso. Mais imagens:Agradecimentos: Ao historiador José Lopes Cordeiro, co-autor do livro ‘Ponte Maria Pia’, a Rui Faria Viana, director da Biblioteca Municipal de Viana do Castelo e autor do livro ‘A travessia do rio Lima em Viana do Castelo', assim como ao arquitecto e professor universitário Domingos Tavares. Um agradecimento especial também ao fotógrafo Paulo Ricca pelo seu precioso apoio, bem como a Nelson Soares, do departamento de comunicação da Associação Comercial do Porto que nos abriu as portas do magnífico palácio da Bolsa daquela cidade.
3/31/202329 minutes, 7 seconds
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Ópera Africana encantou em Maputo

Promessa feita, promessa cumprida. A escritora moçambicana Paulina Chiziane, Prémio Camões 2021, apresentou em Maputo, um espectáculo de ópera retratando a história da escravatura em África. A peça é baseada na obra de poesia da sua autoria, “O Canto dos Escravizados”, escrita há seis anos.  Uma noite antecedida de promessas de quem escreveu e musicou o Msaho, a primeira ópera africana.  “Esta questão da ópera, eu tenho acompanhado em vários países, então tudo o que é africano não sabe o que é opera. Ópera tem que ser aquela coisa de cantar parece um passarinho no alto de uma árvore, ei, se para ti, opera é isso, para mim é outra coisa então é esta celebração de Africa que nós estamos a pretender trazer e várias outras questões”, afirmou a escritora..  Paulina Chiziane decidiu assim trazer para o palco a peça baseada na obra de poesia "O Canto dos Escravizados", escrita a seis anos e com objetivos bem claros, vincou a escritora que pretende quebrar mitos e um debate secular.  “Quebrar esse tabu de pensar que África não tem ópera. Quebrar esse tabu de dizer que os moçambicanos não conhecem ópera. Ópera é uma manifestação cultural, assim sendo, todos os povos têm ópera e nós vamos apresentar a nossa ópera”.  E nem mais som, luz e acção subiram ao palco no centro cultural universitário em Maputo, diversas manifestações culturais desde a dança, o teatro e a música.  No fundo um cruzamento de artistas de diferentes gerações numa encenação que visou reconstituir a história da escravatura em Moçambique de uma forma particular e em África no geral.  “A história que nos mostram nos livros é uma coisa. A história de África que nós vivemos e revivemos é outra coisa. Então, o que nós vamos apresentar está entre a história formal e a história cultural”, sublinhou a escritora.     De 68 anos de idade a escritora que foi a mais velha encenadora deste espectáculo, a mais nova com apenas 6 anos fizeram por vários momentos vibrar a plateia com passagens da sua actuação que se confundiu com a realidade dos tempos foi como Benjamin Macuácua viveu o espectáculo de quase duas horas.  “Foi um sentimento muito bom da minha parte mas ao mesmo tempo traz uma espécie de recordações que ao longo dos tempos, ao longos dos anos nós tentamos esquecer delas, são recordações de coisas más que aconteceram com os africanos e daquilo que não gostaríamos que acontecesse com nenhuma nação, com nenhum povo mas ao mesmo tempo tiramos daqui lições de algo que os africanos devem por si fazer para que a história que é contada nesta peça, não se repita”, frisou Benjamin Macuácua.  A ministra da cultura e turismo viveu e por várias vezes deixou se emocionar pela obra da qual não encontra para já a definição certa para o espetáculo a que Paulina Chiziane chama de ópera africana.  “Paulina Chiziane que nos tem habituado e que nos ensinou a conhecê-la como uma simples escritora, hoje trouxe-nos a sua versão de libertista de uma ópera, eu ainda estou um pouco indecisa se chamo ópera ou se chamo um musical tendo em contas as características de um espectáculo que acabamos de ver aqui”, realçou Eldevina Materula.  Contudo o trabalho de Paulina Chiziane e de todos envolvidos neste Msaho é de louvar diz Eldevina Materula.  “É um espectáculo didático e eu acredito e quero crer que Moçambique de norte a sul deve conhecer e não só Paulina já nos ensinou a ser uma das referências internacionais da cultura e por isso eu tenho a certeza absoluta que devemos conhecer e dar a conhecer esta obra que acabamos de ver, além fronteiras. Esta foi uma verdadeira viagem àquilo que é a nossa moçambicanidade, uma ode à moçambicanidade, mas ao africanismo. Eu queria ir um pouco mais longe”, sublinhou Eldevina Material.    Entre os aplausos a obra, também houve espaço para uma homenagem a Azagaia, músico de intervenção social cuja voz calou-se por causas ainda por esclarecer.      No final da primeira ópera africana como prefere chamar Paulina Chiziane, o misto de sentimentos tomou conta da escritora… a primeira romancista moçambicana e primeira escritora negra a vencer o prémio Camões.  “Feliz estou, as minhas expectativas ainda continuam, mas é preciso ver que foi um trabalho feito assim, aquilo foi a alma de cada um que fez o espectáculo acontecer porque ainda não conseguimos um patrocínio para muitas coisas. É mesmo só ver os adereços dos próprios actores, cada um trouxe o que pode e fomos à aventura, o resultado foi bom e então, partir desta exposição quem sabe, se calhar, as pessoas irão olhar mais para este projeto e tentar financiar com alguma coisa”, concluiu Paulina Chiziane.   Agora e com fundos disponíveis, levar este espectáculo considerado um momento de descolonização cultural e de linguagens através de uma forma única de canto e danças africanas é o objectivo de Paulina Chiziane.  
3/11/20239 minutes, 18 seconds
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Mais de 40 artistas moçambicanos apresentam exposição Moçambi-Cá em Lisboa

Moçambi-Cá é a exposição colectiva que reúne trabalhos de mais de 40 artistas plásticos moçambicanos de diferentes gerações e que pode ser vista no espaço de exposições da UCCLA (União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa) em Lisboa. Apresentando obras criadas desde os anos 1960 até à actualidade, Moçambi-Cá sugere um diálogo aberto entre as narrativas de cada artista, convida a um fruir do sentimento expresso no manifestar artístico singular de cada autor e partilha a riqueza imensa do confluir de diferentes contributos artísticos com origem dentro e fora de Moçambique. Reunindo diferentes áreas de expressão plástica, Moçambi-cá representa a possibilidade de contemplarmos e deixarmo-nos fascinar com a abundância e heterogeneidade do trabalho desenvolvido por artista plásticos moçambicanos. A RFI visitou a exposição, falou com Ntaluma, escultor Maconde e um dos curadores da mostra, e com Rui Lourido, Coordenador Cultural da União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa e coordenador geral da mostra patente até ao dia 15 de maio.
2/25/20239 minutes, 59 seconds
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Economia cabo-verdiana ressente-se dos efeitos da guerra na Ucrânia

A Guerra na Ucrânia, que começou a 24 de fevereiro de 2022, também tem forte impacto na economia de Cabo Verde, o pequeno arquipélago de meio milhão de habitantes e um país de rendimento médio. Em declarações à RFI, o Primeiro-Ministro, Ulisses Correia e Silva disse que os efeitos da guerra da Ucrânia na economia cabo-verdiana são idênticos aos que se verificam em várias partes do mundo Por sua vez, o presidente da Câmara de Comércio de Barlavento, Jorge Maurício, afirma que sendo a Europa a área de comércio internacional de Cabo Verde, a guerra num país do velho continente impacta forte na economia cabo-verdiana Para mitigar os efeitos da guerra na Ucrânia, na vida das famílias e das empresas cabo-verdianas, o governo tem adotado medidas para estabilização de preços dos produtos alimentares, do setor de eletricidade e combustíveis. O primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva garante que se nenhuma medida fosse tomada para fazer face aos efeitos da guerra na Ucrânia, a inflação em Cabo Verde poderia atingir os 12% O custo total para implementação das medidas de mitigação dos efeitos das crises alimentar e energética em Cabo Verde, provocadas pela guerra na Ucrânia é de mais de 80 milhões de euros, de acordo com dados do Ministério das Finanças
2/22/20238 minutes, 50 seconds
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Carnaval de São Vicente, o maior espectáculo de Cabo Verde

O carnaval na ilha cabo-verdiana de São Vicente iniciou-se em Janeiro, com os desfiles dos  grupos de Mandingas, que a cada domingo anunciam a chegada do Carnaval, arrastando milhares de pessoas numa moldura humana de folia coberta de negro e ritmados por danças. Esta semana, desde quarta-feira, os grupos de animação dos jardins de infância, escolas do ensino básico e dezenas de grupos de diferentes bairros da ilha de São Vicente têm animado as principais ruas da cidade do Mindelo, no regresso do Carnaval, dois anos depois de São Vicente ficar sem a festa do Rei Momo, devido a pandemia da Covid-19. Neste fim de semana e até segunda-feira à tarde, os desfiles continuam com os grupos de animação, das escolas secundárias e das universidades, para segunda-feira à noite arrancar os desfiles oficiais, numa organização da Câmara Municipal de São Vicente e da Liga Independente dos Grupos Oficiais do Carnaval constituída pelos seis grupos do carnaval de São Vicente. Este ano desfilam 5 dos seis grupos oficiais, um fica de fora (Vindos do Oriente) devido ao falecimento no ano passado do seu presidente. Quatro grupos entram para a competição na terça-feira: Flores do Mindelo, Estrela do Mar, Cruzeiros do Norte e Monte Sossego. Antes, na segunda-feira à noite, a Escola de Samba Tropical desfila no centro histórico de Mindelo. O presidente da Liga Independente dos Grupos Oficiais do Carnaval de São Vicente, Ligoc-SV, Marco Bento disse à RFI, que este ano, a liga apresenta o Carnaval de São Vicente como o maior espectáculo de Cabo Verde que inclui os desfiles oficiais, mas também há espaço para na terça-feira à tarde ter lugar o carnaval espontâneo e artesanal, que vem sendo estimulado com atribuição de prémios pelo Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas. O presidente da Ligoc-SV, Marco Bento explica que o carnaval espontâneo surgiu há mais de um século. Na terça-feira à noite, que será a noite maior do Carnaval de São Vicente, poderão estar nos desfiles mais de seis mil foliões. Os grupos vão apresentar três carros alegóricos cada um e os enredos vão desde proteção ambiental com foco nos oceanos, passando pela crítica social e política e ainda saúde, dinheiro e amor. A activista social e professora universitária, Maria Miguel Estrela que já foi vereadora de cultura da Câmara Municipal de São Vicente e é uma das responsáveis pela elaboração do Plano Estratégico do Carnaval de São Vicente e São Nicolau, realizado em 2014, disse à RFI, que o Carnaval de São Vicente é autêntico e singular Para o Presidente do Conselho de Administração da Agência de Promoção de Investimento e Exportação do país – a  Cabo Verde TradeInvest,   o Carnaval de São Vicente é um excelente produto turístico que tem beleza, arte, brilho e acontece numa cidade segura onde todos podem participar tanto nos desfiles que acontecem na rua como nos diversos bailes e José Almada Dias, explica que na ilha de São Vicente o carnaval é feito pelo sector privado com o apoio do governo e da  autarquia local O Carnaval de São Vicente, que está nas ruas da cidade do Mindelo desde o dia 08 de Janeiro, termina no domingo, 05 de Março, com o célebre enterro dos grupos de Mandingas, na praia da avenida marginal na Baía do Porto Grande. Uma manifestação espontânea e popular que neste ano de retoma do Carnaval tem tido mais adeptos.
2/18/202310 minutes, 30 seconds
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Cidade de Quelimane já foi conhecida como "pequeno Brasil"

Até este domingo, a cidade de Quelimane, capital provincial da Zambézia festeja o carnaval. Uma festividade que ganhou visibilidade com o tempo por se aproximar do carnaval do Brasil  com o carro alegóricos, músicas, desfiles, máscaras.  "Só o facto de, na altura, as pessoas chamarem esta cidade de pequeno Brasil já quer dizer quase tudo", explicou-nos Dany Sacoor, que nasceu em Quelimane, há 68 anos. No Brasil, "logo que termina um carnaval já estão a preparar o do ano seguinte", completa. Há sessenta anos, o carnaval de Quelimane "era muito intenso", com músicas tradicionais, as marchas. No período colonial, a festa só acontecia nos salões dos clubes e só alguns moçambicanos tinha acesso aos festejos. Só a partir da década de 90 é que o Carnaval foi transportado para as ruas e se tornou numa festa popular, como nos descreve Elsa Brita, funcionária da Câmara municipal de Quelimane. "O carnaval de antigamente decorria em sítio fechado, as pessoas faziam parte de grupos foliões e dançavam samba de verdade. No tempo colonial, nem todos participavam, a camada baixa, que festejavam o carnaval nos bairros. Os grupos foliões eram empresas que participavam no carnaval", acrescenta. O Carnaval de Quelimane era uma atracção nacional e até chegou a ser considerado o terceiro maior carnaval do mundo, depois do Brasil e de Nice, aponta o empresário Roque Abdulai. "A cidade de Quelimane era uma atracção nacional e teve renome internacional. Tínhamos carnavais de rua, de clubes e vinham pessoas de todo o lado", recorda.  "Na altura os adolescentes andavam atras das caravanas, juntavam-se em grupos em frente a lojas e os donos das lojas atiravam rebuçados era uma alegria. Quando era altura do carnaval, o samba e a marcha eram as músicas mais tocadas. Depois da independência de Moçambique, o carnaval transformou-se num carnaval mais popular", explica. Este ano participam 25 grupos de foliões de diferentes bairros que desde sexta –feira passada partilham o palco de samba na cidade de Quelimane, no maior evento cultural da capital da Província da Zambézia.
2/17/20239 minutes, 29 seconds
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Ministro português defende que "relação com Angola é única e insubstituível"

O ministro português dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, considerou em entrevista à RFI que não há qualquer concorrência entre Espanha, que diz querer aprofundar a relação com Angola, e Portugal, defendendo que no continente africano, Portugal é visto como uma ponte com a Europa. Em Addis Abeba para participar nas reuniões de preparação da Cimeira dos líderes da União Africana que decorre este Sábado e Domingo, o ministro português dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, defendeu que Portugal é um país que faz a ponte entre a Europa e África. "Portugal é sempre um país que fez de ponte entre a Europa e África e é importante fazer um ponto de situação, olhar para as áreas de instabilidade que há em diversas partes do continente africano e ver como melhor trabalhar o relacionamento bi-regional", declarou. Também António Costa, primeiro-ministro português, vai estar nesta Cimeira, participando no fim de semana no encontro de líderes da União Africana. Este reforço da presença portugues acontece no mesmo momento em que o o ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol, José Manuel Albares Bueno, participou na abertura deste encontro entre ministros africanos na Etiópia. Poucos meses antes de assumir a presidência rotativa da União Europeia, as autoridades espanholas, nomeadamente o rei Felipe VI, afirmaram querer uma maior proximidade África, especialmente com Angola, algo que Portugal vê com bons olhos. "A nossa relação com Angola é única e insubstituível e o mesmo com outros países de expressão portuguesa. Acho que é muito positivo para Angola que haja também o interesse de outros países quer seja Espanha, quer seja França, quer seja Alemanha. Olhamos com muitos bons olhos e acreditamos que o investimento desses países é bom para Angola e para a economia angolana e o que é bom para a economica angolana é bom para nós", declarou João Gomes Cravinho. Quanto aos conflitos em África, onde Portugal participa com militares nalgumas missões da União Europeia e da ONU, o ministro português manteve encontros de alto nível, mostrando-se especialmente preocupado com a situação na República Centro-Africana. "Acabei de ter uma reunião bastante extensa com a ministra dos Negócios Estrangeiros da República Centro-Africana, que é um país onde temos investido bastante e, aliás, o nosso primeiro-ministro esteve lá há um par de semanas. A República Centro-Africana vive um momento de cisão, como se sabe o grande problema neste momento é a presença de tropas mercenárias russas, da Wagner, mas acho que há possibilidade de trabalharmos com a República Centro-Africana de outra maneira", indicou. Também a situação no Sahel inquieta o ministro português, tendo-se reunido com os representantes tanto do Mali como do Burkina Faso, mesmo se entre as sanções impostas pela União Africana a estes regimes dirigidos por juntas militares é a exclusão temporária das Cimeiras da União Africana. "Estamos também muito preocupados com países do Sahel, o Mali e o Burkina Faso, que estão excluídos da Cimeira, mas o ministros estão cá. É uma oportunidade de ir falando sobre quais são as modalidades que permitem melhor responder ao flagelo do terrorismo e, por outro lado, promover o desenvolvimento democrático naqueles países", concluiu.
2/17/20238 minutes, 25 seconds
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São Tomé e Príncipe: "É preciso preservar a roça Agostinho Neto"

São Tomé e Príncipe foi o maior produtor de cacau do mundo em 1913. Passados mais de cem anos, o cacau continua a ser o principal motor da economia são-tomenses. A produção de cacau era e continua a ser feita nas roças. Vamos conhecer a história de uma das maiores roças do arquipélago: a roça Agostinho Neto, antiga roça de Rio D’Ouro.  A roça Agostinho Neto, antiga roça de Rio D’Ouro, é uma das maiores de São Tomé e Príncipe, conta com mais de 5.000 hectares de terras e a maior em termos de arquitectura. Fundada em 1865, a roça encontra-se hoje ao abandono, com edifícios degradados e passou a ser uma atracção turística, como nos conta Willy Mendes, guia turístico. Vamos com ele descobrir a antiga Roça de Rio D’Ouro. As ligações históricas a Angola e Cabo Verde remontam ao tempo dos contratados, quando, na primeira metade do século XX, muitas pessoas foram trazidas das antigas colónias portuguesas para trabalhar nas plantações de cacau das roças de S.Tomé, cuja produção chegou a atingir as 12 mil toneladas. Hoje, os antigos contratados e descendentes, maioritariamente cabo-verdianos, que representam cerca de 8,5 % da população, assim como os angolares 6,6 %, continuam a ser os mais desfavorecidos.  Maria Candanga é uma dos 1.300 habitantes, nasceu e vive na Roça Agostinho Neto, tem 50 anos, e recorda a roça da sua infância. "Quando era pequena a roça estava em melhores condições do que agora. Antigamente, tínhamos comida à vontade, tudo era mais barato e estava tudo na ordem. Tínhamos um grande hospital, tínhamos transportes e agora precisamos de ir até ao distrito de Lobata [para ir ao hospital] e nem sempre temos transportes", conta. O hospital da roça Agostinho Neto foi construído nos anos 1920, fechou em 1993 para ser deslocado para São Tomé. Desde então o edifício histórico "foi vandalizado", como nos explica Will Mendes. "Muitas coisas foram levadas para o hospital de São Tomé, mas houve outras que foram levadas pela população local, como as camas", explica. A Roça Agostinho Neto foi fundada em 1865 por Gabriel Constantino Bustamante, mais tarde adquirida e explorada por José Luís Constantino Dias Marques Valle Flor, antigamente conhecida como roça Rio do Ouro por causa do rio e do cacau. João Madalena, tem 72 anos, também nasceu na roça Rio D’Ouro. O morador queixa-se da degradação da roça. "Era uma beleza e este hopital... Depois dos colonos irem embora isto ficou assim, abandonado", descreve. Hamilton é estudantes, está no décimo segundo ano de escolaridade, tem 18 anos. Vai tentar ter uma bolsa de estudo para tirar um curso superior em engenharia em Portugal. "Se ficar aqui talvez procure fazer uma formação em matemática. Aqui há muito desemprego, há jovens que trabalham no campo, há jovens que ficam em casa sem fazer nada", conta. Em 1913, a produção de cacau atingiu 35.500 toneladas, a maior produção de sempre. As plantações ocuparam três quartos da superfície do arquipélago. Poucos anos antes da primeira Guerra Mundial, São Tomé e Príncipe tornou-se o maior produtor mundial de cacau.  A partir de 1918, a produção começou a descer devido à infestação dos cacaueiros por pragas, à erosão de solos e à concorrência crescente dos pequenos produtores no continente africano. Em 1975, a área cultivada pelo cacau era apenas um quarto da área total do país. A produção de cacau que continua a ser o principal motor da economia de São Tomé e Príncipe.
2/3/202319 minutes, 14 seconds
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São Tomé e Príncipe prepara-se para receber cimeira da CPLP

O governo são-tomense está multiplicar contactos para acolher a próxima cimeira da CPLP, em Julho de 2023. Todos os meios vão ser disponibilizados para receber este evento, que vai reunir nove países onde a língua portuguesa é o idioma oficial. Como um país insular afectado pelo fenómeno de mudanças climáticas, propício para desenvolver economias verde e  azul, situado no Golfo da Guiné uma das regiões ricas e conflituosas de África Central, as autoridades são-tomenses pensam colocar na agenda de debates estas e outras questões. A próxima cimeira vai decorrer num contexto de crise global com um conflito no leste europeu, com a guerra na Ucrânia e crises económico-financeiras, com fortes repercussões nos países que integram a organização. "As crises não podem ser culpas para nada porque sempre existiram, se não forem financeiras, são políticas. O mundo não pode parar, mas devemos ser capazes de transpor as crises através da diplomacia", acredita o diplomata Francisco Costa Alegre. O diplomata lembra que estes eventos são importante para o país para "enriquecer, mas também o desafiar as autoridades civis e estatais". Em 2004, São Tomé e Príncipe acolheu, pela primeira vez, a quinta cimeira da CPLP. Passados 19 anos o país volta a receber este encontro. "A cimeira nasceu em 1996 e em 2004 realizou-se a quinta cimeira em São Tomé", recorda.  
1/29/202311 minutes, 19 seconds
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Eneida Marta lança Family e reafirma o "sonho de ver uma Guiné Bissau próspera."

"Famíliy" é o mais recente disco de Eneida Marta. O trabalho da artrista guineense é um exemplo de simbiose perfeita entre os sons tradicionais da Guiné Bissau e os novos horizontes musicais de Eneida Marta que nos podem levar a ritmos mais urbanos como "drill", "trap" ou "afrobeat". A Guiné-Bissau e, em particular, a situação dificil em que vivem muitas mulheres e crianças continuam a ser motivo de grande preocupação para a artista que já foi embaixadora da UNICEF na Guiné-Bissau. Esta inquietação reflecte-se em temas como "Allan Guiné", "Kuma" ou "Fidalgo" (um original de Dulce Neves). Mas no universo da artista guineense também há lugar para o amor, um dos exemplos é o marcante "Bin Sinam". "Family", o disco em que Eneida Marta se desafiou a sair da "zona de conforto", foi gravado entre Lisboa e Londres, com o filho, Rúben Azziz, e o irmão, Gerson Marta, como produtores. Uma família que forma uma equipa vencedora, dado que o reconhecimento internacional já colocou "Family" nos lugares cimeiros em tabelas como a World Music Charts Europe (www.wmce.de) ou a Transglobal World Music Chart (www.transglobalwmc.com).
1/26/202310 minutes
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Quintal das Artes: De esquadra da polícia a ateliers para artesãos

A ex-esquadra da Polícia de Ordem Pública, na rua da República conhecida também como rua da Praia, no centro histórico da cidade do Mindelo, na ilha de São Vicente,  foi transformada num espaço aberto para visitas, ensaios de Carnaval, eventos culturais, oficinas de Artesanato, Escola de Batucada e Cursos de teatro, etc. Actualmente, o Quintal das Artes, que no período colonial foi também espaço de treino da organização juvenil Sokols, fundado em 1932, surgiu graças a um grupo de artistas que limparam o edifício abandonado e é ocupado, na maior parte, por artesãos de São Vicente que transformaram as antigas celas em ateliers.  O artesão e guia de turismo, César Lizardo “Tchê” foi um dos primeiros a ocupar o espaço.  As artesãs Ana Silveira, Jandira Lima e Neusa Gomes afirmam que para além de terem os seus ateliers num espaço gratuito, um outro aspecto positivo é o facto do Quintal das Artes localizar-se no centro da cidade do Mindelo.  Mário Gomes, ou simplesmente “Maiuca”, é artesão, serralheiro e percussionista que, juntamente, com mais três irmãos fundaram a batucada Mindel Samba que, todos os sábados e domingos à tarde, ministram aulas de percussão no pátio do Quintal das Artes para dezenas de pessoas. No espaço tem também dois ateliers: um para confecção dos instrumentos musicais para os grupos do carnaval e outro para produção de utensílios decorativos a partir da lata ou de chapa de bidões.
1/8/202310 minutes, 38 seconds
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Portugueses e franceses choraram Linda de Suza, símbolo dos anos 80

A emoção esteve ao rubro em Gisors, na Normandia, no último adeus a Linda de Suza, com milhares de pessoas a acorrerem ao local e a contarem as suas experiências com Linda de Suza. França e Portugal despediram-se na sexta-feira da popular cantora dos anos 80, Linda de Suza. As cerimónias fúnebres aconteceram em Gisors, uma cidade na Normandia, perto de onde Linda de Suza escolheu viver uma parte da sua vida, e até este ponto no Norte da França vieram centenas de pessoas prestar uma última homenagem à estrela franco-portuguesa. Graça obedeceu ao pedido da família cantora e trouxe cravos vermelhos para o último adeus a Linda de Suza, com muita emoção. "Deu-nos muita alegria com as músicas dela, foi uma grande senhora e estava sempre na televisão, na rádio, comprei os discos e as cassetes", declarou Graça. Chegada a França em 1969, Teolinda Joaquina De Sousa Lança servia à mesa num restaurante na região parisiense quando foi descoberta no final dos anos 70, ascendendo ao estrelato em terras gaulesas, vendendo 40 milhões de discos e três milhões de livros. Uma ascensão que Lurdes, em França há 45 anos, não esquece. "Conheci o sucesso dela, ela estava todos os dias na televisão. E estão aqui muitos franceses, tal como portugueses", contou Lurdes. Para mais de um milhão de portugueses que já viviam em França na década de 80, Linda de Suza tornou-se assim o exemplo ou um modelo de sucesso possível num país estrangeiro, como lembrou Tiago, que já não é da geração que cresceu com Linda de Suza, mas acompanhou o pai ao funeral deste ícone da música. "Linda de Suza era um modelo, ela mostrou que era possível fazer grandes coisas aqui em França, apesar de ser imigrante, e foi um exemplo para muita gente da geração dos meus pais", disse Tiago. Mais do que um símbolo para os portugueses em França, Linda de Suza foi um elo entre a cultura francesa e portuguesa, como lembrou o secretário de Estado das Comunidades portuguesas, Paulo Cafofo, que se deslocou à última homenagem à cantora na Normandia. "A Linda de Suza foi uma mulher maior da diáspora portuguesa, acabou por ser uma representante da nossa comunidade. Veio como uma mala de cartão, com a qual ficou conhecida, mas mais do que a mala de cartão, veio com a sua voz, a nossa cultura e o sonho de uma geração num contexto muito difícil ainda do Estado Novo. Ela foi uma inspiração, principalmente para as mulheres portuguesas em França e representa a união entre Portugal e a França", afirmou o governante português. Chorada por centenas de franceses e portugueses, o adeus à cantora, chamada pelo Presidente Emmanuel Macron como rainha dos anos 80 em França, foi recheado do que Linda de Suza mais apreciava: os aplausos, a música e muita emoção.
1/7/20237 minutes, 22 seconds
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Último Adeus ao Rei Pelé

Após 24h de velório, nesta terça-feira decorre o funeral de Edson Arantes do Nascimento, conhecido como Pelé. Será o último adeus ao 'Rei' do futebol que acabou por falecer após um mês internado no hospital Albert Einstein, em São Paulo, aos 82 anos. Annie Gasnier, enviada especial da RFI à Cidade de Santos, esteve presente no Estádio Vila Belmiro durante o velório que decorreu dentro do recinto. A apresentadora da emissão ‘Radio Foot Internationale’ contou-nos como tem vivido o país nestes dias de luto e como decorreu o velório. Annie Gasnier, enviada especial da RFI à Cidade de Santos, recolheu também testemunhos de pessoas que estiveram na fila para prestar uma última homenagem ao 'Rei' Pelé, entre eles adeptos do Santos. Mas não só adeptos do Santos prestaram homenagem, alguns até vieram de longe. Pelé era um ídolo para os brasileiros, trazendo muito mais do que três mundiais para esta fã. Recorde-se que durante a sua carreira futebolística, com o Santos, Pelé arrecadou 5 campeonatos do Brasil, 11 campeonatos paulistas, duas Libertadores, cinco Taças do Brasil e duas Taças Intercontinental. Com a Selecção Brasileira, o antigo futebolista arrecadou três Campeonatos do Mundo em 1958, em 1962 e em 1970. Pelé encerrou a sua carreira com 37 anos nos norte-americanos do Cosmos de Nova Iorque, onde jogou de 1975 a 1977. Pelé, o ‘Rei’ do futebol brasileiro, único jogador a ter arrecadado três Mundiais, era um goleador insaciável, tendo marcado 1 281 golos em 1 363 partidas, o homem dos ‘mil golos’ como também era conhecido. O ‘Rei’ Pelé vai ser enterrado no Memorial Necrópolis Ecuménica em Santos, não muito longe do Estádio Vila Belmiro onde ele jogou durante quase toda a carreira.
1/3/202316 minutes, 24 seconds
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África: expectativas e desejos dos cidadãos para o ano de 2023

Estamos a poucas horas de entrar em 2023. Este ano, 2022, ficou marcado por muitas crises, muitas mudanças, umas positivas, outras nem tanto. Neste último dia do ano, é tempo de deixar as recordações dos maus momentos para trás, na esperança de um 2023 próspero e feliz. A RFI saiu às ruas de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe para descobrir junto dos cidadãos quais são as expectativas para o novo ano. Em Angola, ouvimos vários cidadãos que nos falaram sobre os os seus objetivos pessoais para 2023. A reportagem é de Francisco Paulo. Angolanos sonham com melhores condições de vida Com o ano a chegar ao fim, vários cidadãos na capital angolana perspectivam novos objectivos para o ano novo e outros pensam em recuperar projectos que não conseguiram concluir em 2022. Gerónimo Manuel, 38 anos, técnico de informática, espera conseguir, em 2023, uma casa e um emprego para poder contornar as dificuldades vividas pela família. “Espero que o próximo ano seja um ano de mais perspectivas e que os meus sonhos sejam realizados”, perspectivou o jovem. A construção da casa própria e sair da renda. Já tenho um espaço o que me falta mesmo é construir”, disse, em entrevista. Se Gerónimo Manuel quer um emprego para sustentar os parentes, a licenciada em fisioterapia, Sílvia Maria, pretende apenas trabalhar na sua área de formação e constituir uma empresa. “Em 2023, a primeira coisa é trabalhar na minha área e também conseguir um espaço para atender os meus pacientes, porque o fisioterapeuta bom é àquele que trabalha ao domicílio e nós como licenciados é bom termos um espaço para criarmos emprego”, referiu. Por sua vez, Adilson Adriano quer casar e retomar a formação superior no próximo ano, devido ao facto de ter angariado algum dinheiro com a constituição de um pequeno negócio que, para ele, já dá lucros. “No próximo ano, pretendo realizar o meu matrimónio, viver no meu tecto próprio com a minha esposa e voltar à universidade e terminar”, planificou o estudante de gestão empresarial da Universidade Metodista. Cabo-verdianos anseiam por bens de primeira necessidade mais baratos Para o ano de 2023, os cabo-verdianos ouvidos pela RFI esperam que a guerra na Ucrânia acabe e que os preços dos bens de primeira necessidade possam baixar no país. O nosso correspondente Odair Santos faz-nos o relato. Com a taxa de inflação em Cabo Verde a atingir em Dezembro 8%, o valor mais alto dos últimos 25 anos, os cabo-verdianos ouvidos pela RFI esperam que, no próximo ano, haja menos impostos e que possam pagar muito menos pelos bens de primeira necessidade. “Temos a expectativa que a guerra (na Ucrânia) possa acabar em breve e a vida possa tornar melhor, no sentido que os preços dos produtos baixem para níveis comportáveis. Para os empresários espero melhorias para que possam compensar as perdas, tendo em conta que são os empresários que criem o emprego” disse o técnico parlamentar, Joaquim Gomes. O músico e empresário do setor marítimo e turístico, Valdemiro Ferreira,“Vlú”, espera que 2023 seja um ano de “menos impostos” porque “o governo que carrega a sociedade de impostos não é um bom governo e neste momento há muitos impostos” por isso, espera que sejam reduzidos em 2023. Por sua vez, a combatente da Liberdade da Pátria, Zezinha Chantre, que é fundadora da Organização das Mulheres de Cabo Verde, ouvida pela RFI, espera que 2023 traga muita saúde a todos os cabo-verdianos e conta escrever as suas memórias. “O meu dever é deixar alguma coisa escrita da minha trajectória de vida, tendo em conta que sou uma combatente da liberdade da Pátria, lutei pela independência de Cabo Verde e da Guiné-Bissau e é um dever que tenho de deixar no papel aquilo que vivenciei ao longo da minha trajetória, portanto penso concentrar o ano de 2023 a volta dessa escrita das memórias da Zezinha Chantre”, disse a combatente da Liberdade da Pátria, Josefina “Zezinha” Chantre. 2023 será ano de lutas para a afirmação dos direitos dos cidadãos na Guiné-Bissau Na Guiné-Bissau, as organizações da sociedade civil prevêem que 2023 seja um ano de lutas para a afirmação de direitos dos cidadãos. Enquanto isso, as autoridades políticas antevêem muitas realizações. Mussá Baldé tem mais informação. 2023 está a ser apontado pelas autoridades guineenses como ano de grandes realizações. Entre outras coisas, em Junho de 2023 estão previstas as eleições legislativas. Em Setembro, as celebrações dos 50 anos da independência nacional. As autoridades de Bissau contam ter até lá, a primeira autoestrada do país, um troço que liga Bissau à Safim, cerca de 14 quilómetros e ainda toda a zona do Bissau Velho, a zona antiga da capital guineense, totalmente remodelada. Neste momento, decorrem obras de requalificação do Bissau Velho, que passará a ter uma avenida do palácio da República ao porto de Pindjiguiti, estradas pavimentadas, passeios e praças recuperadas. Tudo isso é muito bonito, mas a Frente Social, que congrega os sindicatos do pessoal da Saúde e da Educação, avisa que se o Governo não olhar de facto para os trabalhadores, 2023 será ano de muitas greves. O aviso foi dado por Yoyo João Correia, porta-voz da Frente Social. “A nossa perspectiva é continuar a luta porque a nossa obrigação enquanto líderes sindicais é lutar pela melhoria das condições dos trabalhadores”, defendeu. Para as mulheres, 2022 não foi grande ano, devido ao aumento dos preços dos produtos da primeira necessidade. Foi o que disse Silvina Tavares, presidente da Plataforma Política das Mulheres da Guiné-Bissau. A responsável, espera, porém, que 2023 seja diferente neste e noutros aspectos, sobretudo no campo político com a presença de mais mulheres nas listas de candidatas a deputadas e ainda na luta contra a violência. “Perspectivamos para 2023 uma sensibilização contínua para os nossos citadinos e também para os nossos dirigentes. Os próprios dirigentes devem incutir nas suas mentes que a violência não é saudável para ninguém. Ninguém gosta e, se não se gosta, não se deve encorajar”, disse, em entrevista à RFI. Moçambicanos vêem exportação do gás natural liquefeito como esperança Em Moçambique, os cidadãos esperam que 2023 seja um ano melhor que o precedente e que a exportação do gás natural liquefeito da Bacia do Rovuma, na província de Cabo Delgado, se faça sentir na melhoria das condições de vida da população. A reportagem é do nosso correspondente Orfeu Lisboa. 2022 é um ano para esquecer, pelo menos assim assumem os munícipes nas ruas e avenidas da capital moçambicana. “Praticamente tudo subiu, o combustível, bens alimentares. Na verdade, foi um ano difícil para nós”. “Acabámos de sair da pandemia. Vamos ver no próximo ano o que vai acontecer com muita esperança”. Este sentimento de optimismo é quase generalizado e a pensar no novo ano já que o país entrou para a lista restrita de nações exportadoras do gás natural. “É um momento de se pensar no 2023 a trazer melhorias e não só para o 2023 atenção, devemos pensar também a longo prazo”. “Eu espero que as coisas melhorem, os governantes nesse caso olhem para nós, em vez de olharem só para eles, essas coisinhas”. “Mas vamos pedir para que o custo de vida seja bom em termos de preço de combustível, o transporte, o pão”. “Talvez não venha a mudar nada porque estamos a entrar no 2023 com essas subidas de preços por aí, então eu acho que não vai melhorar quase nada” Nas ruas e avenidas da capital moçambicana, a movimentação é considerável e de quem procura efectuar as últimas compras para a festa da transição, que para muitos será passada em família até porque o Instituto Nacional de Meteorologia prevê a queda de chuva em quase todo o país. São-tomenses esperam melhorias a nível social e económico Em São Tomé e Príncipe, os cidadãos esperam igualmente que o ano de 2023 seja um ano de mudanças positivas e de melhorias a nível social e económico. Maximino Carlos conta-nos tudo. Os são-tomenses contactados pela RFI auguram um ano melhor, diferente de 2022. Apesar do contexto difícil, pretendem melhorias económicas e maior entendimento. A maioria deseja mais emprego e estabilidade política. Em 2023, depositam esperança na maximização dos recursos internos para evitar a forte dependência externa do país. "Eu espero que no ano 2023 tudo corra melhor, que não haja dor como em 2022". "Espero grandes ludanças, juntamente com essa nova eleição, com este novo governo. Espero que haja melhoria porque existe uma grande massa de jovens a sair do país por causa da crise económica. Dizem que não há emprego". "O ano de 2023, quando entrar, que possa vir com fé, alegria. Que possamos delegar a Deus que tudo corra bem". "Espero que possamos ter mais trabalho, mais empenho. Que toda a gente consiga trabalhar, que consigam ter os seus negócios". "Desejo que, para o ano, apesar das medidas que anunciam que vêm aí, temos de ter esperança de que as coisas podem melhorar, com o esforço de todos nós. Devemos contribuir sempre, trabalhando, fazendo tudo o que estiver ao nosso alcance". A equipa da RFI Português deseja a todos os nossos ouvintes um excelente ano de 2023.
12/31/202213 minutes, 5 seconds
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Cabo Verde: combate à seca na ilha de Santo Antão

Para combater a seca, na ilha de Santo Antão, a Associação de Defesa do Património de Mértola –sediada em Portugal, que realiza projetos em Cabo Verde há mais de  20 anos, tem em curso desde março do ano passado na Ilha de Santo Antão, o Projecto Sistemas Agroflorestais.  Em Cabo Verde as secas cíclicas, as chuvas irregulares, a escassez do coberto vegetal, aliadas às condições geomorfológicas e uma enorme pressão humana sobre os recursos naturais, constituem as principais causas da desertificação, segundo o programa de Acção Nacional de Adaptação às Mudanças Climáticas. O Projecto Sistemas Agroflorestais é um programa que tem como principais objectivos reorientar a produção agrícola para sistemas de produção alimentar inteligente face ao clima, melhorar a qualidade de vida no meio rural, através do aumento da produtividade e rendimentos agrícolas; combater a desertificação, através de técnicas agroecológicas que aumentam a produção de alimentos, ao mesmo tempo que protegem o solo da erosão; regenerar áreas degradadas, com espécies com diferentes funções incluindo alimentação humana e animal. Jorge Revez, presidente da Associação de Defesa do Património de Mértola em conversa com a RFI, na localidade de Casa de Meio, no município do Porto Novo, em Santo Antão disse que o Projecto Sistemas Agroflorestais - Alternativa inteligente para o combate às alterações climáticas em  Santo Antão vem na sequência de outros projectos que a associação vem realizando com parceiros na ilha no sentido de desenvolver  atividades fundamentais que criem condições e dinâmicas para o desenvolvimento sustentável e para a subsistência alimentar  Ary Lopes, licenciado e mestre em Ecologia e Fisiologia Vegetal, que é técnico responsável pelo Projecto Sistemas Agroflorestais - Alternativa inteligente para o combate às alterações climáticas na Ilha de Santo Antão, afirma que foram introduzidas técnicas simples que estão a enriquecer o solo na zona de Casa de Meio, em Porto Novo. Os agricultores da Casa de Meio e dos planaltos Leste e Norte afirmam que as suas vidas e a das suas famílias estão a mudar com o Projecto Sistemas Agroflorestais./  Agricultor, João Lima, da zona de Casa de Meio O projecto sobre sistemas agroflorestais em Santo Antão, implementado pela Associação de Defesa do Património de Mértola, Portugal, é financiado pela União Europeia no quadro da iniciativa “Aliança Global de Combate às Alterações Climáticas + África do Oeste e vai ter continuidade por mais quatro anos, com o financiamento da União Europeia, como explica o presidente da Associação de Defesa do Património de Mértola, Jorge Revez O Projecto Sistemas Agroflorestais - Alternativa inteligente para o combate às alterações climáticas na Ilha de Santo Antão, por agora, continua nos três campos experimentais nas zonas de Casa do Meio, planaltos Leste e Norte.
12/15/202210 minutes, 47 seconds
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História da luta de libertação nacional dos PALOP

Os Países Africanos de Língua oficial Portuguesa (PALOP) vão elaborar a respectiva História da luta de libertação, numa iniciativa da Fundação Amílcar Cabral baseada em Cabo Verde. Investigadores dos PALOP (Países africanos de língua oficial portuguesa) vão elaborar a respectiva História da Luta de Libertação. Uma iniciativa que partiu da Fundação Amílcar Cabral e que conta com um grupo de historiadores, sociólogos e antropólogos africanos que já participou da segunda Reunião Metodológica das Comissões de Trabalho, que aconteceu, esta semana, na cidade da Praia. Em conversa com a RFI, o antigo primeiro-ministro e ex-presidente da República de Cabo Verde, o combatente da liberdade da Pátria e presidente da Fundação Amílcar Cabral, Pedro Pires, explicou que a proposta de elaborar a História da Luta de Libertação dos Países Africanos de Língua Portuguesa foi feita pela Fundação Amílcar Cabral. E isto tendo em conta o passado e a coordenação comuns da luta de libertação dos cinco Países Africanos de Língua Portuguesa. Primeiro com o Movimento Anti-Colonialista e, depois, com a Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas que coordenaram as lutas de libertação. E que, segundo Pedro Pires, deram resultado com as independências dos países, por isso, avançou com a proposta dos principais protagonistas dessa História narrarem, na primeira pessoa, os acontecimentos. O Presidente da Fundação Amílcar Cabral, Pedro Pires, disse que os trabalhos de investigação são feitos nos próprios países por equipas nacionais e as universidades vão ser envolvidas. Explicou que por razões de custo as equipas dos países mais próximos vão-se deslocar à Guiné-Conacri, Senegal, Tanzânia, Zâmbia, Congo Democrático, Congo Brazzaville, Argélia e a outros países que deram acolhimento à luta de libertação dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa para recolha de dados Conforme Pedro Pires, para além do Presidente angolano, João Lourenço, que deu um apoio em valores entre 500 mil euros e um milhão de euros para o início dos trabalhos de recolha de dados para elaboração da história da luta de libertação dos PALOP, o governo de Cabo Verde está também empenhado tendo já ajudado. Os promotores da iniciativa pretendem publicar três volumes da História sobre a Luta de Libertação Nacional dos PALOP, devendo o 1º abarcar o período que vai dos meados do séc. XIX aos meados do séc. XX. O 2.º dedicado à Luta Armada propriamente dita, nas suas vertentes clandestina, armada e diplomática e o 3º dedicado à história da Gestão das Zonas Libertadas pelos Movimentos que conduziram a Luta pela Independência dos cinco países africanos de Língua oficial portuguesa.
12/2/202210 minutes, 15 seconds
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"Petra, a pedra preciosa", o livro de poderes misteriosos que Marta Ferreira quer lançar em crioulo

Onde poderemos encontrar os poderes misteriosos que nos podem ajudar a ultrapassar medos, inseguranças ou desafios? A resposta pode não parecer simples, mas está ao alcance de todos. "Petra, a pedra preciosa" é o livro de Marta Ferreira onde, no fundo, cada um é convidado a descobrir o caminho para se superar. O conto, feito a pensar nas crianças, "aborda a superação dos medos, valorização de conquistas, mas acima de tudo lembra-nos que conseguimos atingir tudo a que nos propomos quando acreditamos em nós". Depois da edição em português, a autora acredita que o próximo passo é a edição da obra em crioulo de Cabo Verde. Numa pausa entre as apresentações do livro recentemente editado em Portugal (Flamingo Edições), a RFI falou com a autora Marta Ferreira e com o ilustrador Gledisy Trindade. Link de venda do livro Instagram autora Instagram ilustrador
11/20/20228 minutes, 39 seconds
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Cabo Verde: "Mulheres do Vale" apostadas em São Vicente na agricultura

A Associação Agropecuária do Calhau e Madeiral e o projecto independente Neve Insular promovem o programa "Mulheres do Vale”, em que mulheres residentes no vale da Ribeira de Calhau e Madeiral, na ilha de São Vicente, adquirem competências em agroecologia para o cultivo da fibra têxtil de algodão e outros para fins de desenvolvimento de peças de design e artísticos. A designer, Vanessa Monteiro da Neve Insular explica o projecto "Mulheres do Vale” que vem na sequência de outras acções desenvolvidas no Centro Agro-ecológico do Madeiral. A Associação Agropecuária do Calhau e Madeiral e o projecto independente Neve Insular promovem o programa "Mulheres do Vale”, em que mulheres residentes no vale da Ribeira de Calhau e Madeiral, na ilha de São Vicente, adquirem competências em agroecologia para o cultivo da fibra têxtil de algodão e outros para fins de desenvolvimento de peças de design e artísticos. A designer, Vanessa Monteiro da Neve Insular explica o projecto "Mulheres do Vale” que vem na sequência de outras acções desenvolvidas no Centro Agro-ecológico do Madeiral. Vanessa Monteiro disse que ter as mulheres na agricultura é uma forma das mulheres do meio rural terem rendimento. Já o  presidente da Associação Agropecuária do Calhau e Madeiral, no interior da ilha de São Vicente, Ederley Rodrigues, garante que a ong quer ver mais mulheres na agricultura e o casamento com o projeto independente Neve Insular está a dar certo. No Centro Agro-ecológico do Madeiral, no interior da ilha de São Vicente, conversámos com Jesuína Vaz e Meladine Delgado, duas mulheres que participaram da acção de capacitação em agroecologia financiada pelo Instituto Camões – Cooperação portuguesa e que após a conclusão da formação estão a trabalhar na agricultura, Meladine Delgado começou por explicar as capacidades adquiridas. No centro da cidade do Mindelo, também na ilha de São Vicente, conversámos com Dalila Fortes, uma jovem-mulher do Madeiral, mas agora a viver e a trabalhar no centro de Mindelo disse que a foi fazer a formação por curiosidade. Tanto Ederley Rodrigues, presidente da Associação Agropecuária do Calhau e Madeiral, como Vanessa Monteiro do projecto independente Neve Insular garantem que a parceria entre as duas instituições é para continuar apostando nas mulheres na agricultura com o projecto “Mulheres do Vale”. A Associação Agropecuária do Calhau e Madeiral e o projecto Neve Insular uma parceria que segundo os seus responsáveis está a dar certo e tudo para continuar com o projecto “Mulheres do Vale” que aposta em mulheres na agricultura.
11/11/202211 minutes, 20 seconds
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São Tomé e Príncipe apostado em candidatura a classificação da UNESCO

De uma cultura  diversificada, São Tomé e Príncipe é um mosaico rico, com fortes potencialidades para obtenção do  estatuto de património cultural mundial. Para além  da presença de portugueses, estas ilhas do  Equador  já  foram  nos  séculos anteriores uma possessão de franceses, ingleses e holandeses . São Tomé e Príncipe serviu de mercado de escravos para o  continente  americano, particularmente  o  Brasil. Foi  também  um  local de  captura da  baleia pelos ocidentais orientais e  um grande produtor  da  cana de cana  de açúcar  no século  XV. A estrutura geológica das ilhas propicia a existência de uma  variedade de plantas endémicas com um forte  potencial medicinal e cuja pesquisa tem sido feita pela UNESCO. Por  isso,o parque natural-Obô e as roças compõem a primeira lista indicativa do património cultural e natural do país junto da UNESCO.   Algumas roças como Água –Izé, ao  sul da ilha  de  São Tomé,  e Monte Café, ao norte da ilha do mesmo nome, foram identificadas como património cultural pela  convergência dos seus  valores históricos, económicos e arquitectónicos. O parque natural Obô de São Tomé e a Reserva da Biosfera do Príncipe, foram definidos como património natural a ser submetido à UNESCO, por conservarem e darem vida a uma rica e singular biodiversidade mundial,como  refere o Director da Cultura, Guilherme  Carvalho. Roça Sundy, na ilha do Príncipe, onde foi comprovada a teoria da relatividade, e a Roça Água Izé na ilha de São Tomé foram as primeiras que receberam a cultura do cacau no século XIX. As duas foram seleccionadas, assim como a Roça Monte Café em São Tomé, que foi o epicentro da cultura do café (Introduzida no século XVIII).   As  referidas  roças  têm uma arquitectura colonial singular, numa  mistura  de  pessoas  provenientes  de  Angola, Cabo-Verde e  Moçambique, mão-de-obra  mobilizada na  altura  para as plantações  de  cacau  e café. O  trabalho em  São  Tomé  e  Príncipe está  a ser  coordenado  por  Sónia  Carvalho, ponto  focal  da  UNESCO. O parque natural de São Tomé e a Reserva da Biosfera da ilha do Príncipe conservam biodiversidade única do arquipélago e do mundo.  São Tomé e Príncipe faz parte de um número restrito de países africanos que não está inscrito na lista indicativa de patrimónios culturais e naturais da UNESCO.   Segundo Albino Jopela, outras roças de São Tomé e Príncipe, nomeadamente a Roça Agostinho Neto, antiga Rio do Ouro, que  foi  um  grande  produtor  de  cacau  no século  15, deverão ser submetidas no futuro a lista indicativa de património da UNESCO. Isso  naturalmente depende do trabalho contínuo de investigação que deverá ser feito pelos técnicos nacionais. A submissão dos sítios agora identificados à UNESCO, abrir linhas de financiamento para a restauração dos patrimônios em fase de degradação. É pela  primeira vez que São Tomé e Príncipe vai submeter à UNESCO três roças e o parque natural Obô como patrimónios natural e cultural da humanidade. Todos os sítios, chaves para a identificação cultural e do potencial da Biodiversidade, bem como outros potenciais sítios críticos para a conservação a nível nacional,  serão  objectos  de  análise científica, para actualização da  base de dados mundial de áreas  importantes para a UNESCO.
11/11/20227 minutes, 10 seconds
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Angola: Comunidades lançam pedido de socorro para combater alterações climáticas

A COP-27 decorre desde domingo, 6 de Novembro, na cidade egípcia de Sharm-El-Sheikh e conta com a participação de 190 países. Angola está representada pela vice-presidente da República, Esperança da Costa.  Até dia 18 de Novembro está prevista a criação de novos mecanismos para atenuar os impactos das mudanças climáticas. Um dos impactos mais significativos das alterações climáticas é a seca, que afecta o sul do continente africano, onde se estima que 45 milhões de pessoas vivam sob ameaça de fome. É o caso de Angola, Malawi, Moçambique, Madagáscar e Namíbia, aponta a organização não-governamental, Oxfam. Cecília Gregória Augusto é coordenadora da Associação Construindo Comunidades (ACC), que actua nas províncias da Huíla e Cunene, trabalha junto das comunidades e lembra que com "a independencia de Angola, em 1975, as comunidades puderam regressar para as suas terras, mas com as alterações climáticas, estas comunidades vivem novas formas de privação de liberdade". A seca atinge seis das 18 províncias angolanas, como é o caso da província da Huíla, onde a RFI foi conhecer o grupo étnico minoritária Mucubal que vive na aldeia do Fimo, na comuna do Chainge do município dos Gambos. Cecília Gregória Augusto descreve os limites de acesso para prestar assistência humanitária às comunidades e queixa-se da falta de meios. Outra das províncias afectadas pela seca severa é o Namibe. No município de Moçâmedes encontrámos Lurdes Maria, vendedora de peixe, que nos conta as dificuldades do trabalho diário. "O meu negócio é comprar peixe. Tenho de os ir buscar, carregar o peixe para os autocarros, metemos sal e deixamos na banheira durante dois dias. Temos muito trabalho, compramos o peixe muito caro e o lucro é muito baixo, que varia entre os quatro e seis euros semanais", descreve. De acordo com dados oficiais, quatro em cada dez angolanos vivem em pobreza extrema. No sul de Angola, a Associação Construindo Comunidades teme que o problema seja pior, sobretudo nas zonais rurais, onde se estima que mais de 87% dos habitantes vivam em situação de fragilidade.
11/8/202210 minutes, 8 seconds
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Licínio Azevedo, o realizador que coloca Moçambique nos ecrãs do Mundo

Licínio Azevedo é um realizador cujo nome que se confunde com a origem do cinema moçambicano. Licínio Azevedo chegou a Moçambique a convite do realizador Ruy Guerra quando o país ainda dava os primeiros passos como nação independente. O realizador construiu um percurso que se consolidou lado a lado com a história do país onde escolheu viver. O gaúcho que foi jornalista no período em que a ditadura militar brasileira fazia a censura impedir a divulgação de notícias sobre os movimentos independentistas em África, decidiu atravessar o Atlântico quando os PALOP (Países africanos de língua oficial portuguesa) conquistaram a independência. Depois de uma passagem pela Guiné-Bissau, Licínio Azevedo chega a Moçambique para escrever documentários do Instituto Nacional de Cinema, criado pelo Presidente Samora Machel. Foi um período em que Moçambique atraiu realizadores como Jean-Luc Godard e Jean Rouch, e as unidades móveis do Instituo Nacional de Cinema percorriam o país para exibir o cinejornal Kuxa Kanema. O realizador de "Comboio de Sal e Açúcar", o primeiro filme moçambicano a candidatar-se a um Óscar na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, esteve recentemente em Portugal para apresentar a mais recente realização cinematográfica, Nhinguitimo, no Festival DocLisboa. A RFI aproveitou a ocasião para falar com Licínio Azevedo. O realizador começa por nos falar do período de jornalista durante a ditadura militar no Brasil, lembra o tempo do Instituto Nacional de Cinema em Moçambique, a importância do cinema na unidade moçambicana e o surgimento das produtoras independentes no país, e acaba por nos revelar os projectos que pretende realizar.
11/4/202226 minutes, 27 seconds
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Cabo Verde avança com Universidade Sénior

Está criada a Universidade Sénior de Cabo Verde: uma instituição concebida para envolver pessoas com idade igual ou superior aos 50 anos e que queiram ter uma vida activa. Um projecto que a RFI foi conhecer. A Universidade Sénior de Cabo Verde foi criada por um grupo de cidadãos seniores, que serviu o país durante todos esses anos depois da independência e que entrou na reforma, se juntou em torno de uma mesma ideia: promover um envelhecimento activo e, segundo os fundadores de Universidade Sénior de Cabo Verde para responder, de alguma forma, à marginalização que muitas pessoas idosas sofrem.  Designada de Uni-Sénior, a instituição propõe mobilizar pessoas com idade igual ou superior a cinquenta anos para participarem em atividades académicas, lúdicas e de cidadania, como forma de ocuparem os seus tempos livres de forma saudável. Em conversa com a RFI, na cidade do Mindelo, a professora Elisa Silva, Doutora em Ciências da Educação com  Especialização em Tecnologia Educativa, responsável da comissão dinamizadora da Uni-Sénior em São Vicente explicou as razões da criação da  Universidade Sénior de Cabo Verde Para além das acções formativas que serão desenvolvidas em parceria com outras instituições nacionais e internacionais, os membros da  Universidade Sénior de Cabo Verde devem participar de actividades lúdicas e de bem-estar para terem uma vida saudável A responsável da comissão dinamizadora da Uni-Sénior em São Vicente, Elisa Silva, que conversou com a RFI, a margem de encontro de socialização da Uni-Sério, disse que a instituição quer ter uma intervenção cívica activa na sociedade com a promoção de encontros de troca de experiências entre gerações A Universidade Sénior de Cabo Verde lembra que com os os avanços da ciência e da tecnologia e o maior acesso das pessoas à educação e à saúde com impacto considerável na melhoria da  qualidade e aumento da esperança de vida, em Cabo Verde e no mundo, por isso, todos os maiores de 60 anos de idade devem ter uma vida ativa, daí o apelo da responsável da comissão dinamizadora da Uni-Sénior em São Vicente, Elisa Silva para adesão à instituição Em Cabo Verde, a população com 60 anos ou mais representa 7.6% do total da população residente e estima-se que em 2030 chegará a 12 por cento. Em 2020, a esperança de vida à nascença era de 74 anos
11/4/202210 minutes, 14 seconds
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José Maria Neves: "As crises que vivemos podem ser uma oportunidade para África"

O presidente cabo-verdiano, José Maria Neves, discursou esta segunda-feira, 24 de Outubro, na cerimónia de abertura da 8ª edição do Fórum Internacional de Dacar sobre Paz e Segurança em África. O chefe de Estado cabo-verdiano lembrou que as crises que o mundo vive "podem ser uma oportunidade para África". RFI: A África lusófona é convidada de honra nesta 8ª edição do Fórum Internacional de Dacar. Por que motivo? José Maria Neves: Para nós, Cabo Verde, enquanto pequeno Estado insular em desenvolvimento, a presença aqui é estratégica. Não temos problemas de instabilidade. Cabo Verde sempre foi um país muito estável e um país que se tem afirmado, se tem desenvolvido e hoje é um país de rendimento médio. É um país onde as instituições funcionam e de boa governação. De todo modo, nós somos um participante activo no processo da construção da paz e da estabilidade a nível do continente africano. Queremos um continente de paz e de estabilidade para poder desenvolver-se e resolver os principais problemas que existem no continente. Aquando da abertura deste fórum, no seu discurso, disse querer devolver o sorriso a todos os africanos e africanas. Qual é o desafio de Cabo Verde? Disse isso porque queremos representar uma outra África, um África positiva, uma África com ambição e que quer desenvolver-se para devolver o sorriso a todos os africanos. Nós pensamos que tendo em conta os recursos de África, as capacidades existentes na África, todos os talentos, a imensa diáspora do continente é possível mobilizar tudo isto e por ao serviço do desenvolvimento. Se tivermos uma África mais moderna, mais próspera, mais forte, mais inclusiva será possível ter mais paz e estabilidade, e consequentemente muito mais desenvolvimento. Quais são as estratégias para conseguir esse fim, numa altura em que o mundo está a braços com vários conflitos armados, não só no continente africano, mas na Europa. Vivemos uma escassez de energia, de cereais. Cabo Verde já sente estes efeitos? Já estamos a sentir, sim. Há um aumento muito grande da inflação, o custo de vida está a aumentar. A pandemia trouxe mais pobreza, muito mais desigualdades, mais desemprego e veio a guerra na Ucrânia, com todos os seus impactos económicos, particularmente, a nível da inflação. Nós importamos cerca de 80% de cereais e também a nível da energia. O que eu acho é que esta crise pode ser uma  grande oportunidade para África. Em que sentido? África não pode continuar a ser um muro de lamentações ou um continente marginal. Temos de aproveitar para fazer investimentos que são necessários para revolucionar a agricultura, por exemplo, para revolucionar a pecuária e a indústria agro-alimentar no continente africano. Para fazer a transição energética porque há enormes capacidades para produção de energia eólica e solar, para produção de hidrogénios verde. Há enormes possibilidades hidráulicas para produção de energia e temos de aproveitar desta crise para fazer a transição digital e para industrializar o continente, para infra-estruturar. Não podemos continuar como estamos. Há recurso e haverá, com certeza, desde que a África faça a mobilização de recursos financeiros que são necessários em África e fora do continente africano, estabelecendo as parcerias, ter agressividade suficiente para mobilizar todas as capacidades humanas na África e sua diáspora, para criar instituições económicas e políticas. O continente pode também dar o salto se tiver uma boa governança volta para resultados e para a dignidade da pessoa humana. Sobre a política interna do país, a questão das ligações aéreas para as ilhas de Santo Antão e Brava, em que estado se encontra, uma vez que o senhor Presidente falou na possibilidade de se construir um aeroporto ou um porto? Há dificuldades evidentes no plano nacional em relação aos transportes aéreos interilhas. O governo está a estudar o processo de construção do novo aeroporto em Santo Antão. Na Brava é mais difícil, mas estão a ser criadas as condições para melhorar todo o sistema dos transportes marítimos e aéreos.  A ilha da Brava tem um aeroporto, construído há muitos anos... Sim, tem um aeroporto, mas não funciona por razões de segurança. A ilha Brava é servida somente com transportes marítimos. Que olhar tem sobre o êxodos de mão de obra cabo-verdiana, nomeadamente, para o turismo algarvio? A mobilidade de mão-de-obra é natura neste mundo de hoje, desde que seja uma mobilidade regulada e que não cause transtornos e graves constrangimentos ao funcionamento do tecido produtivo cabo-verdiano. O cabo-verdiano, desde sempre,  andou pelos quatro cantos do mundo e vai continuar a andar. Pode fazer isso desde que queria procurar novas oportunidades, fazer novos voos e estamos a criar as condições internas para regular esse fluxo, de modo a não prejudicar a economia cabo-verdiana.
10/25/20227 minutes, 19 seconds